O Dr. Manuel da Silva Martins nasceu em 1942, na freguesia de Gondoriz. Com apenas 11 anos, este terrabourense foi viver com os pais para Lisboa e teve de começar a trabalhar por falta de possibilidades da família. Nessa época, trabalhar na capital significava um novo alento e uma nova esperança para a fuga da vida de miséria que o nosso concelho, infelizmente, oferecia. Com a sua estrutura afectiva formada, este gondoricense nunca perdeu o contacto com o concelho que o viu nascer e onde aprendeu as primeiras letras.
Depois de muitos anos de trabalho árduo, em 1983, consegue, finalmente, licenciar-se em Economia pela Universidade Técnica de Lisboa.
Foi professor de matemática na Escola Preparatória Eugénio dos Santos e de economia na Escola Secundaria da Venteira.
Terminou a sua vida profissional como distinto quadro da carreira técnica superior da Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo (DGAIEC).
Homem de vontade férrea é um bom exemplo de que para se vencer na vida é importante que cada um de nós acredite em si mesmo e tenha muita vontade de vencer. Através do trabalho e do esforço tudo é possível” garante. Afirma à reportagem do jornal “O Geresão” que “para se conseguir alguma coisa é preciso muito espírito de sacrifício, de perseverança e de trabalho que não prejudique os outros, mas que somente nos beneficie a nós próprios porque o nosso semelhante nunca pode ser atropelado”.
Para Dr. Manuel da Silva Martins, nascer em Terras de Bouro não foi fruto do acaso. Tem orgulho em afirmar que os seus pais, ambos naturais de Gondoriz, residiam em Lisboa, mas decidiram que tanto ele como o seu irmão tinham de nascer no nosso concelho. Viveu em Gondoriz até aos onze anos de idade sendo estes primeiros anos de vida muito importantes na formação da sua personalidade e, também, fundamentais para criar uma relação afectiva à terra. Dos sete aos onze anos fez a instrução primária na Escola Mista de Gondoriz com aprovação final, no exame do 2.º grau, na Vila de Terras de Bouro. “Como fui aprovado com distinção criei, a partir daí, o desejo de estudar, mas infelizmente, não pude fazê-lo, apesar de ter muita motivação para aprender. Na época, o liceu era muito caro e, para mim, não foi fácil deixar de estudar”, lamenta.
Jamais esquecerá que ir à Feira de Covas e ao S. Bentinho da Porta Aberta, que hoje é o segundo santuário do País, era como um dia de festa! Na altura do centeio, apanhava “o dente de cão” que vendia e com ele reunia dinheiro para comprar umas cavaquinhas.
Em Lisboa, ainda criança de onze anos, começa a trabalhar nas obras. No Hospital da Ordem Terceira, vestido com um fato de macaco carrega durante dois meses tábuas para andaimes. Neste mesmo hospital, deixa o trabalho duro das obras e passa a fazer recados aos doentes. Leva cartas ao correio, compra revistas e jornais, entre outros. O trabalho torna-se mais leve e as gorjetas passam a ser o seu ordenado, mas alguns meses depois volta novamente a trabalhar nas obras e toma a primeira decisão da infância da sua vida quando apresenta o seu despedimento. “Meses depois despedi-me, mas os meus pais não queriam que eu o fizesse. Como mantive a minha decisão disseram-me que teria de ser eu a procurar emprego.” Esta criança de carácter firme vê-se obrigada a crescer, rapidamente, e, no dia seguinte, foi ao jornal “Diário de Notícias” para consultar as ofertas de emprego porque não disponha de dinheiro para comprar o jornal.
Consegue emprego como mandarete e passa a fazer recados numa pastelaria-restaurante, mas “os escudos ganhos eram muito magros”. Meses depois, consegue novo emprego, num hotel, também como mandarete.
