sexta-feira, 1 de março de 2013

Carvalheira: da água que abre o apetite às delícias da natureza

Há localidades que parecem ter sido desenhadas pelos deuses. A freguesia de Carvalheira é uma delas. Possui uma encosta adornada por um admirável manto verde, as suas águas são de alta qualidade e as suas gentes são acolhedoras e sabem receber.
 
Assento, Cabaninhas, Ervideiros, Infesta, Paredes e Quintão. Seis lugares de uma freguesia que se assume como o centro geodésico de Terras de Bouro, tornando-se dessa forma na via mais rápida e mais curta para chegar a outros pontos do concelho.
 
Apesar disso, Carvalheira não é apenas um local de passagem estratégica. É um novelo de encanto, de paisagens arrebatadoras, num encontro entre o passado e o presente. É a terra da água que abre o apetite, por isso se apelida de fastio, de pontes que sobreviveram às invasões francesas, de um rio que tanto Homem como Seca, é uma terra pintada de verde e castanho, de salgueiros e de carvalhos que formam uma cúpula, um biombo protector por toda a encosta em que se desenha a freguesia.
Em plena vaga de frio, conhecer Carvalheira tem tanto de encantador, como de cortante, mas o saldo final é caloroso, reconfortante, não só pelas suas paisagens, mas essencialmente pelas suas gentes. Por vezes, as viagens não começam verdadeiramente em pontos de partida, contudo Carvalheira abriu as suas portas pela nascente das águas do fastio. A fábrica está instalada na freguesia vizinha de Chamoim. Contam os antigos que houve uma desavença que chegou a tribunal e levou à criação de um novo mapa na zona.
A antiga fábrica estava instalada em Carvalheira, tal como a nascente. A imagem de Nossa Senhora chama de imediato à atenção. “Não sei se é a mesma que estava na antiga fábrica ou se é outra. A verdade é que, devido à degradação, houve uma derrocada na antiga fábrica, caiu praticamente tudo e apenas ficou o altar. Há quem diga que Nossa Senhora apareceu aqui”, destaca António Machado, presidente da Junta de Freguesia.
Da nascente ao parque de lazer de Ervideiros foi um abrir e fechar de olhos. “Era uma lixeira e decidimos dar dignidade a este local. Tínhamos planeado uma obra, contudo a abertura do presidente da autarquia Joaquim Cracel Viana em ajudar à requalificação desta zona da Soeira foi fantástica e alterámos o plano inicial. A Câmara Municipal de Terras de Bouro contribuiu com os materiais e nós com a mão-de-obra. Requalificámos os tanques, o espaço, colocámos um fontanário e hoje em dia temos orgulho da obra que foi executada”, salienta António Machado.
De seguida, o plano da visita indicava a ponte de Carvalheira. Ao estilo romano, sobreviveu às invasões francesas. “Algumas foram deitadas abaixo para impedir a passagem dos invasores. Esta não”, assevera.
 
“O rio que atravessa esta zona da freguesia é o Homem, mas há quem lhe chame também rio Seco, uma vez que a um quilómetro daqui por vezes não há rio”, acrescenta ainda. A descida é íngreme e a calçada também não ajuda. Pelo meio a estrada torna-se mais curta, já que em tempos, por impeditivos legais, para chegarem os apoios comunitários, essa zona teve que ser mantida intacta, dada a presença de carvalhos. As árvores acabaram por ser cortadas, mas a estrada manteve-se igual. Na parte final há a necessidade de uma intervenção, até porque há um antigo moinho, que agora até é espaço de animação”.
Neste roteiro entre passado e presente, projecta-se igualmente o futuro. As obras em curso, mas também um momento alto, de forte cunho religioso. Até porque entre festas e romarias, destacam-se sete: S. Sebastião (Janeiro), S. Paio (Junho), S. Pedro (Junho), Bom Jesus das Mós (Junho), S. Caetano (Agosto), Senhora do Rosário (1.º Domingo de Outubro) e Santa Bárbara (Novembro).
 
Perante isso, dá-se um salto à Igreja Matriz, que tem como orago S. Paio e que foi Abadia de apresentação da Diocese Bracarenses. Fica no lugar do Assento e tem a capela-mor azulejada, sendo mesmo o seu interior revestido de pinturas. Logo de imediato, subida em direcção ao Alto das Mós, onde se ergue a capela consagrada ao Coração de Maria e o miradouro do Bom Jesus de Mós.
Uma paisagem idílica da freguesia, uma oferenda dos deuses, em ano centenário. “Em Junho vai ser uma festa fantástica. A Junta de Freguesia pretende dar o máximo apoio para uma celebração que pretendemos que seja memorável. Festejar um século da construção do monumento é um marco histórico e não podemos deixar passar em claro”, defende o autarca António Machado.
 
Ainda na análise do presente, e depois de uma visita ao Bairro Social de Outeiro das Cruzes, no Lugar do Assento, obra emblemática inaugurada em Outubro de 2007, eis que se observa a curva de Infesta. No passado era local bastante acidentado, dada a sua morfologia, contudo foi alargado, tornando-se quase uma recta tranquila. A estrada foi mesmo requalificada e alterada até ao lugar do Ervideiros, contudo o futuro vai trazer uma nova intervenção de fundo, com um melhoramento significativo das vias de comunicação entre o lugar de Infesta e o lugar de Paredes. “É grande parte da freguesia e até Junho tem que ficar pronto, devido à festa de Bom Jesus de Mós”, considera ainda o presidente da Junta de Freguesia.
Fonte: Correio do Minho, em 1-03-2013

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