Ser socorrista significa trabalhar ou desempenhar uma função sem intuito de retribuição financeira ou outra. Também significa estar sempre disponível para todas as tarefas que lhe são propostas ou confiadas. É neste contexto que o nosso entrevistado se integra. O espírito de entreajuda, a solidariedade, o altruísmo e o labor desinteressado constituem os valores por excelência do Coordenador da Delegação da Cruz Vermelha de Terras de Bouro.
Em 1985, Manuel António de Sousa Faria aderiu como voluntário à Cruz Vermelha de Terras de Bouro, tendo integrado a segunda incorporação recebendo formação num grupo constituído por 12 ou 13 recrutas. Nessa altura, o Núcleo da Cruz Vermelha de Terras de Bouro estava a dar os seus primeiros passos. Era comandado por Francisco José Machado de Sousa, primeiro comandante, infelizmente, já falecido. Nessa época, o núcleo contava, apenas, com 12 socorristas formados na primeira escola.
Em 1985, Manuel António de Sousa Faria aderiu como voluntário à Cruz Vermelha de Terras de Bouro, tendo integrado a segunda incorporação recebendo formação num grupo constituído por 12 ou 13 recrutas. Nessa altura, o Núcleo da Cruz Vermelha de Terras de Bouro estava a dar os seus primeiros passos. Era comandado por Francisco José Machado de Sousa, primeiro comandante, infelizmente, já falecido. Nessa época, o núcleo contava, apenas, com 12 socorristas formados na primeira escola.
Em 1994, Manuel António de Sousa Faria, por ser o mais graduado, tornou-se o terceiro comandante do Núcleo Local da Cruz Vermelha e passou a ser o responsável pelos serviços activos, ambulâncias, instrução, exercícios, ou seja, pelo corpo activo dos voluntários.
Na família do comandante Faria todos são socorristas: a esposa, o filho, a filha e a nora.
Voluntário de corpo e alma, assim como toda a família, nunca esperou da Cruz Vermelha qualquer contrapartida, dando conjuntamente com a família o seu melhor para proteger a vida e a saúde de todos os terrabourenses e não só.
Ao longo destes anos, foram muitas as noites mal dormidas e teve, muitas vezes, de pôr dinheiro do seu bolso para, entre outras despesas, suportar deslocações e telefonemas. A esta opção de vida acrescem, ainda, as privações que a família teve de suportar para que a Cruz Vermelha de Terras de Bouro não tivesse percalços de funcionamento. Com um sorriso no rosto, a serenidade e a simplicidade que todos nós lhe reconhecemos afirmou à reportagem de “O Geresão” que “o comandante é o bombeiro da Cruz Vermelha porque quando alguém falha ou falta avança de imediato o comandante”.
Actualmente, está de serviço das 24 horas às 8 horas da manhã, excepto às quartas e às segundas-feiras. Ainda faz escalas às terças-feiras, às vezes, aos sábados e aos domingos. Aos 67 anos o nosso valoroso comandante não desanima. Tem consciência de que são muitas horas de serviço, mas continua firme no seu posto.
O comandante Faria já recebeu as medalhas de mérito da Cruz Vermelha. Conta já com a de bronze, a de prata e a de ouro por comportamento exemplar. O facto de estar aposentado deu-lhe, ainda, mais tempo para prestar mais apoio à Cruz Vermelha local.
A Cruz Vermelha de Terras de Bouro é uma das 186 delegações nacionais e conta, actualmente, com muitos socorristas jovens, mas necessita de mais voluntários.
Para além da falta de recursos humanos, o comandante Faria preocupa-se continuamente, também, com a escassez de dinheiro. A falta de recursos financeiros vai sendo contornada com peditórios, com rifas e com a ajuda da Autarquia que costuma suportar um terço do custo de cada ambulância. “Os apoios são poucos, o meio é pobre. Sem grandes comércios e sem indústria torna-se difícil encontrar patrocínios. Às vezes, as pessoas perguntam-nos para que querem o dinheiro se vocês não ganham? Esquecem-se das nossas despesas! Não se lembram de que temos de pagar, entre outros, telefone, luz, pneus, gasóleo. Acresce, ainda, a manutenção das ambulâncias que não é nada barata. Há dias, fizemos a revisão da Mercedes e gastámos 1200 euros. Para a revisão dos 200 mil kilómetros da ambulância de emergência, a Volkswagen, recentemente, apresentou-nos um orçamento de 4500 euros. São despesas que se tornam incomportáveis. Hoje, contamos com três ambulâncias: uma de emergência e duas de transporte. Às vezes, são usadas as três, havendo dificuldades em satisfazer o serviço. Precisávamos de mais uma viatura para termos a resposta certa e ideal. Mas cada ambulância custa-nos à volta de 40 mil euros”.
Relativamente às instalações o comandante Faria considera-as razoáveis, embora um pouco pequenas. A Câmara fez melhoramentos encontrando-se agora as infra-estruturas com muito melhores condições.
