Ao final da manhã de ontem chegava a Mioma, uma localidade do Sátão, a notícia que ninguém queria ouvir, mas que todos já temiam: o corpo de António Batista tinha sido encontrado pelos mergulhadores dos bombeiros do Porto e de Vila das Aves. O que se previa ser um passeio entre família e amigos num domingo solarengo, transformou-se no dia mais trágico para a família Batista que perdeu um dos seus entes queridos. António Batista, 32 anos, participava num passeio de barco na barragem da Caniçada, em Terras de Bouro, com a esposa, as duas filhas e um grupo de amigos que conhecera num encontro em Taizé, França (evento religioso). Filipa, a filha mais nova, esgueirou-se por uma das janelas do barco e caiu à água, levando o pai a saltar logo a seguir para salvar a menina. "Ele sabia nadar, não sei o que aconteceu. Deve ter ficado sem forças, a roupa e os sapatos devem ter feito muita força", disse Hugo Batista, irmão mais novo de António, tentando encontrar uma explicação para o que aconteceu. Hugo acha que o irmão aguentou quanto pôde até chegar alguém que salvasse a filha e depois terá pensado: "Já fiz o que tinha a fazer", rendendo-se à força das águas turvas da barragem. Ontem, a família refugiou-se em casa por onde foram passando alguns amigos, essenciais nestas horas difíceis de suportar. "É uma ajuda importante, temos tido muito apoio dos amigos e da família, porque só quem passa por elas é que sabe o que custa", afirmou Hugo Batista, que foi recebendo abraços e condolências de várias pessoas enquanto falava com o Diário de Viseu. E pediu: "Que nunca me deixem sozinho, porque suportar tudo sozinho é muito mais difícil". Também a cunhada, esposa de António, "está a aguentar" a tragédia, "mas ela é uma mulher muito forte". Irmão e melhor amigo "É tão difícil falar... o 'Tozé' era o meu único irmão, o meu melhor amigo, era a pessoa mais extraordinária que alguma vez eu conheci. Parece que me tiraram tudo", contou Hugo Batista com os olhos carregados de sofrimento. Hugo ficou sem chão. Resta-lhe apenas a angústia de uma grande perda e a responsabilidade, que ele próprio quis assumir, de ser a força da família para ajudar as sobrinhas, os pais e a cunhada. Admitiu, no entanto, que teve de tomar um calmante para conseguir dormir na noite de segunda para terça-feira, porque "deitava a cabeça na travesseira, mas ela não parava de trabalhar". Talvez os pais também tenham de recorrer a medicação para apaziguar o sentimento de perda e prosseguirem as suas vidas, pois, como disse Hugo: "A vida tem de continuar". O corpo de António Batista foi encontrado ontem de manhã e seguiu para a morgue do Hospital de Braga para ser autopsiado. A família ainda não sabe quando é que o corpo será libertado, mas tudo indica que poderá ser hoje. Ontem havia apenas uma certeza: o funeral irá realizar-se na igreja matriz do Sátão, porém ainda não se sabe quando. "Tenho a certeza que o pior ainda está para vir, vai ser quando ele chegar", receia Hugo Batista, referindo que o funeral será na igreja do Sátão, porque a capela de Mioma "é muito pequena para o mundo do 'Tozé'". Enquanto o corpo não apareceu, havia esperança, ainda que mínima, de António estar vivo. O irmão poucas vezes colocou essa hipótese, preparando-se para o pior, que veio mesmo a confirmar-se. "Pelo menos vamos dar-lhe um funeral condigno", sustentou. Hugo acredita que as sobrinhas ainda não se aperceberam do sucedido, visto que a mais nova tem quatro anos e a mais velha sete.
