sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Presidente da Junta de Freguesia da Ribeira em entrevista ao jornal “Terras do Homem”

O presidente da Junta de Freguesia de São Mateus da Ribeira, António Marques, tem 56 anos, é casado e tem duas filhas. Com a antiga quarta classe concluída ao nível dos estudos, profissionalmente este autarca possui uma “mini-empresa” de catering que opera, essencialmente, no ramo hoteleiro.
Ao nível dos passatempos, António Marques confessa que a política lhe ‘rouba’ quase todo o tempo livre. À mesa, o presidente da Junta de Ribeira aprecia particularmente o bacalhau, “confeccionado de qualquer maneira”, acompanhado de “qualquer bebida”.
Em tempo de férias, António Marques espera ainda poder levar a família a passar uns dias nas Caraíbas.
No que toca a leituras, este autarca costuma ser um leitor atento de publicações noticiosas.

“Terras de Bouro tem enorme potencial turístico e durante décadas ninguém apostou nessa área”
Presidente da Junta de Freguesia de São Mateus da Ribeira há um pouco mais de nove anos, sendo este o seu último mandato, António Marques não se mostra particularmente apreensivo até porque considera ter feito “algumas obras importantes” para o futuro da freguesia e que, acima de tudo, foram “bem feitas”. Nos próximos três anos, e antes de abandonar o cargo, António Marques gostaria de ver resolvida, em parte, a questão do saneamento, melhoradas as condições das via que liga Gogide a Santa Cruz – uma das principais intervenções feitas no mandato transacto – e edificada uma capela mortuária, em falta na freguesia. Noutro plano, o autarca considera que “a revisão do PDM é fundamental para travar a desertificação das freguesias terrabourenses”.
Terras do Homem: Qual a grande prioridade, nos próximos três anos, para a freguesia de São Mateus da Ribeira, neste que será o seu último mandato enquanto presidente da Junta?
António Marques: O principal objectivo passa por construir vedações e melhorar os acessos à estrada que acabámos de abrir que liga Gogide a Santa Cruz, bem como proceder à pavimentação. Já falámos, inclusive, com a Câmara Municipal para ver se conseguimos concluir essa importante via de acesso já este ano. Isto porque as pessoas da freguesia cederam terrenos gratuitamente a troco de que lhes fosse garantidas as vedações e acessos a essa via. O compromisso foi assinado por outro executivo, mas esta nova equipa deverá honrar a autarquia cumprindo o que ficou acordado.
Até ao momento, temos tido um excelente relacionamento com este novo executivo, como também já tínhamos com o anterior. Mas sabemos também das condicionantes financeiras da autarquia que, em parte, até poderão migrar já de outros mandatos. Aliás, o município fez a transição de 2009 para 2010 com um défice face à Junta de Freguesia de Ribeira superior a 60 mil euros. Entretanto, o senhor presidente, Joaquim Cracel Viana, já foi cumprindo com o devido, mas ainda restam mais de 20 mil euros.

