Nós, os pais que nos dizemos católicos, alguns mesmo que em nome de uma coerência irracional se dizem “católicos não praticantes”, vulgarmente demitimo-nos do nosso papel de pais responsáveis e, tal como Pilatos, lavamos as nossas mãos quando entregamos a educação dos nossos filhos às nossas paróquias onde os senhores padres zelosos e, com a ajuda abnegada de catequistas, procuram prepará-los para os diversos sacramentos.
No dia das cerimónias religiosas dos nossos filhos, vestimo-nos a preceito, pomos gel e até queremos estar na primeira fila com a máquina fotográfica digital em punho a pensar, impacientemente, no farto banquete encomendado previamente, mas esquecemo-nos do essencial: da educação dos nossos filhos.
As catequistas, os senhores padres, os professores que eduquem os nossos filhos! Nós não temos tempo para isso! Os filhos são nossos, mas a educação dos nossos filhos pertence aos outros porque somos pais modernos, “morangos com açúcar”. Não somos pais “cotas”, mas “bué de fixes”. Enquanto os nossos filhos crescem com o umbigo ao ar, com crista, com brinco, com “piercing” no nariz, na língua, entre os dentes e nas sobrancelhas, nós não lhes facultamos referências e valores. Nós, pelo contrário, deleitámo-nos na mesa de um café discutindo o futuro: os jogos de futebol, os treinadores e os jogadores. Às vezes, também sobra tempo para uma nova marca de cerveja, talvez mais macia!... Ainda bem que somos sociedade rasca! A dos nossos pais foi a sociedade que foi… E a nossa?!...
O que os falta é tempo. Falta-nos tempo para estimular nos nossos filhos a aquisição de uma maturidade cívica e sócio-afectiva sólida, criando neles atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação que visem a formação de cidadãos civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida quotidiana com qualidade e valor.
Nós, os pais do século XXI, somos pais sem tempo, muito apressadinhos e indignámo-nos quando alguém nos informa do comportamento, das atitudes ou da postura negativa dos nossos filhos. Nós não toleramos que nos falem dos comportamentos ou das atitudes negativas dos nossos filhos. Ai de quem se atreve a dizê-lo!... Eles, “os nossos meninos”, estão acima de tudo e de todos. Estão mesmo muito acima de todas as regras de convivência social! E aos nossos olhos são perfeitos!
Em nome da igualdade, a relação dos nossos filhos adolescentes com os adultos deixou de ser vertical e passou a ser horizontal e, regra geral, quando surge a repreensão ou a chamada de atenção a culpa é sempre dos mais crescidos. Os adultos não os sabem motivar, os adultos não lhes sabem falar!
Será de bom senso sujeitarmos os adultos às grosserias e aos caprichos dos adolescentes?
Apetece-me citar Gil Vicente e dizer que o mundo dos pais “está às avessas, de pernas para o ar”. Mas é tempo de começarmos a endireitá-lo.
Publicado no jornal o "Geresão" em 20 de Março de 2006.
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