Nas últimas eleições autárquicas, à Câmara Municipal de Terras de Bouro, mereceu especial destaque a campanha feita por António Afonso, candidato laranja, que foi, sem qualquer dúvida, mais discreta mas muito mais afectivado que a do seu principal rival, Ricardo Gonçalves, o candidato rosa. O primeiro, mais próximo do Povo, apostou numa campanha personalizada, fazendo-a, com humildade, porta a porta, casa a casa, adro a adro, com um nervoso miudinho à mistura, na porta das igrejas e no final das missas. O segundo, esqueceu que a humildade faz conquistar votos e vencer batalhas eleitorais e apostou numa campanha mediática com custos, certamente, chorudos, chegando a trazer, ao comício de Rio Caldo, uma grande figura da música popular. E "para cheirar o bacalhau" quis a concertina, o bigode encerado, o banho de multidão e a presença, no concelho de Terras de Bouro, de Mesquita Machado (Presidente da Câmara Municipal de Braga) e de José Barbosa (Presidente da Câmara Municipal de Amares). Mas como "o bacalhau quer alho", também vieram a Covide, para dar mais "um empurrãozinho" a Ricardo Gonçalves, Joaquim Barreto, Fernando Moniz, António Ramalho e Francisco Assis (fazendo este último uma pausa a favor de Rui Rio).
Todas estas "estrelas" do PS foram bem vindas, mas pareciam desconhecer que nós, os terrabourenses, somos hospitaleiros e gostamos que nos visitem, mas dispensamos, quando estão em jogo os interesses da Nossa Terra, que nos digam quem são os verdadeiros "filhos", quem são os filhos legítimos e os ilegítimos e quem são "os enteados". Também não precisávamos, quando se referiram às nossas estradas, que nos dessem lições de História Local, e que algum iluminado tenha proferido em tom irónico, mas de mau gosto, que nós temos estradas do tempo dos romanos.
Honra-nos que pela Geira, Via Romana de um grandioso império, tenham os Romanos mostrando a sua magnificiência, fazendo circular o latim e as legiões que fizeram história quando romanizaram, por exemplo, "Bracara Augusta". Aqui, recomendamos vivamente a leitura das aventuras de Astérix e de Obélix! Fere-nos o orgulho que "gente de fora" apregoe aos quatro ventos que quem manda na Câmara Municipal não é o Presidente, mas "caciques em si pendurados". "Os caciques" não dominam nada nem ninguém aqui em Terrasde Bouro. Neste concelho, quem manda, segundo os princípios democráticos, são todos aqueles que foram legitimamente eleitos por sufrágio, directo e secreto. No nosso concelho, não temos nem suseranos, nem senhores feudais, nem senhores coloniais, muito menos "testas de ferro" e valorizamos os verdadeiros terrabourenses. E como não são parvos, recusamos lições, principalmente as que nos ensinam em quem se deve votar! Todas as "estrelas" do PS já citadas vieram discursar, ao nosso concelho, para nos ensinar como governar a "nossa casa" e como autênticos sofistas, enalteceram qualidades num candidato que o Povo não vislumbrou e em discursos inflamados proferiram expressões, de "muita parra e pouca uva", tais como: "imaginação transbordante", "enorme cultura", "homem que sabe definir política".
Em Terras de Bouro, bem haja ao Povo que não é néscio e escolheu para continuar a governar a Câmara, e cito Ricardo Gonçalves, "uma flor de estufa", mas uma flor que trabalha como uma formiga, no seu gabinete, lutando, incessantemente, pelos interesses de Terras de Bouro. O Povo soberano recusou, talvez, a presunção e não quis sufragar positivamente nas urnas"uma flor silvestre" que se arvorou em competente, e que tal como a cigarra cantou, mas não encantou!
O Povo Terrabourense é humilde, mas tem "memória de elefante"! A maioria tem calos nas mãos, amanha o seu dia a dia com muito suor e tem consciência que o segredo do sucesso está na coerência e no trabalho e não na retórica, na demagogia e no ataque fácil.