Aos treze anos fica entregue a si próprio. “Ainda não tinha catorze anos feitos quando a minha família resolveu regressar definitivamente a Gondoriz. Queriam que eu os acompanhasse, mas eu não aceitei porque apesar de ter muitas saudades da terra eu não queria regressar para a minha terra que não me dava emprego e não me oferecia condições nenhumas. Apenas pobreza.”
Consegue convencer os seus pais a deixá-lo em Lisboa. Por sua conta e risco, Manuel da Silva Martins fica sozinho na capital e, a partir desse momento, é obrigado a crescer. “Tinha-me tornado num pré-adulto porque tive de manter o emprego, de pagar com o meu suor o alojamento, orientando-me completamente sozinho e sem qualquer familiar por perto. Foi um período que me marcou profundamente.”
Nesta luta sem tréguas para melhorar as suas condições de vida, muda de emprego e passa para recepcionista de um hotel. Subiu em categoria e em vencimento.
Faz as inspecções para a tropa, na Câmara Municipal de Terras de Bouro e, em Maio de 1963, assenta praça em Espinho. É mobilizado para o Ultramar tendo embarcado, no dia 23 de Novembro de 1963, para Moçambique, no dia imediatamente a seguir ao dia da morte, em Dalas, do presidente Kennedy. Tete era a província mais quente de Moçambique e também era conhecida como “o cemitério dos brancos”. Atrás do arame farpado, começa um exílio em África longe da família, dos amigos e da sua terra. Para ultrapassar os problemas de desenraizamento, aproveita o tempo disponível. Para isso, “agarra-se” aos livros e começa a satisfazer o seu sonho: estudar. Concluiu com muito bom aproveitamento o 1.º e o 2.º anos do liceu e, aos fins-de-semana, ajuda a formar o grupo de escutismo de Tete (187 Agrupamento de Escuteiros grupo n.º2). De corpo e alma entrega-se ao escutismo e gasta os seus dias de licença organizando e dinamizando acampamentos escutistas.
Em Abril de 1966, regressa, finalmente, a Portugal e retoma o seu trabalho no hotel como recepcionista. Insatisfeito quer estudar, mas este trabalho não lho permite e, por isso, arranja outro emprego com um salário mais baixo, mas com um horário compatível. Quer, apenas, o indispensável para pagar o quarto, a alimentação, o transporte e os estudos. “O vestuário e o calçado passavam para segundo plano. Eram acessórios.” Começa, então, a trabalhar nos Despachantes Oficiais da Alfândega de Lisboa. “Nos primeiros tempos, o que ganhava era muito curto e então tive de recorrer às economias que tinha amealhado, delapidando quase todo o dinheiro que tinha.” Numa escola particular, com vontade firme e incansável começa a estudar à noite e faz, em dois anos, os 3.º, 4.º e 5.º anos do liceu.
Como era Praticante de Despachante Oficial, quando concluiu o 5.º ano do liceu, subiu de categoria na carreira e passou a Ajudante de Despachante Oficial. Deste modo, “tinha melhorado a minha situação financeira e passei a dedicar-me muito mais à minha profissão, mas continuei a pensar que devia continuar a estudar e a aprender.” E, ao abrigo de uma lei especial, que beneficiava os militares que tinham estado no Ultramar, começou a fazer cadeiras dos 6.º e 7.º anos do liceu. “Algumas delas foram feitas como aluno autoproposto, mas tive de parar de estudar porque a exigência profissional passou a ser muito maior. Entretanto, casei em 1970 e a partir daí fiquei em stand by porque era impossível conciliar tudo.”
Com o advento do 25 de Abril, modificaram-se as condições de trabalho de tal forma que passou a ter mais algum tempo disponível para poder estudar. Face a esta nova situação retoma os seus estudos. Começa por completar o antigo 7.º ano do liceu Posteriormente, matricula-se na Faculdade de Economia do ISCTE onde completa o seu bacharelato. Depois, matricula-se no Instituto Superior de Economia onde fez a sua almejada licenciatura.