TH: Que outros empreendimentos quer ver executados até final do mandato?
AM: Além do que já foi referido, temos também acordado avançar com a construção, de raiz, de uma capela mortuária para a freguesia.
O alargamento da via que liga o Vau ao Cruzeiro será outro dos objectivos que queremos ver cumpridos. Gostaríamos também de proceder ao alargamento de algumas outras estradas, cortando algumas curvas e erguendo alguns muros para fixação dos terrenos.
A questão do saneamento também é muito importante e seria bom que conseguíssemos deixar as obras relativas a essa área já em andamento.
Por outro lado, há ainda alguns acessos que gostaria de abrir, mas no geral está quase tudo orientado. Penso que podemos afirmar que, daquilo que eram as nossas metas em 2001, 80% já terá sido realizado e cumprido.
TH: Quais as obras mais significativas que julga deixar, através dos seus mandatos, à Freguesia de Ribeira?
AM: Começámos por construir e instalar um cruzeiro na freguesia, uma vez que não existia nenhum até nós termos sido eleitos. É sempre um monumento importante numa freguesia de vincadamente cristã. Houve ainda quem criticasse essa obra, talvez por não terem conseguido, no passado, concretizá-la.
Também o cemitério da freguesia sofreu uma profunda intervenção, sendo quase totalmente remodelado e aumentado, uma vez que já se tornava bastante pequeno e sem condições.
O edifício da escola primária da freguesia também foi alvo de algumas obras para transformação do espaço na sede da Junta de Freguesia, tendo sido, para isso, requalificado quase na sua totalidade.
Finalmente, a abertura da estrada que liga Gogide a Santa Cruz foi outra das grandes obras realizadas e que já há décadas vinha sendo reivindicada.
No fundo, julgo que estas serão as quatro obras mais importantes dos mandatos cumpridos até ao momento.
TH: Há pouco falávamos do saneamento. Como se encontra a freguesia de Ribeira de São Mateus, nessa matéria?
AM: Até ao momento, temos apenas meia dúzia de metros feitos. Penso que nem 10% da freguesia terá qualquer tipo de rede instalada. Houve apenas uma pavimentação que se fez, numa determinada zona, onde se deixou já instalada a rede para futura utilização, até porque já houve quem construísse nas imediações.

TH: Acredita que essa poderá ser uma área contemplada com alguns fundos já neste mandato?
AM: O actual vice-presidente já vem anunciando o começo das obras nesse sentido desde há uns tempos a esta parte. A verdade é que, até agora, ainda nada foi feito. Mas estou em crer que o senhor presidente da Câmara estará atento a esta matéria e deverá proceder a intervenções, nesse sentido, entre 2012 e 2013, até porque sabe que a freguesia de Ribeira é das mais atrasadas no que toca a saneamento. É uma obra fundamental para o aumento da qualidade de vida das populações. Contudo, o concelho de Terras de Bouro, pelo relevo que possui, será uma área que levará a muita despesa nesse campo.
TH: Tal como outras freguesias do concelho terrabourense, e até de outros concelhos da região, também a freguesia de São Mateus da Ribeira é afectada pelo flagelo da crescente desertificação. Que medidas acha que poderiam ser tomadas para evitar essa fuga de habitantes da sua terra?
AM: De facto, essa é uma característica que afecta todos os concelhos do interior e as freguesias de Terras de Bouro não fogem à regra. Nesse sentido, há uma questão que já levantei no passado e que até incorporei no meu programa eleitoral que julgo ser muito pertinente e que se prende com a revisão do Plano Director Municipal.
Isto porque o actual PDM trava, e muito, o acesso dos jovens à edificação de habitação própria, o que os leva a migrar para outras zonas do país. Há muitas pessoas que querem construir e não podem. É um assunto que é adiado de ano para ano, mas que urge ser resolvido o quanto antes.
Queria ver esse assunto resolvido antes de sair do comando dos destinos desta Junta de Freguesia, bem como efectivada a compra de uns terrenos para a construção de um aldeamento turístico, para que as gentes da freguesia pudessem construir a baixo custo, caso assim pretendessem.

Sem arrependimentos
TH: Admite ter cometido algum erro, na execução das funções de presidente de Junta da Freguesia de Ribeira?
AM: Antes de mais, considero que errar é humano. No entanto, olhando para trás, penso que todas as obras que foram feitas, foram bem feitas ou razoavelmente, pelo menos. Se tivesse que voltar atrás, faria tudo novamente como fiz. Só lamento não ter podido fazer mais.
TH: Concorda com a lei que limita o número de mandatos possíveis aos autarcas locais?
AM: Penso que essa lei tem aspectos positivos e aspectos negativos. Por um lado, defendo que, quando uma equipa trabalha bem, deve-se deixar continuar a trabalhar. Por outro, também sabemos que há quem se agarre demasiado ao poder e à cadeira. Este limite de mandatos faz, sob esse ponto de vista, algum sentido.

