quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Santa Isabel do Monte, Presidente da Junta em entrevista

“A pequena agricultura já não é rentável”
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Isabel do Monte tem 51 anos, dois filhos e é casado. Agricultor de profissão, Adelino Amorim possui a antiga 4ª classe e passa os seus ‘tempos livres’ dedicado aos campos.
Como destino de férias de sonho elege o Brasil. À mesa privilegia o tradicional bacalhau, servido acompanhado de um bom vinho verde da região.
Há cinco anos à frente dos destinos da freguesia do Monte (Santa Isabel), Adelino Amorim – eleito em dois mandatos consecutivos com as cores do PSD – aposta no desenvolvimento do turismo como solução de futuro para aquela localidade. Depois dos tempos áureos, em que a agricultura era a principal actividade do país, o autarca quer ver também reforçada a aposta nas energias renováveis. As características naturais do relevo da freguesia, associadas aos fortes ventos que aí se fazem sentir, podem ser, no seu entender factores atractivos para as empresas produtoras de energia.

Terras do Homem: Qual é, no seu entender, a grande prioridade para a freguesia de Santa Isabel do Monte, para os próximos três anos?
Adelino Amorim: A obra que gostaríamos de ver executada com mais urgência é, sem dúvida, a construção de uma capela mortuária para a freguesia. Precisamos de construir uma de raiz porque ainda não dispomos de qualquer espaço do género. Para além disso, as acessibilidades, no interior de cada lugar, também terão que ser bastante melhoradas. A estrada alcatroada que atravessa toda a freguesia está em boas condições, mas no interior dos lugares a calçada é de fraca qualidade.
TH: Foi esse aspecto que trabalhou essencialmente no último mandato?
AA: Precisamente, sempre tivemos acessibilidades muito más e temos um longo trabalho pela frente para melhorar as condições de circulação no interior da freguesia. A par disso, houve também um reforço da iluminação pública dos caminhos.
No entanto, penso que a grande obra que fizemos no mandato anterior foi mesmo a recuperação da antiga escola primária, em pedra, onde agora funciona o Centro Interpretativo do ‘Trilho dos Moinhos’. Paralelamente, foram recuperados 29 moinhos.
TH: A manutenção desses moinhos fica encarregue a quem?
AA: Aos proprietários dos mesmos.

TH: E como é que os turistas se organizam para seguir o ‘Trilho dos Moinhos’?
AA: Há quem venha até cá por sua conta e risco e há quem aproveite as caminhadas pela natureza, promovidas pela autarquia de Terras de Bouro.
TH: Ao nível do saneamento, em que ponto está a freguesia de Santa Isabel do Monte?
AA: Ainda está muito atrasado. Temos apenas algumas ligações em três lugares, mas muito pouco significativo.
TH: Para além das citadas obras, há alguma outra que ainda considere elaborar no presente mandato?
AA: Gostaríamos de ver requalificada a nossa sede da Junta de Freguesia. Como se pode ver, funciona, actualmente, nas instalações desta antiga escola primária, mas não tem as condições necessárias para bem servir a população. Por isso, queremos vê-la remodelada para que as pessoas de Santa Isabel se possam orgulhar da sua Junta de Freguesia.
TH: A freguesia de Santa Isabel ainda é uma freguesia predominantemente rural e agrícola. Acha que a agricultura ainda pode ter o futuro, para muitas das pessoas que aqui vivem?
AA: Hoje em dia a pequena agricultura, como sempre foi praticada aqui, já não é rentável. A agricultura agora é rentável para quem tem grandes herdades. Ora, aqui, como os terrenos são todos pequenos apenas dá para uma agricultura residual.

