sábado, 2 de janeiro de 2010

A praxis politiqueira

Na minha Terra, regra geral, a praxis politiqueira orienta a sua axiologia valorativa primando pelo adiável aqueduto entupido, pela poça seca, pelo saco de cimento endurecido, pela lâmpada pública no meio das ramagens dos carvalhos, pela cana de regadio, pelo rachão para a calçada à portuguesa estendido a favor até à casa de alguém… Obras honoríficas merecedoras da aprovação popular, bem capazes de maravilhar tapuios!... Não será bem melhor preferirmos estes e outros “remendos” para evitarmos a desmoralização da populaça e o descrédito absoluto de toda a nossa politiquice?!
Se organizássemos toda a nossa comunidade politiqueira numa pirâmide teríamos na base, por serem a esmagadora maioria, os politiqueiros que entram nas reuniões políticas mudos e saem silenciosos. Estes são os verdadeiros “animais políticos” que ninguém ousa calar porque estão sempre calados!
Logo a seguir, e num estrato mais acima, mas em menor número, encontraríamos os tartamudos que ambicionam ser como Demóstenes um gago que se tornou orador. Estes tardíloquos dão encantamento aos discursos políticos monossilábicos, “solavancados”, longos e enigmáticos.
Depois dos tartamudos, encontraríamos, ainda num estrato mais acima, mas em número muito reduzido os semi-analfabetos. Ser analfabeto não deve envergonhar ninguém, mas ser politiqueiro e semi-analfabeto, com erros de ortografia no próprio nome, não é crime que “lesa majestade”, mas dá que reflectir!
Finalmente, no topo desta imponente “pirâmide egipciana”, temos aqueles que intelectualizam os seus argumentos politicastros sorvendo infindáveis malgas de verdasco ensopadas em bolinhos de bacalhau numa taberna qualquer. Estes são os mais singulares e os mais importantes de toda a hierarquia politiqueira da nossa Terra. Exemplares únicos para a falta de transparência e para a insuspeição. Adversos à ataraxia, sentem prazer extraordinário em afogar, ao balcão da tasca, as derrapagens financeiras e todos os contratempos políticos. Entre os carimbos de vermelho-escuro do tinto escorrido da malga esbocelada e que se presume não ser a martelo preparam, com mais pinga menos pinga, as grandes linhas programáticas da acção governativa politiqueira. Com muitas malgas à mistura, vão delineando as grandes opções do plano
Observe-se a sensatez do pensamento e actuação prudente dos verdadeiros politiqueiros. Em nome da coerência, de manhã, afirmam uma coisa, à tarde, para não se repetirem, afirmam outra!
Tão crédulos e ingénuos que todos nós somos, meu Deus!!!
Como é possível?!
Texto publicado neste blogue.

Sem comentários: