sábado, 30 de março de 2013

Peneda-Gerês: Esse parque que não se materializa

Entre as serras da Peneda e do Gerês, o desenvolvimento faz-se à medida da inação. É assim que se vive num parque nacional gerido longe do terreno: com regras para quase tudo e sem compensações.
A porta da igreja do Lindoso tem a vista aberta à altanaria do castelo, encaixilhado por uma das mais belas colónias de espigueiros do Alto Minho. Nas costas, a "casa do padre", pedra lavada, janelas pintadas, um mimo recuperado de velhas paredes outrora caiadas. Teve de ser assim, regras daquele senhor distante que dá pelo nome de Parque Nacional da Peneda--Gerês (PNPG).
"Depois fazem isto!" O gesto de Custódio Branco envolve o quase novel edifício das "Portas" do PNPG, um cubo de betão armado, em parte revestido de ripas de madeira desgastadas pelo rigor da montanha, a esconder o castelo de quem vive a jusante na aldeia granítica.
Em Castro Laboreiro, Carlos Reis (re)monta pedra a pedra uma futura casa de turismo. "É manter a traça conforme estava". Não muito longe, a casa florestal da Dorna foi rebocada de branco.
Viver nos braços do único parque nacional português, classificado reserva da Biosfera, é isto: obedecer a constrangimentos vários, assistir a contradições e ver o desenvolvimento limitado à perpetuação das tradições. Ou quase.
É pelo menos o que acha quem sente na pele a obrigação de recuperar a casa do pai ou da avó retirando-lhe o reboco protetor da humidade, e acrescentando-lhe o granito que é da paisagem. Da qual, refira-se, não podem retirá-lo. Por lei. A mesma que exige pareceres - pagos - de uma entidade abstrata da qual não vêm compensações.
O olhar mais suave de quem ouve dos dois lados, caso de Custódio, pároco do Lindoso (Ponte da Barca) e do Soajo (Arcos de Valdevez), permite ver nas restrições uma forma de evitar e corrigir atentados paisagísticos. Quanto ao resto, ouve-se aqui e ali, há queixas escusadas. E há, sobretudo, "falta de informação", lamenta um habitante de Castro Laboreiro (Melgaço) que prefere não dar o nome. "Veem o parque como algo que lhes vai proibir algumas coisas. A mensagem positiva não passa". Talvez porque, admite o mesmo morador, "o PNPG não se faz presente". E "tem um sistema repressivo em vez de apoiar", vaticina, sem papas na língua, o professor soajense António Domingues.
Depois, há o lobo ibérico. Protegido. E, diz-se "já brincado". Sem medo do homem. O gado ido leva três anos a ser ressarcido, mas os subsídios à pastorícia obrigam à reposição do animal em falta em 15 dias, reage António Neto, do Soajo. Para Olívia Rodrigues, do Lindoso, o mal é o javali que não se pode caçar à vontade (o plano de ordenamento do parque limita a caça a zonas concessionadas). Uma solução? Numa rua de Castro Laboreiro arriscam: mais autonomia. E mais meios.
Jornal de Notícias, em 30-03-2013

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