TH: Estando Santa Isabel situada entre diversos pontos de interesse turístico – como são os santuários de Nossa Senhora de Abadia e de S. Bento e, até mesmo, do Gerês – não considera que o turismo poderia ser aproveitado da melhor forma para trazer riqueza para a freguesia?
AA: Sem dúvida. Penso que reunimos muitas condições naturais de excelência. Temos aqui já instalado um ‘Trilho dos Moinhos’, cujo Centro Interpretativo está localizado aqui ao lado, na antiga escola primária, e que atrai dezenas de turistas em diversas actividades promovidas pela Câmara Municipal de Terras de Bouro. O edifício do Centro Interpretativo foi recuperado e reconvertido no mandato anterior e agora temos ali uma bela sala para receber visitas.
TH: E espaços hoteleiros para acolher esses turistas, há?
AA: Sim, temos aqui perto, no lugar de Campos Abades, a Casa dos Bernardos, que possibilita dezenas de dormidas independentes. Para além desta, há ainda outra casa de acolhimento, bem como algumas pequenas pousadas.
TH: Nota um acréscimo do interesse de turistas pelas terras de Santa Isabel e pela sua beleza paisagística?
AA: Notamos claramente. O turismo é uma área a apostar sem dúvida. Pena é que, de entre os particulares, não se aproveite este fluxo de pessoas forasteiras e ninguém crie um negócio, nem que seja para funcionar apenas o fim-de-semana e criar riqueza no interior da freguesia. Ao nível de riqueza adquirida, só mesmo a que for conseguida com a possível instalação de ventoinhas eólicas para captação de energia produzida pelo vento.
É que a possível criação de um negócio de restauração e bar aqui na freguesia, poderia fixar mais os jovens aos fins-de-semana, por cá. A mesma riqueza poderia, também, ser alcançada, por exemplo, com recurso à venda de produtos locais.

TH: Santa Isabel do Monte é, então, uma das freguesias procuradas pelas empresas de instalação de ventoinhas eólicas para a sua colocação nesta localidade?
AA: Sim. Já passaram por cá algumas empresas para saber da nossa disposição nesse sentido. Nem todas com boas intenções, mas que também acabaram por desistir. No entanto, há já quem tenha acordos para permitir medições da velocidade dos ventos para uma eventual instalação, num futuro próximo, dessas mesmas ventoinhas. No entanto, ainda há que saber se não serão infringidas nenhumas normas do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
TH: Acha que, se não forem criados problemas pelos dirigentes do PNPG, esta seria uma solução economicamente viável para a sustentabilidade de alguns agregados familiares aqui de Santa Isabel?
AA: Sim, sem dúvida. Seria muito bom.
TH: Acha que as freguesias ainda vivem muito dependentes das Câmaras Municipais ao nível financeiro?
AA: Sim, sem dúvida. Principalmente as freguesias mais rurais, como é o caso de Santa Isabel.
“Em tempos de crise, 12 anos podem não dar para fazer grande coisa”
TH: Concorda com a lei que limita o número de mandatos aos presidentes de Junta de Freguesia?
AA: Concordo, embora defenda que, em tempos de crise e de vacas magras, 12 anos possam não dar para fazer grande coisa. Como sabemos, quando o dinheiro escasseia, há projectos que se arrastam ao longo dos anos e demoram a ser executados.
TH: Perante essa dificuldade crescente em se fazer obra, admite recandidatar-se daqui por quatro anos, para concluir o seu projecto.
AA: Ainda não está nada decidido, mas não creio. Penso que, a seu tempo, poderá aparecer alguém capaz de dar continuidade ao bom trabalho.
TH: Há quem defenda que, perante essa excessiva dependência face às autarquias, as Juntas de Freguesia devam deixar de trabalhar isoladas e passem a cooperar em Associações de Freguesias. Concorda com essa perspectiva?
AA: Acima de tudo, acho é que as juntas deveriam voltar a ter mais poderes e mais competências para poderem executar obras que julguem necessárias para as suas freguesias.
Mais saneamento
TH: Se fosse presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, qual a área em que interviria com mais afinco para melhorar as condições de vida das pessoas do concelho?
AA: Sem dúvida que o maior atraso se verifica na elaboração de uma eficiente rede de saneamento. No entanto, as verbas necessárias também devem ser elevadas. Por exemplo, no mandato anterior havia a promessa de completarem a rede num dos lugares de Santa Isabel do Monte e até agora nada feito.
Mais produtividade
TH: Se fosse primeiro-ministro, qual a medida que consideraria de mais urgente adopção?
AA: Acima de tudo, eu considero é que se trabalha pouco em Portugal. A população não faz tanto quanto devia. Se a população aumentar a produtividade, os problemas não se fazem sentir tanto. E, como se não bastasse, ainda há quem viva em função dos subsídios. Há que premiar a produtividade.
Fonte: Terras do Homem, em 25-11-2010

Sem comentários: