É a terceira instância termal da região e nasce do desejo de António e Ana Martins, após regressarem a Portugal depois de muitos anos vividos nos Estados Unidos da América, criarem o seu próprio negócio utilizando os recursos naturais que os seus terrenos ofereciam. Em Moimenta encontraram um curso de água com qualidades que muitos consideravam ótimas para a criação de uma instância termal. Deitaram mãos à obra para, durante alguns anos, pôr de pé o sonho de terem o seu próprio negócio.
Em funcionamento desde 2010, as Termas de Moimenta foram oficialmente inauguradas no passado domingo, numa cerimónia que contou com a presença de vários representantes dos ministérios da economia e da saúde. Todos eram unânimes: este novo espaço é “uma mais-valia para a região”, quer em termos de incremento de qualidade de vida, quer pela criação de empregos que possibilita.
A qualidade dos equipamentos e do profissionalismo do trabalho desenvolvido é um dos pontos fortes deste novo espaço de promoção da saúde e bem-estar, bem como as capacidades terapêuticas das águas sulfurosas das Termas de Moimenta, especialmente indicadas para os tratamentos de doenças crónicas e alérgicas das vias respiratórias (como rinite, sinusite, asma, bronquite, entre outras) e problemas de pele (como psoríase, urticária e eczemas crónicos), a par das doenças de foro reumatismal (desde osteoporose e degenerativas, a inflamatórias, reumatismo e nevralgias).
A abertura deste espaço resulta do espírito empreendedor e da persistência do espírito de sacrifício de Ana e António Martins para levarem avante o projeto de rentabilização destas águas com propriedades medicinais – classificadas como águas sulfúreas bicarbonatadas sódicas –, superando obstáculos, sobretudo burocráticos, que muitas vezes impedem a concretização de grandes investimentos em Portugal.
“Tínhamos comprado estes terrenos e como a água nascia cá e acabava por se perder, resolvemos fazer uma análise para atestar as suas propriedades. Depois de estudarem as propriedades da água, os responsáveis do Instituto Ricardo Jorge explicaram-nos que era a água ideal para se criar uma instância termal. Ora, como tínhamos regressado dos Estados Unidos e ainda procurávamos encontrar a nossa real vocação de volta a Portugal, resolvemos arriscar. O meu marido já tinha trabalhado em ginásios, nos Estados Unidos, e eu tinha feito um estágio nas Termas de Almeida, no distrito da Guarda, pelo que já possuíamos algum conhecimento da área”, explicou Ana Martins, gerente da instância termal.
Em Terras de Bouro, conta Ana Martins, “há pelo menos duas nascentes de água com estas propriedades”. “As pessoas diziam que esta nascente era uma dessas e que este tipo de água já teria ajudado, inclusive, no passado, algumas crianças a tratarem a lepra. É uma água rica em enxofre e teria ajudado a limpar algumas das feridas e a curar algumas dessas crianças. Para tirar as dúvidas, resolvemos analisar a água e confirmaram-se as suspeitas”, refere.
Este casal terrabourense teve, depois, de realizar um contrato com o ministério da economia para continuar com a prospeção e pesquisa para criação deste negócio. “Lamentavelmente, só obtivemos uma resposta definitiva e a licença do ministério da saúde em agosto do ano passado, ou seja, 13 anos depois de termos dado início a todo o processo. No nosso país, infelizmente, reina a burocracia”, lamenta Ana Martins.
Ana Martins nasceu a 31 de julho de 1960, em Moimenta, é casada e tem três filhos. Com o 12º ano de escolaridade feito em Terras de Bouro, viveu alguns anos nos Estados Unidos. Regressou para criar, com o seu marido, um negócio familiar. Antes, numa espécie de formação complementar, fez um estágio nas Termas de Almeida.
Investimento “avultado”, mas que “não podia parar”
Depois de assinado o contrato de prospeção e pesquisa e de percorrido todo esse percurso, Ana Almeida e o marido partiram para a construção do edifício sede da instância termal. “Não podíamos parar nessa fase. Depois de termos feito o contrato com o ministério, se não avançássemos nós, eles poderiam atribuir a concessão a outra entidade. Então metemos mãos à obra. Não foi fácil, contudo, porque todo este equipamento é muito caro”, garante a gerente das Termas de Moimenta.
Os equipamentos, refere, “são todos especiais”. A maioria é feita em inox 316, “o único que resiste a uma água rica em mineralização”. Cada banheira, por exemplo, custa para cima de 17 mil euros.
Com a ajuda da ATAHCA e do professor Mota Alves, o casal terrabourense candidatou o projeto e obteve uma resposta positiva. “O projeto a executar não poderia ter um orçamento acima dos 200 mil euros e seria comparticipado em 60% a fundos perdidos, desde que criássemos, pelo menos, dois postos de trabalho. Assim fizemos. Foi uma excelente ajuda para aquisição de equipamento. Não deu para tudo, mas foi fundamental”, admitiu Ana Martins.
A equipa técnica das Termas de Moimenta é, neste momento, composta pelo diretor clínico, José Oliveira, o diretor técnico, uma massagista, a gerente, Ana Almeida, e o marido que cuida da manutenção da estrutura.
Os primeiros tempos de vida das Termas de Moimenta “têm corrido, para já, muito bem”. “Apesar de só termos inaugurado oficialmente o espaço no domingo, a verdade é que já estamos abertos desde 2010. No entanto, atualmente, o ministério da saúde exige uma série de testes médicos, comprovados ao longo de meses, para atribuir a licença final. Por isso, ao longo dos dois últimos anos, já por aqui passou muita gente para cumprir os tratamentos. A única diferença é que não podíamos ter uma tabela de preços por nós estipulada. Tínhamos apenas que cobrar uma taxa estipulada pelo ministério”, explica a gerente.
Ao todo, já terá passado pela estância termal de Moimenta mais de um milhar de pessoas. Algumas delas repetentes. “Temos gente que vem cá fazer tratamento em maio e, depois, regressa em outubro, antes do encerramento da época termal”, desvenda Ana Martins, referindo que este é um “negócio sazonal, que funciona do início de maio ao fim de outubro”.
Água termal que se distingue de outras na região
Distinta das águas termais de Caldelas ou do Gerês, esta água termal de Moimenta tem características e valências muito específicas, direcionadas para o tratamento de doenças relacionadas com o aparelho respiratório, doenças reumáticas ou tratamentos de pele.
Ao nível das vias respiratórias, é possível trata-se a rinite, a sinusite, a bronquite, problemas de asma ou alergias.
Em termos de doenças reumáticas, os tratamentos aplicam-se a artroses, problemas nos joelhos, entre outras maleitas relacionadas com os ossos. Finalmente, ao nível dos tratamentos de pele é, por exemplo, possível combater-se a psoríase. “Apesar da doença não ter cura, a nossa água limpa tudo, tira o cascão e a comichão. Na maioria dos casos, nestas três vertentes, o tratamento tem efeitos comprovados, desde que o utente siga à risca as instruções do diretor clínico”, assegura Ana Martins.
Os tratamentos são feitos à base de banheira, hidrobalneoterapia, duche vichy, vapor à coluna - muito eficaz para tratamentos de coluna e hérnias - vapor aos membros e tratamentos para as vias respiratórias.
De acordo com Ana Martins, esta água termal de Moimenta nada tem a ver com a que existe em Caldelas ou na Vila do Gerês. “São águas que não têm nada a ver. Em Caldelas, a água é mais direcionada ao tratamento de doenças relacionadas com os intestinos, enquanto no Gerês penso ter mais a ver com problemas de vesícula, rins e fígado. Creio que a do Gerês até é passível de ser consumida. Esta nossa não dá para beber, porque é muito conhecida como água de enxofre, que se nota até pelo cheiro. Como não fizemos estudo para avaliar a possibilidade de ser consumida ou não, direcionamos apenas o seu uso para os tratamentos indicados. É uma água muito boa, por exemplo, para hidratar a pele”, distingue a empresária terrabourense.