Confessa-nos que foi muito difícil esta longa caminhada académica. “Não desisti, apesar de ser difícil conciliar o trabalho, a vida familiar e o estudo. Por volta da meia-noite, terminava as minhas aulas e para cumprir com as minhas obrigações de estudante tinha de entrar pela madrugada dentro. Nos dois últimos anos do curso, nem sequer podia jantar. Saía do Aeroporto às 18 horas e a essa mesma hora começavam as aulas na Faculdade. Sem jantar e como chegava atrasado cerca de meia hora passava os intervalos a copiar os apontamentos correspondentes a essa meia hora de aula que eu perdia. Foram dois anos exagerados e difíceis, mas consegui fazer tudo!”
Concluída a sua licenciatura tenta rentabilizá-la, mas não era fácil arranjar emprego por ter já mais de quarenta anos de idade. “Respondia a muitos anúncios, mas era difícil conseguir um emprego. Não desisti, teimei e consegui ingressar, na carreira técnica superior, através de concurso público, onde me mantive até à minha aposentação”.
Depois de se reformar, decidiu continuar a estudar, mas de uma forma bem diferente. Desta vez, decidiu investigar e resultou o livro “Entre o Homem e a Amarela” publicado recentemente. “Sentia que nós, os da margem direita do Rio Homem, parecíamos que não fazemos parte do concelho de Terras de Bouro. Prometi a mim próprio que um dia se haveria de ouvir falar de Gondoriz”.
Confessa-nos que esta sua decisão se deveu, por um lado, ao amor que tem à sua terra e, por outro, a sua freguesia tem um passado muito rico e longo, mas com história. Considera que, ao longo dos anos, a sua terra foi pouco acarinhada e isso não potenciou o seu desenvolvimento. Reafirma que havia uma grande injustiça porque a freguesia de Gondoriz “fora ostracizada”.
“Entre o Homem e a Amarela” demorou-lhe cerca de quatro anos a fazer. Para realizar este trabalho, fez entrevistas, percorreu os lugares todos que foram por si descritos, tendo inclusive atravessado a Serra Amarela, indo de Cutelo a Espanha para conhecer in loco o itinerário do contrabando.
Foram muitas e muitas horas de pesquisa em muitos arquivos. Muitas horas de reflexão e leitura na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca da Gulbenkian, na Torre do Tombo, nos arquivos da Universidade do Minho, no Arquivo Distrital de Braga, no Arquivo Paroquial de Gondoriz, entre outros.
Para a concretização deste seu projecto refere que foram fundamentais duas pessoas da nossa terra. O Dr. Viriato Capela que se mostrou entusiasmado em conhecer e apoiar o seu trabalho. “Facultei-lhe um exemplar em rascunho e o Dr. Viriato prontificou-se a apresentar a minha obra. Como é da área da História encorajou-me sempre a editá-la.” Também foi importante o presidente da CALIDUM, João Luís Dias, que se mostrou disponível para editar este meu trabalho. “Foi de uma simpatia e de uma amabilidade fantástica que jamais esquecerei”.
Agradece, também à Câmara Municipal e à Junta de Freguesia de Gondoriz que apoiaram esta publicação com a aquisição de um conjunto significativo de livros.
O Dr. Manuel da Silva Martins é um gondoricense realizado e esclarece que não publicou “Entre o Homem e a Amarela” com o intuito de ganhar dinheiro. O que pretendeu foi divulgar Gondoriz e, também, o nosso concelho que tem potencialidades extraordinárias sobretudo se fizermos o seu aproveitamento turístico.
Terras de Bouro precisa de investimento para se desenvolver, mas sem estragar o ambiente e a vida dos terrabourenses.
Ao Dr. Manuel da Silva Martins muito obrigado por ser um homem que não nega as suas raízes humildes e que tem obra feita divulgadora do nosso património imaterial,
Bem haja a este gondoricense que muito nos honra!