Manuel Faria considera que a Autarquia tem ajudado naquilo que pode, mas o Poder Central vai-se esquecendo da Cruz Vermelha. “Tudo o que nós fazemos é por amor à camisola, devíamos ter, ainda, mais ajudas e incentivos. Por exemplo, os Bombeiros não pagam taxas moderadoras porque pertencem ao Ministério da Administração Interna e nós pagamos porque pertencemos aos Ministério da Defesa”.
O comandante Faria apela ao bom senso das pessoas. “Compreendam-nos e respeitem-nos mais um bocadinho”. Sublinha que alguns cidadãos não têm formação e consciência social e, por isso, “fazem-nos exigências, confundem-nos até com funcionários públicos”. Algumas pessoas costumam dizer: “se o Estado não paga, que vos pague!”
Considera a mentalidade da gente de outras terras, nomeadamente da gente de Amares mais aguerrida, solidária e voluntária. “Quando vim morar para Terras de Bouro constatei que as pessoas eram mais individualistas e com falta de tempo. Aqui, as pessoas cansam-se muito depressa!”
O comandante Faria está a prever uma nova incorporação, talvez para 2010. Da última recruta, já só restam metade dos voluntários para trabalhar na Delegação porque umas ficaram grávidas, outros desistiram, outros mudaram de residências e outros, ainda, abandonaram.
Confidencia-nos que o custo médio por recruta é elevadíssimo. “Por exemplo, o fardamento custa mais de 250 euros e se o multiplicarmos por vinte recrutas dá-nos uma despesa significativa”. Receia que a próxima recruta possa estar comprometida se não conseguir arranjar financiamento para as novas fardas. Conta com o apoio da Câmara Municipal e, certamente, com um reforço maior de verba, mas terá de procurar outros meios para conseguir o dinheiro indispensável. Informa a nossa reportagem que a idade para participar na recruta é dos 18 aos 45 anos ou 16 anos com autorização dos pais e escolaridade obrigatória.
Em sua opinião, é essencial que o voluntário da Cruz Vermelha tenha as seguintes características: respeito e tolerância, capacidade de adaptação e de aprendizagem, iniciativa, atitude solidária, empatia, compromisso e capacidade de trabalhar em equipa. Mas as qualidades de um socorrista passam por ter vontade e disponibilidade para ajudar o próximo e deve ser, acima de tudo, uma pessoa responsável. Ao comandante compete-lhe ser calmo e com muito sangue-frio para comandar uma delegação. Para além de ser necessária uma paciência muito grande é preciso também ter um estômago enorme para “engolir muitos sapos”.
Já socorreu muitas pessoas. Algumas delas embriagadas. Uma das histórias caricatas de que se lembra foi ter prestado socorro a um motociclista que chocou, numa curva, contra uma carrinha que circulava em sentido contrário. O motociclista despistou-se, caiu numa leira e desmaiou. O dono da carrinha ao pressentir o embate, travou e outro automobilista bateu-lhe na traseira. Mas o proprietário da carrinha não conseguiu responsabilizar o motociclista “porque este vinha com tanta força que desapareceu numa recta”. Mal ele sabia que o motociclista se tinha despistado e jazia desmaiado numa leira.
A divulgação da Delegação da Cruz Vermelha na Internet ainda não é possível porque não dispõe de blog ou de sítio. Há 20 anos atrás, foi publicado, bimensalmente, o jornal “O Solidário”. Feito pelo Dr. Joaquim Cracel Viana e por voluntários que, infelizmente, já não estão ao serviço nesta delegação da Cruz Vermelha. “Era a nossa voz local”. Nessa altura, havia muitos jovens socorristas e cada um dava uma notícia e editava-se facilmente o jornal. Recorda com saudade que, às vezes, a camarata tornava-se pequena e alguns dos jovens chegavam a dormir nas ambulâncias.
As confraternizações, tais como, a Ceia de Natal, o magusto e convívios continuam a ser feitos. A Coordenação de Terras de Bouro também coopera com as delegações da Cruz Vermelha de Rio Caldo e do Gerês. “Ainda recentemente participámos num simulacro no Terreiro de S. Bento”.
Para o comandante Faria, a Professora Maria Venusina e o Dr. José Araújo foram as pessoas mais marcantes para a Delegação da Cruz Vermelha de Terras de Bouro. “Estamos-lhe muito agradecidos a ambos. Foram grandes amigos da Cruz Vermelha”.
Mas para que a solidariedade seja cada vez mais efectiva na nossa terra é necessário que ela se torne cultura. O caminho para o fazer é o investimento cada vez maior na educação dos nossos jovens para os valores de solidariedade. Também é necessário apoiar a dinamização comunitária.
Entretanto, reconheçamos o trabalho solidário e discreto do comandante Faria que se dá desinteressadamente aos terrabourenses e, em particular, à Cruz Vermelha.
Obrigado, comandante!
José Guimarães Antunes
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Maio de 2009.
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