terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Dr. João Antunes: que é feito de si?

O Dr. João Antunes é uma personalidade sobejamente conhecida de todos os terrabourenses. Detentor de um currículo invejável, este homem de grande credibilidade, respeito, talento, inteligência e generosidade foi Vereador da Câmara Municipal de Braga, Presidente da Assembleia Municipal de Terras de Bouro e da Comissão Concelhia do PSD local. Foi, também, Coordenador da Área Educativa de Braga durante mais de 6 anos e, ainda, Presidente do Conselho Directivo da Escola André Soares durante mais de uma década. E mesmo nos períodos mais conturbados, pós 25 de Abril, este honroso terrabourense, com a sua serenidade e trabalho, conseguiu dirigir sem sobressaltos a Escola André Soares. Hoje, reformado, continua muito interessado pelo seu concelho e a merecer a estima, a admiração e a consideração de todos nós.

Aos 70 anos, o Dr. João Antunes, verdadeiro “gentlemen”, mantém o toque de classe que todos nós lhe conhecemos. Actualmente, está reformado e vive dividido entre Terras de Bouro e Braga. Para repousar e para reunir a família, passa a maior parte do seu tempo na “Casa da Cerca”, em Chamoim, principalmente durante o Verão e aos fins-de-semana. Deste modo, mantém aqui as suas raízes e procura fazer com que os filhos e os seus netos sintam também essas raízes. Gosta de viajar e procura fazer, pelo menos, uma viagem por ano.
Ainda antes do 25 de Abril esteve no Ultramar em Angola, juntamente com a esposa. Em Sá da Bandeira (actual cidade do Lubango) e Salazar (actual Ndalatando) foi professor e esteve quase sempre ligado a direcções de escolas industriais e comerciais. Em Angola, nasceram dois dos seus filhos, mas logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 regressou a Portugal, no final do ano lectivo. Para o Dr. João Antunes, Portugal não acautelou a descolonização que era inevitável. Afirma à reportagem do jornal o “Geresão” que quem lá vivia sabia que descolonizar era uma necessidade. Contudo, esta foi mal feita porque resultou num abandono de pessoas, de bens e de História.
Hoje, não pensa visitar Angola porque tem receio de ficar chocado. Sublinha que conheceu este país irmão num período de grande expansão e prosperidade. Mesmo com a guerra colonial o desenvolvimento era possível. Está informado de que Angola está, actualmente, em grande crescimento.
Durante mais de seis anos, foi Coordenador da Área Educativa de Braga. Em sua opinião, a criação das Coordenações teve por princípio trazer o poder de decisão para mais perto das Escolas. Foi uma espécie de “Regionalização do Ensino”. De facto, antes do aparecimento das Coordenações, as Delegações só tratavam, praticamente, dos concursos e das colocações de professores. A delegação de competências nas Coordenações permitiu intervir e apoiar as Escolas do distrito de Braga em variadíssimas áreas. Nessa altura, a Direcção Regional de Educação era um poder que estava entre o Ministério e as Escolas, mas funcionava, muitas vezes, como um “travão” porque complicava. Com a Coordenação de Área Educativa, a ligação podia vir directamente do Ministério da Educação o que melhorou, significativamente, a comunicação. Sublinha que “quanto maior é a estrutura, maior é o ruído e a cadeia de comando é mal interpretada e, muitas vezes, burilada”.
Relativamente ao modelo de gestão das escolas defende o actual. Advoga o modelo do director, mas não o do ditador. Sempre defendeu este modelo porque cresceu dentro dos modelos do director e do reitor e reconhece-lhe aspectos muito positivos.
Conhecedor profundo dos jovens e da Educação, apresentou-nos a sua visão sobre estas temáticas. Para ele, a juventude será sempre, independentemente da época, irreverente e a Educação actual é muito diferente de há umas décadas atrás. Actualmente, o jovem tem mais liberdade, mas a postura contestatária sempre fez parte da essência da juventude. Contudo, considera que as estruturas estão desajustadas e não acompanharam o ritmo educacional dos nossos jovens. O País não se preparou da melhor forma para responder à massificação do Ensino e, em sua opinião, a perda de valores é um problema bem maior do que os problemas económicos.