Ricardo Gonçalves esqueceu-se do Povo, não estando presente como era sua obrigação e, por isso, não foi coerente ao longo dos quatro anos de vereação. Prometeu, criou expectativas, mas não realizou o trabalho que os seus eleitores esperavam, sendo a sua acção na Câmara Municipal uma verdadeira decepção, um "verdadeiro mundo das sombras". Optou pela abstenção, não compareceu, esteve distante dos terrabourenses e longe de Terras de Bouro. Como político e como deputado exigia-se-lhe muito mais, que fizesse uma verdadeira oposição, construtiva e objectiva. Foi periclitante! Ao paradigma da ausência devia ter respondido coma sua presença estando lá, na Câmara, lutando por quem tinha votado em si, contribuindo com a sua acção para a construção do nosso futuro. Esqueceu-se do futuro!?
Volvidos quatro anos, regressou em grande, num verdadeiro rasgo de"Sebastianismo", voltou para dar uma vez mais a cara por um projecto pouco alicerçado. Só lhe faltou a manhã de nevoeiro! Era a segunda vez que tentava acabar com a hegemonia laranja e levar de vencida António Afonso. Regressou para fazer mais uma campanha e não para ficar e lutar pelos verdadeiros interesses dos terrabourenses.
A "esperança na mudança", slogan da sua campanha, teve quatro anos de passado esvaziados de esperança, mas mesmo assim teimou em lançar mais ideias e em fazer mais reivindicações. Quando falou, por exemplo, em desenvolvimento comparou Terras de Bouro com outros concelhos do distrito. A comparação podia ser feita, mas não foi séria! Quando comparamos concelhos não nos podemos esquecer que Terras deBouro está na periferia do distrito de Braga, longe das grandes vias decomunicação e apresenta um relevo muito acidentado. Estas razões são sobejamente conhecidas pelo homem do senso comum, são bem vulgares. Não nos iludamos, porque a verdade é só uma: devido a factores naturais nunca conseguiremos atingir o desenvolvimento dos concelhos vizinhos.
Nós, os terrabourenses, queremos de facto que o concelho se desenvolva, mas queremos que o desenvolvimento se faça de forma estruturada, pensada, sem a"adrenalina" que nos estonteia numa "montanha russa", sem loucuras para que Terras de Bouro possa ter passado, presente e futuro.
Afirmar que Terras de Bouro tem potencialidades imensas, não acrescenta nada de novo ao que nós sabíamos há muito tempo, contudo obrigado!
No entanto, concordo com as críticas feitas pelo candidato do PS ao saneamento básico, à desertificação e ao PDM. Nisto todos estamos de acordo: são de facto necessárias ETARS em Terras de Bouro; o saneamento existente é péssimo; é imprescindível fixar pessoas no concelho; é também urgente rever o PDM.
Espera, a António Afonso, um "trilho" difícil de percorrer para levar de vencida o problema do saneamento e terminar, na Nossa Terra, com as agressões ao Meio Ambiente, e em particular ao nosso Rio Homem, um dos mais belos de Portugal e que começa a estar ameaçado. Também não será tarefa fácil, para o edil terrabourense, fazer, nestes quatro anos, algo que impeça a desertificação.
Não podemos desanimar e baixar os braços esperando que a sorte nos bafeje e que faça o nosso futuro. O futuro não se espera, constrói-se! Não cantemos o "fado", nem sejamos "Velhos do Restelo", profetas da desgraça agarrados a um determinismo que nos impede de ter esperança. Criemos o nosso próprio destino oferecendo condições que estimulem os nossos emigrantes espalhados pelos "quatro cantos do Mundo" a regressar. Lutemos "contra ventos e marés" procurando atrair investidores e investimentos que possam contribuir para o rejuvenescimento do nosso concelho.
Entretanto, aguardamos pela revisão do Plano Director Municipal que deverá, segundo António Afonso, espelhar os objectivos do Plano de Desenvolvimento Concelhio. Em nome de todos os terrabourenses, faço votos para que a revisão anunciada do PDM contribua para a criação de condições que permitam a fixação dos nossos jovens e se contrarie, definitivamente, o envelhecimento e a desertificação, construindo-se um futuro que impeça o nosso concelho de morrer aos poucos.
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Novembro de 2005.
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