A nossa “Praça de Espectáculos” não é uma praça vulgar, faz-me lembrar uma praça nobilitaria própria de um palaxique. Este ex-libris da vila de Moimenta não foi projectado nem por neuropatas, nem por alienados ou doidivanas, muito menos por palonços. É uma praça bem pensada “à boa maneira portuguesa” porque a Câmara fez e, recentemente, a Junta desfez!
A nossa “Praça de Espectáculos” também não pode ser considerada uma praça surrealista. É simplesmente a nossa nomenclada “Praça Sony”! Não é pimponice nossa! Não é uma praceta qualquer, é a nossa “Praça Sony” um verdadeiro repto à praça da Expo. Nós, em Terras de Bouro, também sabemos fazer praças e temos direito a sonhar. “O sonho comanda a vida!”
Deixemo-nos de modesta provinciana e bacoca e analisemos a magnificência da nossa praça. É uma verdadeira obra imponente e sumptuosa comparável com o coliseu de Roma, o maior de todos os anfiteatros romanos, mandado construir pelo Imperador Vespasiano, no primeiro século logo após o nascimento de Cristo. À nossa praça faltam-lhe, entre outras coisas, as escadas de mármore! No futuro, se Deus quiser e nós também, tê-las-emos…
Sentemo-nos no palco e comecemos, tal como Camões, a descrever o que podemos “ver claramente visto” quando percepcionamos a nossa majestosa e olímpica “Praça Sony”. Junto ao palco temos as únicas casas de banho públicas desta vila, mas que estão sempre “fechadas a sete chaves”. Deve ser por falta de pessoal! Ou não se faz e fica-se “apertadinho” ou faz-se pelos cantos!
Bem no centro da praça e porque no centro “está a virtude” preluz uma praça-forte multicolor destinada a ser dominada pela pequenada da Nossa Terra que também tem direito a brincar! Numa tabuleta podemos ver o símbolo heráldico da freguesia, obviamente, obra da Junta de Moimenta. Falta-lhe, quem sabe, uma frase lapidar para ficar para a posteridade, se lá chegarem a tabuleta e o parque infantil!
A maior parte dos utilizadores do Parque Infantil utilizá-lo-ão com muita algazarra, excitação, imaginação e fantasia. Mas como a nossa criançada ainda está no estádio pré-lógico não questionará ninguém sobre a superfície ocupada pelo tapete chocolate onde já abundam coladas pastilhas elásticas e onde, também, os adultos já semearam algumas priscas. Este tapete sintético foi estendido no lugar onde existia anteriormente um lago feita em pedra lavrada que tinha chafarizes que nunca “botaram” água! Que ironia! Somos de Terras de Bouro, de terras de água, e o lago esteve sempre sem gota, “sequinho da silva”! E “para não se meter mais água” fizeram desaparecer dali “o lago magrebino” construído com o erário público! Onde passou o nosso lago seco, vítima da seca prolongada! Onde está essa obra de alvenaria? Qual será o seu futuro?
Esfumou-se! Mais pedra menos pedra, dirão alguns! Mais cêntimo menos cêntimo, dirão outros em tom lacónico! “Que mesquenhice”, dirão os verdadeiros defensores do interesse público!
Relacionemos o Parque Infantil com o astro rei. Esqueceram-se do sol que esturrará as nossas crianças no Verão! Ou será que se pode plantar árvores entre o Parque Infantil e o palco? Pronto: no Verão não se brinca! Ou se brinca de manhã ou à tardinha!
Continuemos a nossa observação desta praça. À nossa esquerda estão quatro toldos encolhidos que só se “espreguiçam” de quinze em quinze dias. Mais abaixo está fechado um contentor branco que foi destinado também para a venda de peixe, mas serve unicamente para guardar as caixas e as canastras vazias do peixeiro que se recusa a vender nesse local. Deve estar à espera do Mercado Municipal! Logo a seguir, está a casa da falecida Rosa da Elvira com a porta de azul descascado escancarada acolhendo, entre outros, “polícias”, garrafas vazias, plásticos. Um paradeiro paradisíaco para as ratazanas e para as moscas!
Se olharmos em frente, bem para o fundo, lobrigámos uma praça mascarrada. Debaixo dos plátanos, à esquerda, temos vulgarmente uma massagada. Um verdadeiro ferro-velho! Mais um colchão! Mais um frigorífico sem abrigo! Mais um rádio esventrado! Mais um fogão sem chama! Mais um televisor! Mais uma máquina de lavar! Mais e mais objectos sabe-se lá de quê! Uma verdadeira sucata! Ali, jazem, às vezes, dias a fio, as pechinchas que ninguém quer! É este vulgarmente o cenário dantesco , bem capaz de abria a boca a um macumã!
Continuando a nossa observação podemos verificar que debaixo dos plátanos, bem à nossa frente, costumam estar parados os camiões do lixo, também o reboque-cisterna do tractor e outros pertences da Câmara Municipal. No último Verão, os camiões do lixo preguicentos ou tostavam ao sol durante o dia ou estavam à sombra dos plátanos exalando um cheiro nauseabundo. Dos transeuntes, principalmente os que utilizavam o parque de estacionamento, só não foram incomodados os que sofriam de parosmia!
Na nossa praça podemos ver que algumas pedras se descolaram. A culpa é da cola e não se colam por falta de cola ou de pessoal! São as esquinas das rampas esmagadas por aselhice ou negligência de algum motorista que não foi responsabilizado!
Perdoem-me a expressão, mas apetece-me desabafar e dizer que temos uma “praça maniqueísta”: de um lado, está o palco onde já fomos embalados, num verdadeiro hino à música portuguesa, por cantores como Mafalda Veiga ou Pedro Barroso; do lado oposto, temos o mistifório: o ferro-velho e os camiões do lixo que deviam estar bem escondidos, na periferia da nossa vila. Mas que mau gosto e que falta de sentido estético!
Será esta a “Praça Sony” que todos nós, garbosamente, queremos mostrar a quem nos visita?
Certamente que não! Acabemos de uma vez por todas com esta miscelândia, para que não nos acusem de acefalismo.
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Novembro de 2005.
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