Como é oriundo do ensino técnico considera-o a melhor forma de Ensino porque os jovens saíam das escolas industriais e comerciais com uma sólida formação. Os denominados quadros médios, desde que sejam competentes, fazem muita falta. Não se pode viver num País com pouca escolarização ou com excesso de licenciados. Mas não tem havido um fio condutor nos diversos Ministérios da Educação e os ministros alteram, constantemente, as políticas da Educação.
Nos dias de hoje, o modelo das estruturas está condicionado pelos resultados, mas o País não precisa do facilitismo. Obviamente que a preocupação das estatísticas não pode conduzir à eficácia.
Considera os nossos Programas Escolares muito teóricos, elitistas e desajustados da realidade actual. Hoje, temos de formar cidadãos com formação escolar e não elites. Afirma que a eficácia do Ensino vê-se quando saírem “as levas”. Aí é que se verá se os dezanoves ou os vintes estão a modificar o País. Mas parece-lhe que não. Pensa que “é certamente mais fácil construir um menino do que consertar um homem”.
No que concerne à divisão administrativa da carreira docente, considera-a um absurdo total porque foi feita uma perspectiva economicista tendo o governo “arranjado esta roupagem”. Relativamente à nova ministra da Educação tem esperança de que não entrará em colisão com a classe docente. Além de ser uma escritora sensível, manifesta carinho pelas crianças, pelos professores e pelas Escolas. A arrogância com esta ministra parece-lhe que acabou definitivamente.
Entretanto mantém-se preocupado com a desertificação do nosso concelho. Sabe que não há fórmulas mágicas para a contrariar, mas podem surgir medidas que a prazo possam parar o êxodo. Criando-se empregos, por exemplo, ou dando-se facilidades na construção de casas poder-se-á alterar a desertificação. Para isso, é necessário melhorar o PDM para que os terrabourenses não vão construir as suas casas para outros sítios. Sempre que isso se verifica o resultado é termos cada vez menos famílias.
Terras de Bouro é uma terra maravilhosa porque temos a Natureza e tudo o que há ainda bom Terras de Bouro tem.
Afirma que as barragens são um benefício para o nosso País. “Temos as barragens e até há bem pouco tempo o concelho produzia energia eléctrica e não a tinha em algumas das suas povoações.” Contesta as políticas dos diversos governos centrais que nem sempre beneficiaram a nossa terra. Acrescenta que “o Parque Peneda-Gerês é mais um organismo a criar obstáculos. É sempre preciso obter o parecer do Parque para se fazer o que quer que seja.” Considera o Parque fantástico e garante que “a população local sempre viu com muito carinho os carvalhos centenários e que a nossa população sempre foi favorável à preservação destas e doutras árvores autóctones.” Por isso, no seu entender “não é necessário formar os terrabourenses para a preservação das suas paisagens” esclarece.
Salienta que as plantações feitas no nosso concelho são muito úteis, mas quando foram feitas alteraram profundamente a vida dos povos que aqui viviam. Estes ficaram sem contrapartidas e, também, sem a pastorícia. A população de Terras de Bouro foi muito prejudicada nos seus valores, usos e tradições. “Mesmo assim o nosso povo foi criado nesta rudeza e pobreza, mas ganhou formas próprias.” Enaltece que somos gente educada, estruturada e boa que tem sido muito sacrificada ao longo dos séculos e que os investimentos nacionais aqui feitos deviam compensar a economia local, mas isso nunca aconteceu.”
Entretanto, o Dr. João Antunes vê o futuro com optimismo. Afiança que esta crise não será eterna e aconselha os responsáveis políticos a saber gerir muito bem os dinheiros públicos investindo-os em obras que tragam retorno.
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Dezembro de 2009.

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