Realizaram-se as eleições europeias e aproximam-se as eleições legislativas e as autárquicas. Destas últimas, não poderemos dissociar do combate e da discussão política a expressão "os vira casacas". De Norte a Sul, tal como no futebol, fazem-se inúmeras “transferências”, mas nestas mudanças nem sempre o mérito profissional e o currículo pessoal têm qualquer importância. Quando assim é, teremos aqueles que se candidatam noutro partido, mas que se mantêm independentes. São aqueles que se mantêm fiéis ao seu partido e, obviamente, não são “vira-casacas”. Mas quem são afinal os vira-casacas?
“Os vira-casacas” são todos os políticos que não revelam dignidade e que perderam a sua identidade. São aqueles que para manter o emprego ou para obter dividendos correm ora para aqui, ora para ali, sempre na mira, unicamente, do seu “tachinho”. De facto, o “vira-casacas refinado só pensa em si próprio e em seu benefício. Será “vira-casacas” todo aquele que para negociar melhores condições para o seu concelho ou para a sua freguesia tal como o fez, quando Guterres era Primeiro Ministro, Daniel Campelo, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima? Certamente que não!
De facto, “só os burros é que não mudam”! Mas este princípio não se pode aplicar ao “trânsfuga” ou ao “vira-casacas” ou ao salta-pocinhas que procura, unicamente, o lóbi do “tacho”!
Os partidos não deviam permitir esta política de favorecimento pessoal e este tipo de gente que muda de princípios como quem muda de camisa!
Infelizmente, em todas as eleições, para além dos “vira-casacas”, também costumamos ter o aproveitamento político das inaugurações, as promessas e toda a verborreia política. Para George Orwell “a linguagem política dissimula para fazer as mentiras soarem verdadeiras e para dar aparência consistente ao puro vento”.
De facto, quando a obra feita é exígua, na véspera das eleições autárquicas, convém torná-la eminente. Os politiqueiros “vomitam golfadas” de projectos para obras a realizar e até prometem obras sem qualquer projecto. Nesta logorreia, imagem de marca principalmente de muitos dos candidatos às juntas de freguesia, os custos são muitas vezes subalternizados e constata-se a irresponsabilidade e até falta de seriedade. E surgem listagens infindáveis de propostas disparatadas nos folhetos de campanha sobranceando a falta de escrúpulos e de nobreza. Olvida-se a palavra dada e a honra e a lealdade são coisas de outra galáxia! E num jogo duplo bem mundano, a pragmática dos politiqueiro que se preze põe de lado as regras e os valores morais que deveriam nortear a conduta e a ética políticas.
“Metidos no mesmo saco” diluem-se os políticos sérios, com os pouco sérios e com os nada sérios numa miscelânea clara de valores e anti-valores. Todos são a mesmíssima coisa: iguais! Por isso, a maioria dos portugueses afirma desprezar todos políticos e igualmente todas as eleições. E em lugar de estar informada sobre os diversos programas eleitorais e sobre os candidatos, prefere ler os jornais desportivos ou a imprensa cor-de-rosa cujas tiragens são aos milhares. Também as novelas e os programas televisivos de nulidades, verdadeiros “big brother’s”, são preferidos aos debates televisivos sobre questões sociais ou políticas. A prová-lo estão os “shares” que tal como o algodão não enganam.
Mahatma Gandhi afirmou que as divergências de opinião não devem significar hostilidade. “Sempre procurei nutrir pelos que discordam de mim o mesmo afecto que nutro pelos que me são mais queridos e vizinhos”.
Entretanto, nas eleições que se aproximam valorizaremos as divergências de opinião e as ideias para bem da política, da democracia, da nossa terra e do nosso país. Votemos e não pensemos que quando votamos estamos a arranjar emprego aos “trânsfugas” ou aos “vira-casacas”. Se assim fizermos, certamente, que passaremos, todos nós, a dormir muito melhor!
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Julho de 2009.
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