TH: Sendo este o seu último mandato, que sentimento possui nesta altura. Acha que vai ter saudades da vida autárquica?
AM: Eu sou um apaixonado pela política e despendi muito tempo da minha vida particular e profissional para me dedicar à freguesia com “unhas e dentes”. Até final, espero apenas conseguir realizar mais algumas das obras a que me comprometi e sairei plenamente satisfeito.
TH: Já pensou o que irá fazer após 2013? Poderá continuar ligado à política de alguma forma?
AM: O futuro a Deus pertence. Neste momento, penso apenas sair e apoiar quem eu entender que merece o meu apoio.
TH: Já consegue vislumbrar alguma personalidade mais indicada para ocupar o cargo de presidente de Junta de Freguesia de Ribeira, em 2013?
AM: Sim, nesta mesma equipa há algumas pessoas com capacidade para merecer o meu apoio.

TH: Há quem defenda que, face à elevada dependência relativamente às Câmaras Municipais, nomeadamente em termos financeiros, a existência das Juntas de Freguesia já não faz muito sentido. Concorda com este ponto de vista?
AM: Não. Eu acho que as Juntas de Freguesia ainda fazem muita falta. Isto porque se imaginarmos o fim das Juntas de Freguesia, seguido se calhar pelo fim das Câmaras Municipais e por aí fora, cada vez mais o poder irá ficar concentrado. Neste momento, as Juntas ainda são o órgão autárquico mais próximo das populações e que mais atento está às suas necessidades reais. Quem propõe esse tipo de solução, que apresente também as alternativas a esse fim das Juntas.
Pelo contrário, julgo até que os poderes dos presidentes de Junta deveriam ser reforçados, por forma a tornar mais eficiente a intervenção local, nomeadamente ao nível de infra-estruturas que fossem necessárias para cada freguesia. Evitavam-se desperdícios e demoras.
TH: Se fosse presidente da Câmara, qual seria a área onde interviria mais rapidamente para desenvolver o concelho de Terras de Bouro?
AM: O concelho de Terras de Bouro tem uma enorme capacidade turística e durante algumas décadas ninguém apostou nessa área. Felizmente, nos últimos mandatos o senhor ex-presidente, António Afonso, apostou forte nessa vertente e penso que terá deixado candidatados alguns projectos com valores de algumas dezenas de milhões de euros. Agora, espero que também o actual presidente considere essa uma área vital para o desenvolvimento do concelho.

TH: E se fosse primeiro-ministro, qual seria a primeira medida tomada para tirar o país da crise?
AM: Nós chegamos a um ponto em que tudo se torna muito difícil, tão complicada que é a situação actual do país.
Antes de mais, considero que, durante décadas, foi-se gastando muito dinheiro em medidas populistas, para se ganharem eleições, dando-se o que se tinha e o que se não tinha. Agora, sofremos as consequências.
Depois, precisamos também de uma classe política que fale verdade, que não engane o povo e que, efectivamente, trabalhe.
Eu sempre fui a favor da atribuição do rendimento mínimo a quem realmente precisasse. No entanto, o que verificamos é que, durante muitos anos, este foi concedido a quem não necessitava.
Fonte: Terras do Homem, em 20-01-2011

1 comentário:

Américo disse...

A potencialidade da Ribeira tem sido ano após ano ignorado e esquecido, que é o rio homem.Paralelamente ao rio homem existem caminhos que poderiam ser utilizados para a prática de BTT e chamaria gente jovem à região, mas na preservação disto ninguem fala, e existem caminhos excepcionais entre Vau e Seidoura e afins, aqui sim era bom investimento que levaria mais gente a visitar-nos, e já agora limpar a ponte da Seidoura (1 das margens é da Ribeira).