A Vila do Gerês parou ontem para ver passar o gado na subida da vezeira. Foram muitos aqueles que se aglomeraram nos passeios da principal via do Gerês para apreciar os bois, vacas e vitelos que ontem rumaram em direcção à serra, onde vão permanecer até setembro.
A vezeira é uma associação comunitária dos pastores que visa a guarda do gado na serra à vez. Consoante o número de cabeças de gado que cada pastor possui, isso determina o número de dias que cada um deverá passar sozinho. É uma forma de todos se ajudarem. Por outro lado, se um animal morrer durante este tempo, todos quotizam-se para compensar o pastor prejudicado.
Esta é uma tradição muito antiga, que agora acontece de forma mais organizada pelo nono ano consecutivo pela Associação Lírios do Gerês.
Aos jornalistas, o presidente desta organização sublinhou que «esta é uma tradição que existe já desde 1802» e o grande objetivo da associação foi pegar nesta tradição e tentar aliá-la ao turismo, a principal atividade da Vila do Gerês.
«No fundo, é fazer com que esta subida da vezeira se torne uma atração turística. Por outro lado, também nos interessa incentivar as pessoas que tenham gado para que mantenham a tradição e isto não acabe», disse.
Segundo Miguel Teixeira, nestes últimos anos tem-se verificado que o número de cabeças de gado a passar pelo centro da Vila do Gerês neste dia de subida da vezeira tem vindo a aumentar.
Aliás, sublinhou, ao organizar esta festa pretende-se encorajar os vezeiros a que não acabem com a sua atividade e até a que comprem mais gado. E, ao que parece, estes são objectivos que estão a ser alcançados.
«Há pessoas que não tinham gado e agora, com esta festa e com o gosto de passar aqui para ir para a serra, compram uma cabeça de gado, para não deixar que termine esta tradição», realçou.
O presidente da associação realçou, por outro lado, que a subida da vezeira está a constituir-se cada vez mais como um excelente cartaz turístico.
Miguel Teixeira garante que, de ano para ano, verifica-se que há cada vez mais pessoas a assistir à passagem do gado, aproveitando depois o resto do dia para apreciarem as boas comidas do concelho na Mostra Gastronómica e divertirem-se em convívio.
«Nós já fazemos actividades no sábado e, por isso, há pessoas que já vêm cá dormir nos hotéis para verem no domingo de manhã o resto do programa», disse.
Entre os presentes ontem de manhã no Gerês, o presidente da Câmara de Terras de Bouro fez questão de sublinhar a importância deste evento para esta região. Segundo Joaquim Cracel, a subida da vezeira é importante tanto do ponto de vista cultural, como até etnográfico. «Podemos dizer que isto é a preservação dos costumes ancestrais dos agricultores aqui do Vale do Cávado, no concelho de Terras de Bouro», disse.
Para além disso, realçou ainda, este evento tem também uma grande importância turística, na medida em que «traz ao Gerês muita gente durante o fim de semana».
Questionado sobre se tem havido nestes últimos anos um aumento no número de bovinos no concelho, o autarca sustentou que tem-se verificado uma estagnação. Aos jornalistas, Joaquim Cracel lembrou que este já foi um concelho muito importante na criação de gado, pelo que seria importante que se voltasse a registar um aumento nesta área. No entanto, acrescentou, o estado da economia no país tem dificultado a vida às famílias que vivem da agricultura e aos pastores, não permitindo que eles invistam muito na compra de novos animais.
PNPG merece diretor próprio
O presidente da Câmara de Terras de Bouro defende que o Parque Nacional da Peneda Gerês merecia ter um diretor próprio, tal como já aconteceu num passado recente.
Recorde-se que, neste momento, o responsável máximo pelo PNPG é o diretor do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte.
«Nós gostávamos que houvesse um diretor para o PNPG. Seria mais útil. Embora haja atualmente uma pessoa, Duarte Figueiredo, com quem eu contacto com muita frequência, que é quem está mais próximo de nós.
O diretor do parque, que é responsável por toda a zona Norte, passa a maioria do tempo em Vila Real.
Fonte: Diário do Minho, em 13-05-2013
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