terça-feira, 19 de outubro de 2010

Caniçada: segundos de desatenção provocaram tragédia

Atraídos pela beleza da paisagem durante um passeio fluvial na albufeira da Caniçada, um grupo de amigos deu alguns "segundos de liberdade" à pequena Filipa. A criança, de quatro anos, acabou por se esgueirar por uma janela da embarcação de passeios turísticos e caiu na água. António Baptista, pai de Filipa, atirou-se mas acabou por se afogar. A menina foi salva por amigos de António.Filipa, tal como o pai e os restantes tripulantes, não tinham coletes de salvação. "Cumprimos a lei, que não obriga ao uso dos coletes de salvação, apesar destes estarem no barco, como é obrigatório", afirmou, ao JN, o vice-presidente da Câmara de Terras de Bouro, Luis Teixeira. O responsável pela Protecção Civil acrescenta que não vão alterar os procedimentos "por ter havido um acidente em 13 anos" de actividade.
António, 32 anos, continua desaparecido na albufeira da Caniçada. Ontem, enquanto as buscas decorriam, a esposa e amigos da família, presentes na altura do acidente, regressaram ao Centro Náutico do Rio Caldo. Em declarações ao JN, os companheiros da trágica viagem contaram que só se aperceberam do sucedido após um "berro" de alerta. "Houve alguém que começou a gritar que a criança tinha caído à água. Ele atirou-se de imediato à água para salvar a filha. Um amigo do casal também foi ajudar e conseguiu chegar à menina. A esposa deste último também foi ajudar na água pois ele estava em apuros com a criança nos braços", contam.
O grupo (24) realizava frequentemente convívios, após se terem conhecido em França numa iniciativa da comunidade Taizé. Ontem, as buscas centraram-se numa zona onde cães de busca detectaram odores nas águas, junto ao local do acidente. Mergulhadores estiveram todo dia em trabalho, mas sem sucesso. Buscas são retomadas hoje.
"O meu filho não resistiu quando viu a minha netinha a perder-se nas águas da barragem e lançou-se à agua. Embora nadasse muito bem, fez tudo com o coração. A cabeça não funcionou", chora António Batista, pai do homem cujo corpo continuava, ontem, desaparecido.
Em Mioma, Sátão, de onde António Batista era natural, pais e irmão vivem acabrunhados pela dor e pela incerteza. "Enquanto o corpo dele não aparecer, queremos acreditar que possa estar vivo", diz Hugo, o irmão mais novo. Sábado foi a última vez, antes do passeio de barco no Gerês, que a família esteve junta. "No sábado almoçaram connosco. No domingo recebemos a terrível notícia", relata o pai angustiado. A mãe, Alcina, segura a foto do filho.
António Batista, de 32 anos, casado e pai de duas meninas (Filipa, de 4 anos e Beatriz de 7), estudou para ser padre no Seminário Menor de Fornos de Algodres e no Seminário Maior de Viseu. Chegou a fazer dois anos na Faculdade de Teologia. Há cerca de 10 anos desistiu, casou e dedicou-se à actividade bancária e de seguros. Em Julho, abriu, em Sátão, uma agência de consultadoria financeira.
Fonte: Jornal de Notícias, em 19-10-2010

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