Depois de muitos anos de trabalho árduo, em 1983, consegue, finalmente, licenciar-se em Economia pela Universidade Técnica de Lisboa.
Foi professor de matemática na Escola Preparatória Eugénio dos Santos e de economia na Escola Secundaria da Venteira.
Terminou a sua vida profissional como distinto quadro da carreira técnica superior da Direcção-Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais sobre o Consumo (DGAIEC).
Homem de vontade férrea é um bom exemplo de que para se vencer na vida é importante que cada um de nós acredite em si mesmo e tenha muita vontade de vencer. Através do trabalho e do esforço tudo é possível” garante. Afirma à reportagem do jornal “O Geresão” que “para se conseguir alguma coisa é preciso muito espírito de sacrifício, de perseverança e de trabalho que não prejudique os outros, mas que somente nos beneficie a nós próprios porque o nosso semelhante nunca pode ser atropelado”.
Para Dr. Manuel da Silva Martins, nascer em Terras de Bouro não foi fruto do acaso. Tem orgulho em afirmar que os seus pais, ambos naturais de Gondoriz, residiam em Lisboa, mas decidiram que tanto ele como o seu irmão tinham de nascer no nosso concelho. Viveu em Gondoriz até aos onze anos de idade sendo estes primeiros anos de vida muito importantes na formação da sua personalidade e, também, fundamentais para criar uma relação afectiva à terra. Dos sete aos onze anos fez a instrução primária na Escola Mista de Gondoriz com aprovação final, no exame do 2.º grau, na Vila de Terras de Bouro. “Como fui aprovado com distinção criei, a partir daí, o desejo de estudar, mas infelizmente, não pude fazê-lo, apesar de ter muita motivação para aprender. Na época, o liceu era muito caro e, para mim, não foi fácil deixar de estudar”, lamenta.
Jamais esquecerá que ir à Feira de Covas e ao S. Bentinho da Porta Aberta, que hoje é o segundo santuário do País, era como um dia de festa! Na altura do centeio, apanhava “o dente de cão” que vendia e com ele reunia dinheiro para comprar umas cavaquinhas.
Em Lisboa, ainda criança de onze anos, começa a trabalhar nas obras. No Hospital da Ordem Terceira, vestido com um fato de macaco carrega durante dois meses tábuas para andaimes. Neste mesmo hospital, deixa o trabalho duro das obras e passa a fazer recados aos doentes. Leva cartas ao correio, compra revistas e jornais, entre outros. O trabalho torna-se mais leve e as gorjetas passam a ser o seu ordenado, mas alguns meses depois volta novamente a trabalhar nas obras e toma a primeira decisão da infância da sua vida quando apresenta o seu despedimento. “Meses depois despedi-me, mas os meus pais não queriam que eu o fizesse. Como mantive a minha decisão disseram-me que teria de ser eu a procurar emprego.” Esta criança de carácter firme vê-se obrigada a crescer, rapidamente, e, no dia seguinte, foi ao jornal “Diário de Notícias” para consultar as ofertas de emprego porque não disponha de dinheiro para comprar o jornal.
Consegue emprego como mandarete e passa a fazer recados numa pastelaria-restaurante, mas “os escudos ganhos eram muito magros”. Meses depois, consegue novo emprego, num hotel, também como mandarete.
Aos treze anos fica entregue a si próprio. “Ainda não tinha catorze anos feitos quando a minha família resolveu regressar definitivamente a Gondoriz. Queriam que eu os acompanhasse, mas eu não aceitei porque apesar de ter muitas saudades da terra eu não queria regressar para a minha terra que não me dava emprego e não me oferecia condições nenhumas. Apenas pobreza.”
Consegue convencer os seus pais a deixá-lo em Lisboa. Por sua conta e risco, Manuel da Silva Martins fica sozinho na capital e, a partir desse momento, é obrigado a crescer. “Tinha-me tornado num pré-adulto porque tive de manter o emprego, de pagar com o meu suor o alojamento, orientando-me completamente sozinho e sem qualquer familiar por perto. Foi um período que me marcou profundamente.”
Nesta luta sem tréguas para melhorar as suas condições de vida, muda de emprego e passa para recepcionista de um hotel. Subiu em categoria e em vencimento.
Faz as inspecções para a tropa, na Câmara Municipal de Terras de Bouro e, em Maio de 1963, assenta praça em Espinho. É mobilizado para o Ultramar tendo embarcado, no dia 23 de Novembro de 1963, para Moçambique, no dia imediatamente a seguir ao dia da morte, em Dalas, do presidente Kennedy. Tete era a província mais quente de Moçambique e também era conhecida como “o cemitério dos brancos”. Atrás do arame farpado, começa um exílio em África longe da família, dos amigos e da sua terra. Para ultrapassar os problemas de desenraizamento, aproveita o tempo disponível. Para isso, “agarra-se” aos livros e começa a satisfazer o seu sonho: estudar. Concluiu com muito bom aproveitamento o 1.º e o 2.º anos do liceu e, aos fins-de-semana, ajuda a formar o grupo de escutismo de Tete (187 Agrupamento de Escuteiros grupo n.º2). De corpo e alma entrega-se ao escutismo e gasta os seus dias de licença organizando e dinamizando acampamentos escutistas.
Em Abril de 1966, regressa, finalmente, a Portugal e retoma o seu trabalho no hotel como recepcionista. Insatisfeito quer estudar, mas este trabalho não lho permite e, por isso, arranja outro emprego com um salário mais baixo, mas com um horário compatível. Quer, apenas, o indispensável para pagar o quarto, a alimentação, o transporte e os estudos. “O vestuário e o calçado passavam para segundo plano. Eram acessórios.” Começa, então, a trabalhar nos Despachantes Oficiais da Alfândega de Lisboa. “Nos primeiros tempos, o que ganhava era muito curto e então tive de recorrer às economias que tinha amealhado, delapidando quase todo o dinheiro que tinha.” Numa escola particular, com vontade firme e incansável começa a estudar à noite e faz, em dois anos, os 3.º, 4.º e 5.º anos do liceu.
Como era Praticante de Despachante Oficial, quando concluiu o 5.º ano do liceu, subiu de categoria na carreira e passou a Ajudante de Despachante Oficial. Deste modo, “tinha melhorado a minha situação financeira e passei a dedicar-me muito mais à minha profissão, mas continuei a pensar que devia continuar a estudar e a aprender.” E, ao abrigo de uma lei especial, que beneficiava os militares que tinham estado no Ultramar, começou a fazer cadeiras dos 6.º e 7.º anos do liceu. “Algumas delas foram feitas como aluno autoproposto, mas tive de parar de estudar porque a exigência profissional passou a ser muito maior. Entretanto, casei em 1970 e a partir daí fiquei em stand by porque era impossível conciliar tudo.”
Com o advento do 25 de Abril, modificaram-se as condições de trabalho de tal forma que passou a ter mais algum tempo disponível para poder estudar. Face a esta nova situação retoma os seus estudos. Começa por completar o antigo 7.º ano do liceu Posteriormente, matricula-se na Faculdade de Economia do ISCTE onde completa o seu bacharelato. Depois, matricula-se no Instituto Superior de Economia onde fez a sua almejada licenciatura.
Confessa-nos que foi muito difícil esta longa caminhada académica. “Não desisti, apesar de ser difícil conciliar o trabalho, a vida familiar e o estudo. Por volta da meia-noite, terminava as minhas aulas e para cumprir com as minhas obrigações de estudante tinha de entrar pela madrugada dentro. Nos dois últimos anos do curso, nem sequer podia jantar. Saía do Aeroporto às 18 horas e a essa mesma hora começavam as aulas na Faculdade. Sem jantar e como chegava atrasado cerca de meia hora passava os intervalos a copiar os apontamentos correspondentes a essa meia hora de aula que eu perdia. Foram dois anos exagerados e difíceis, mas consegui fazer tudo!”
