O jornal “Público”, no dia 3 de Janeiro último, publicou o texto “Linha SOS Professores regista 400 pedidos de ajuda por casos de indisciplina e agressão”. A autora, Paula Torres de Carvalho, afirma que “a indisciplina na sala de aula se transformou num sério problema que, em muitas escolas do país, parece tender a agravar-se”. Afirma, ainda, que a indisciplina dificulta o trabalho de um número significativo de professores, afectando-os psicologicamente e que, em muitos casos, os leva a apresentar baixa médica.
De facto, quando há docentes que não se voltam para o quadro com receio do que possa acontecer nas suas costas e quando há alunas de 11 anos a maquilhar-se durante as aulas, a mandar mensagens e a contar anedotas, esta forma de violência e de indisciplina dificulta o trabalho dos professores. Que aulas podem dar os professores quando há alunos pirralhos a responder com riso e ironia às ordens dos professores? Que aulas podem dar os professores quando há alunos a saltar e a correr dentro da sala de aula? Que respeito temos nós quando um professor retira um telemóvel a um aluno do oitavo ano e o aluno com ajuda dos colegas lhe retira o relógio?
Pelos exemplos apresentados, verificamos que a indisciplina escolar apresenta expressões diferentes, sendo cada vez mais complexa e mais difícil de solucionar de uma forma racional, o que leva muitos docentes desesperados à apresentação de atestado médico e a pedir ajuda através da Linha SOS Professores.
Pela minha experiência, ouso afirmar que a Escola Pública não é, em regra, tão violenta nem tão indisciplinada como nos foi apresentada neste artigo e tanto os professores como os directores têm todas as condições indispensáveis para reportar os incidentes ocorridos.
No Agrupamento de Escolas de Palmeira, os casos de indisciplina são facilmente controláveis e, muitas vezes, resumem-se, apenas, à irreverência dos jovens, que sempre existiu, e não a casos de violência ou de indisciplina muito graves.
Contudo, a indisciplina assume outros contornos ainda mais preocupantes e difíceis de controlar sempre que um professor se tenta impor nas suas aulas e os pais o contestam acusando-o de ser demasiado rígido, chegando a levar o caso à ponderação do director. Quando assim é, os pais acusam a escola de não conseguir desempenhar o seu papel educativo junto dos seus filhos, acusando os professores de não saberem educar.
É inegável que, actualmente, os professores sentem cada vez mais dificuldades em manter a ordem na sala de aula e queixam-se, principalmente, do desrespeito e rejeição dos alunos pelas regras e, também, dos seus comportamentos pouco adequados, atribuindo a indisciplina à ausência de regras que já deviam trazer de casa.
Não estará a Escola Pública a viver uma crise de valores por muitos pais estarem a educar os filhos com valores “morangos com açúcar”? Será que todos os pais assumem a educação dos filhos como seria de esperar?
Os professores que eduquem os nossos filhos! Nós não temos tempo para isso! – afirmam muitos dos encarregados de educação. Os filhos são nossos, mas a educação dos nossos filhos pertence aos outros porque somos pais modernos, “morangos com açúcar”. Não somos pais “cotas”, chatos e aborrecidos, mas “bué de fixes”… E enquanto os nossos filhos crescem deambulando pelas ruas com o umbigo ao ar, com crista, com “piercing” no nariz, na língua, entre os dentes e nas sobrancelhas, nós não lhes facultamos referências e valores. Nós, pais, pelo contrário, deleitámo-nos na mesa dos cafés discutindo o futuro: os jogos de futebol, os treinadores e os jogadores. Às vezes, também sobra tempo para uma nova marca de cerveja ou para uma revista cor-de-rosa!...
Falta-nos tempo para estimular nos nossos filhos a aquisição de uma maturidade cívica e sócio-afectiva sólida, criando neles atitudes e hábitos positivos de relação e cooperação que visem a formação de cidadãos civicamente responsáveis e democraticamente intervenientes na vida quotidiana com qualidade e valor.
Nós, os pais do século XXI, indignámo-nos quando alguém nos informa do comportamento, das atitudes ou da postura negativa dos nossos filhos. Nós não toleramos que nos falem dos comportamentos ou das atitudes negativas dos nossos filhos. Ai de quem se atreve a fazê-lo!... Eles, “os nossos meninos”, estão acima de tudo e de todos. Estão mesmo muito acima de todas as regras de convivência social! E aos nossos olhos são perfeitos!
Em nome da igualdade, a relação dos nossos filhos com os adultos há muito tempo que deixou de ser vertical e passou a ser horizontal e, regra geral, quando surge a repreensão ou a chamada de atenção a culpa é sempre dos mais crescidos. Os adultos não os sabem motivar, os adultos não lhes sabem falar!
Mas será de bom senso sujeitarmos os adultos às grosserias e aos caprichos dos adolescentes?
Não estará o mundo de muitos pais “virado às avessas, de pernas para o ar”? Não será tempo de começarmos a endireitá-lo?
Entretanto, passemos das palavras aos actos e comecemos por explicar aos nossos filhos que a indisciplina gera violência e que os adultos e, em particular os professores, têm de ser respeitados.
Se nós pais assim o fizermos, estaremos a dar o primeiro passo para a construção de uma sociedade e de uma Escola Pública bem melhores.
Fonte: Correio do Minho, em 6-01-2011
1 comentário:
concordo com muito do que é aqui dito mas discordo de outro tanto: sou mãe e preocupa-me cada vez amior impotência demonstrada por alguns professores no controlo dos alunos dentro da sala de aula. Será a culpa só dos alunos? será dos pais? será que relamente temos que dizer aos nossos filhos que principalmente têm de respeitar os professores? Acho que não, temos que nos respeitar é uns aos outros e cada um desempenhar a sua profissão com profissionalismo (que é o q vejo faltar a alguns professores dos meus filhos: mandar mensagens de telemóvel dentro da aula e em frente aos alunos? acontece, mas não devia. eu no meu local de trabalho envio mensagens a amigos, mas não no meio de reuniões de trabalho ou em momentos que atrapalhem o desempenho dos outros. Enfim, não sou uma mãe morangos com açucar, tendo educar os meus filhos de acordo com os princípios em que acredito e que julgo devem ser seguidos sempre, em qq lugar, por qq profissional, mesmo que esse profissional seja professor( pq hoje, séc XXI, o professor já não é, felizmente,um ser intocável
nota: sou filha de um Homem que foi durante toda a sua vida um excelente e exigente professor!!
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