Quando a vítima disse ao seu companheiro que não mais veria o filho de ambos sentenciou a sua morte: o arguido, de cabeça perdida, pegou numa faca de cozinha. Disse ter espetado duas facadas; mas foram oito.
Filipe Amorim, de 37 anos, o autor confesso do crime de homicídio de Maria da Luz Fernandes, de 35, na altura dos factos professora de Geografia em Terras de Bouro, justificou ontem no seu julgamento as razões que o levaram a matar a sua companheira naquela noite de 10 de Maio de 2012, no apartamento que ela alugara em Maximinos e onde vivia com o filho de ambos, o pequeno Afonso, meses antes deste completar dois anos de idade.
O relacionamento de ambos como casal, durante quatro anos, conheceu piores dias por, alegou o arguido Amorim, actualmente em prisão preventiva, Maria da Luz tomar comprimidos para emagrecer, desagradando-o. Em Janeiro de 2012 separaram-se, mas mantiveram-se em contacto por telemóvel.
Maria da Luz deixou a casa em que viviam em Vila Verde, mudando- se para a casa da ama do pequeno Afonso e Filipe Amorim avançou no mês seguinte com o pedido junto do Tribunal de Família e Menores para o exercício do poder paternal da criança.
Em Abril reconciliaram-se, e Maria da Luz veio para Braga, alugando um apartamento em Maximinos.
Sem deixar a casa em Vila Verde, Filipe Amorim veio para junto de Maria da Luz, nesse apartamento.
A felicidade dela com o nascimento da criança contrastava com alegada violência dele por ela dar mais atenção, justificou uma testemunha, ao filho que a ele.
Naquela noite, a mãe da professora, Maria das Dores, pegou no telefone fixo e ligou para a filha, aconselhando-a a deixar o arguido que, aliás, como o próprio ontem disse, até já tinha as malas feitas.
O arguido desmentiu que o seu acto fosse motivado pelo facto de ter tido conhecimento que Maria da Luz tivera outro relacionamento enquanto estiveram separados. Cometeu o crime quando, no calor da discussão, Maria da Luz lhe disse que não mais veria o filho de ambos e pegou numa tesoura cortando o cartão do telemóvel dela: ou seja, entendeu que, a partir daí, Amorim deixaria de poder contactá-la. Perdeu, pois, a cabeça. Lembra-se de pegar na faca de cozinha e espetar-lhe duas facadas. Não se lembra das restantes seis, todas elas bem explicadas no relatório da autópsia.
A justificação do arguido foi posta em causa por testemunhas amigas da vítima. A última do dia referiu que o principal motivo das discussões seria o dinheiro.
Empurrões
Durante a manhã, perante o colectivo presidido pela juíza Luísa Alvoeiro e a procuradora Graça Braga, ouviu-se o depoimento de uma colega de Maria da Luz, tendo sido ouvidos durante a tarde um vizinho da vítimas, a mãe da vítima, três agentes da PSP, a educadora do pequeno Afonso e duas outras colegas de Maria da Luz que, de certo modo, permitem perceber os contornos do crime.
Membros das famílias da vítima e do arguido envolveram-se no átrio da Vara Mista numa discussão acalorada e com empurrões, obrigando à intervenção de agentes da PSP que tinham sido previamente requisitados para o julgamento que contou com a presença de alunos de Direito e de jovens advogados, bem como muita gente de Riba de Mouro, Monção, que viajou para Braga num autocarro disponibilizado pela família da vítima, alguns dos quais exibiram cartazes com censura ao arguido e com pedido de justiça.
O julgamento prossegue a 4 de Abril, a partir das 9.30 horas.
Fonte: Correio do Minho, em 22-03-2013
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