No dia sete de Março, Manuel Alegre, em entrevista ao semanário “Expresso”, afirmou que avançaria com uma candidatura contra José Sócrates se os movimentos de cidadãos pudessem candidatar-se ao Parlamento. Fá-lo-ia contra o “status quo” e a favor de uma renovação da democracia, reafirmando que a possibilidade de candidaturas independentes às eleições legislativas é um dos seus “objectivos políticos”.
José Lello não gostou das palavras de Manuel Alegre e, em declarações ao “Jornal de Notícias”, afirmou que é tempo de dizer “basta!”. O secretário nacional do Partido Rosa foi mais longe ao afirmar que estava convencido de que as votações de Manuel Alegre na Assembleia da República “não são motivadas por razões de consciência, mas de agenda política”.
Às declarações de José Lello, respondo com a biografia de Manuel Alegre. Este poeta e político nascido em Águeda, em 12 de Maio de 1936, estudou na Faculdade de Direito de Coimbra, onde participou activamente nas lutas académicas. Cumpriu o serviço militar na guerra colonial em Angola. Nessa altura, foi preso pela polícia política (PIDE) por se revoltar contra esta guerra. Após o regresso exilou-se no norte de África, em Argel, onde desenvolveu actividades contra o regime de Salazar. Em 1974 regressou, definitivamente, a Portugal, demonstrando, nos vários cargos que desempenhou uma intervenção fiel aos ideais da Liberdade. A sua poesia foi e é um hino à Liberdade e, talvez seja por isso que é lembrada por muitos resistentes que lutaram contra a ditadura. É considerado o poeta mais cantado pelos músicos portugueses, designadamente Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, António Portugal, José Niza, António Bernardino, Alain Oulman, Amália Rodrigues, Janita Salomé e João Braga.
Da sua biografia destaco, ainda, a sua candidatura à Presidência da República Portuguesa, em 22 de Janeiro de 2006, tendo recolhido mais de 20% dos votos totais apesar de não ter beneficiado do apoio de nenhum partido político. Manuel Alegre que obteve 20,72% dos votos não conseguiu evitar a vitória à primeira volta de Cavaco Silva, mas conseguiu uma vantagem de cerca de 6% dos votos expressos sobre Mário Soares, candidato oficial do Partido Socialista.
Manuel Alegre “entornou o caldo” a partir de Setembro de 2005, quando anunciou a sua candidatura às eleições para a Presidência da República. O “Poeta da Liberdade” tem lutado contra o despotismo, contra a arrogância e contra os tiques de autoritarismo em que mergulhou o actual Partido Socialista. É de facto uma voz incómoda no seio do partido. Ainda recentemente afirmou na SIC Notícias que “há qualquer coisa que está errada neste PS quando temos tanta gente no limiar da pobreza e aparecem tantos milhões para salvar o Banco Privado Português, um banco que administra fortunas!”. Três dias depois, na RTP, declarou que “este Partido Socialista não é propriamente aquilo que eu quero”.
Apesar de frequentes intervenções nas quais chegou a insinuar a possibilidade da formação de um novo partido político à esquerda do Partido Socialista, Manuel Alegre tem permanecido nas fileiras do seu partido e do seu grupo parlamentar. Esta escolha não o tem impedido, porém, em diferentes ocasiões, de alinhar o seu voto com os dos partidos da oposição contra a orientação política do seu próprio partido. Ainda há bem pouco tempo votou ao lado da oposição a suspensão das taxas moderadoras na Saúde tendo explicado em declarações à TVI que votou contra o actual regime porque ele constitui uma “punição” para os doentes.
Como o Partido Socialista não consegue amordaçar Manuel Alegre, o mal-estar no seio do Partido Rosa está para durar. Mas será que José Lello tem razão ao considerar que as declarações de Manuel Alegre já "começam a raiar a falta de carácter"?
Será, também, que José Lello, em Junho do ano passado, teve razão quando acusou Manuel Alegre de "parasitar" as jornadas parlamentares do PS nos Açores?
A todos aqueles que dizem que a atitude do histórico socialista "começa a raiar a falta de carácter" quando estamos perante um homem corajoso e de carácter eu contraponho: “Por qué no te callas?”
A todos os que ousam dizer que um homem com um currículo como o de Manuel Alegre “parasitou as jornadas parlamentares do PS” eu pergunto: não será isto mais um disparate?
Entretanto, “a guerra” entre José Lello e Manuel Alegre está para durar e é tempo de todos os Socialistas aceitarem as críticas.
Todos nós Portugueses sabemos que com Manuel Alegre nunca funcionará a “lei da rolha” e, também, sabemos que a sua atitude tem contribuído para o desenvolvimento da cidadania e para o fortalecimento da sociedade civil portuguesa melhorando assim a qualidade da própria democracia.
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Março de 2009.
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