A água termal de Moimenta tem, aliás, “um componente que a torna única e só possível de ser encontrada nesta região granítica de Terras de Bouro”. Tal exclusividade está, inclusive, comprovada no relatório analítico do projeto.
Os tratamentos esses, “podem ser feitos por qualquer pessoa, de qualquer estrato social”, garante Ana Martins.
Feedback “muito positivo” dos utentes
Sem grande investimento em publicidade, as Termas de Moimenta socorrem-se da satisfação do utente para promover os seus tratamentos de saúde. A publicidade boca-a-boca é, no entender de Ana Martins, “a mais verdadeira e eficaz”. “A nossa publicidade, para já, tem sido apenas boca-a-boca. Temos, agora, uma página de facebook e estamos a preparar um site oficial, mas de resto, o melhor veículo de promoção do nosso negócio é um utente satisfeito”, defende.
À instância termal de Moimenta já chegaram, só pela partilha de opiniões, muitos utentes estrangeiros, nomeadamente holandeses. Além disso, muitos familiares de personalidades públicas já ouviram, também, falar nas “maravilhas” operadas pela água de enxofre de Terras de Bouro. A mãe e tia do Ministro da Segurança Social e familiares da apresentadora da RTP Sónia Araújo são alguns desses exemplos.
O feedback de todo eles, assegura Ana Martins, “é muito positivo”. “As pessoas saem muito satisfeitas e, na maioria das vezes, regressam porque se sentem bem”, afirma.
“Nos primeiros anos, caminhámos praticamente sozinhos”
Terras do Homem: Quais as maiores dificuldades que sentiram para pôr de pé este negócio?
Ana Martins: Acima de tudo, foi a necessidade de ultrapassarmos sozinhos todos os aspetos burocráticos.
Por outro lado, também sentimos uma certa falta de apoio inicial, naquele momento em que precisamos que nos orientem. Ceio que, quando alguém quer criar um negócio que irá gerar emprego, deveria ser uma obrigação moral das entidades locais facultarem todo o auxílio necessário ao empresário para que não desista do seu projeto. No nosso caso, nos primeiros anos, andámos praticamente sozinhos.
TH: Que mais-valia representa, no vosso entender, as Termas de Moimenta para o concelho e para a região?
AM: Em termos diretos, por exemplo, implicou a criação de alguns postos de trabalho. Em termos indiretos, beneficia o comércio e a hotelaria local. Já encontrei utentes nossos, no final dos tratamentos, a fazer compra em mercearias e supermercados daqui da Vila de Terras de Bouro. Por outro lado, quando os tratamentos implicam a estadia do utente, por alguns dias, aqui em Moimenta, também os espaços hoteleiros acabam beneficiados.
Gostos e preferênciasOnde vive?
Em Moimenta.
Profissão?
Gerente das Termas de Moimenta.
Últimas férias que fez?
Nos Estados Unidos, precisamente.
Último passatempo?
Nos últimos dias, tenho muito pouco tempo livre. Só dá para descansar.
Carro que usa?
Um gipe, Toyota 4Runner.
Almoço de hoje?
Massa com frango.
Bebida de hoje?
Água.
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Onde gostaria de viver?
Não troco Moimenta por nada.
Que profissão gostaria de ter?
Encontrei o que me realiza completamente.
Férias preferidas?
Um cruzeiro.
Passatempo preferido?
Gozar do ar fresco proporcionado por estas paisagens mais selvagens.
Que carro gostaria de ter?
Desde que me transporte até onde quero, não ligo minimamente.
Prato preferido?
Arroz de cabidela.
Bebida preferida?
Não tenho uma preferida.
Fonte: Terras do Homem, em 20-06-2013
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