Concluída a sua licenciatura tenta rentabilizá-la, mas não era fácil arranjar emprego por ter já mais de quarenta anos de idade. “Respondia a muitos anúncios, mas era difícil conseguir um emprego. Não desisti, teimei e consegui ingressar, na carreira técnica superior, através de concurso público, onde me mantive até à minha aposentação”.
Depois de se reformar, decidiu continuar a estudar, mas de uma forma bem diferente. Desta vez, decidiu investigar e resultou o livro “Entre o Homem e a Amarela” publicado recentemente. “Sentia que nós, os da margem direita do Rio Homem, parecíamos que não fazemos parte do concelho de Terras de Bouro. Prometi a mim próprio que um dia se haveria de ouvir falar de Gondoriz”.
Confessa-nos que esta sua decisão se deveu, por um lado, ao amor que tem à sua terra e, por outro, a sua freguesia tem um passado muito rico e longo, mas com história. Considera que, ao longo dos anos, a sua terra foi pouco acarinhada e isso não potenciou o seu desenvolvimento. Reafirma que havia uma grande injustiça porque a freguesia de Gondoriz “fora ostracizada”.
“Entre o Homem e a Amarela” demorou-lhe cerca de quatro anos a fazer. Para realizar este trabalho, fez entrevistas, percorreu os lugares todos que foram por si descritos, tendo inclusive atravessado a Serra Amarela, indo de Cutelo a Espanha para conhecer in loco o itinerário do contrabando.
Foram muitas e muitas horas de pesquisa em muitos arquivos. Muitas horas de reflexão e leitura na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca da Gulbenkian, na Torre do Tombo, nos arquivos da Universidade do Minho, no Arquivo Distrital de Braga, no Arquivo Paroquial de Gondoriz, entre outros.
Para a concretização deste seu projecto refere que foram fundamentais duas pessoas da nossa terra. O Dr. Viriato Capela que se mostrou entusiasmado em conhecer e apoiar o seu trabalho. “Facultei-lhe um exemplar em rascunho e o Dr. Viriato prontificou-se a apresentar a minha obra. Como é da área da História encorajou-me sempre a editá-la.” Também foi importante o presidente da CALIDUM, João Luís Dias, que se mostrou disponível para editar este meu trabalho. “Foi de uma simpatia e de uma amabilidade fantástica que jamais esquecerei”.
Agradece, também à Câmara Municipal e à Junta de Freguesia de Gondoriz que apoiaram esta publicação com a aquisição de um conjunto significativo de livros.
O Dr. Manuel da Silva Martins é um gondoricense realizado e esclarece que não publicou “Entre o Homem e a Amarela” com o intuito de ganhar dinheiro. O que pretendeu foi divulgar Gondoriz e, também, o nosso concelho que tem potencialidades extraordinárias sobretudo se fizermos o seu aproveitamento turístico.
Terras de Bouro precisa de investimento para se desenvolver, mas sem estragar o ambiente e a vida dos terrabourenses.
Ao Dr. Manuel da Silva Martins muito obrigado por ser um homem que não nega as suas raízes humildes e que tem obra feita divulgadora do nosso património imaterial,
Bem haja a este gondoricense que muito nos honra!
Texto a publicar no jornal “Geresão” a 20 de Janeiro de 2010.
1 comentário:
São testemunhos de vida, como o do Dr. Manuel da silva Martins, que nos inspiram na busca dos nossos ideias, mesmo que os percursos seja íngremes e irregulares.
Obrigada por partilhar comigo o seu excelente trabalho, que até à data desconhecia!
Um abraço,
Emília Pinto
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