"A mais velha deve ter alguma noção, mas à mais pequena deve-lhe passar ao lado", relatou, lamentando o facto de ainda não ter conseguido estar com elas depois da tragédia. Homem ligado à igreja e a grupos musicais 'Tozé', como era conhecido na aldeia que o viu nascer, era um homem "extrovertido" que gostava de participar em diversas actividades, fossem elas desportivas, musicais ou religiosas. Costumava fazer jogos de futebol amigáveis, era um dos elementos da Infantuna e também fazia parte do grupo de recolha e divulgação da música popular do Sátão - Zaatam. António Batista foi seminarista e frequentou o curso de Teologia durante dois anos. Todavia, a vida tomou outro rumo: 'Tozé' casou-se e teve duas filhas, sem nunca abandonar a Igreja. Até há poucos meses, foi bancário em Viseu, profissão que deixou "por causa das filhas" para se tornar consultor financeiro num gabinete que abriu no Sátão. "Amava tanto aquelas filhas e quando a vida lhe estava a sorrir traí-o", revoltou-se Hugo, lembrando que, na passada quinta-feira, teve uma reunião com o irmão para iniciarem novos projectos no gabinete onde iam trabalhar juntos. Segundo Hugo Batista, este trabalho "era o sonho do 'Tozé', da mulher e das filhas", por isso, garante que vai lutar por ele. "Era uma jóia de pessoa" Em Mioma, 'Tozé' era conhecido por ser uma pessoa muito comunicativa, arrastando um sem número de amigos atrás de si. José Martinho, um habitante da aldeia, disse que 'Tozé' era "uma jóia de pessoa", mesmo tendo convivido poucos anos com ele. Anabela Almeida, outra moradora da povoação, também destacou a simpatia de António Batista e a sua vontade e prontidão de participar em diversas iniciativas. Houve pessoas que se dirigiram a casa dos pais de António na tentativa de encontrarem a esposa, mas sem sucesso. Em conversa com o Diário de Viseu comentaram que ela é professora de Educação Física, só que este ano não teve colocação. "Agora, desempregada e com as filhas para cuidar deve ser complicado aguentar tudo", acrescentaram.
Fonte: Diário de Viseu, em 20-10-2010
"A mais velha deve ter alguma noção, mas à mais pequena deve-lhe passar ao lado", relatou, lamentando o facto de ainda não ter conseguido estar com elas depois da tragédia. Homem ligado à igreja e a grupos musicais 'Tozé', como era conhecido na aldeia que o viu nascer, era um homem "extrovertido" que gostava de participar em diversas actividades, fossem elas desportivas, musicais ou religiosas. Costumava fazer jogos de futebol amigáveis, era um dos elementos da Infantuna e também fazia parte do grupo de recolha e divulgação da música popular do Sátão - Zaatam. António Batista foi seminarista e frequentou o curso de Teologia durante dois anos. Todavia, a vida tomou outro rumo: 'Tozé' casou-se e teve duas filhas, sem nunca abandonar a Igreja. Até há poucos meses, foi bancário em Viseu, profissão que deixou "por causa das filhas" para se tornar consultor financeiro num gabinete que abriu no Sátão. "Amava tanto aquelas filhas e quando a vida lhe estava a sorrir traí-o", revoltou-se Hugo, lembrando que, na passada quinta-feira, teve uma reunião com o irmão para iniciarem novos projectos no gabinete onde iam trabalhar juntos. Segundo Hugo Batista, este trabalho "era o sonho do 'Tozé', da mulher e das filhas", por isso, garante que vai lutar por ele. "Era uma jóia de pessoa" Em Mioma, 'Tozé' era conhecido por ser uma pessoa muito comunicativa, arrastando um sem número de amigos atrás de si. José Martinho, um habitante da aldeia, disse que 'Tozé' era "uma jóia de pessoa", mesmo tendo convivido poucos anos com ele. Anabela Almeida, outra moradora da povoação, também destacou a simpatia de António Batista e a sua vontade e prontidão de participar em diversas iniciativas. Houve pessoas que se dirigiram a casa dos pais de António na tentativa de encontrarem a esposa, mas sem sucesso. Em conversa com o Diário de Viseu comentaram que ela é professora de Educação Física, só que este ano não teve colocação. "Agora, desempregada e com as filhas para cuidar deve ser complicado aguentar tudo", acrescentaram.
Fonte: Diário de Viseu, em 20-10-2010
Juntamos um vídeo da Infantuna Cidade de Viseu.
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