APRESENTAÇÃO/PREFÁCIO do meu livro, a sair breve
Pede-me o João Luís Dias que eu lhe teça um texto para os seus novos poemas.
Dele disse em tempos, que era “um poeta que da solidão soubera estabelecer laços em redor” e que, com essas cumplicidades criara uma espécie de comunidade, através da sua solidariedade com outros autores, frutificadas numa editora pioneira, permitindo maior visibilidade global não só ao seu trabalho mas também ao de tantos outros companheiros de sonhos.
Alegoricamente observei que, ao princípio, ele habitava os montes mais altos que havia no lugar. Local solitário e difícil, perdido na alma da sensibilidade no meio de tanto verde.
Mas a sua evolução tem sido um dos casos mais (de)flagrantes de vocação poética que tenho presenciado. Com efeito, sempre dele colhi a impressão de uma iniciativa elástica, uma visão fulgurante da ideia, uma capacidade genuína de entusiasmo permanente e contagiante. Mas hoje há que somar a tudo isso o génio poético puro.
Qualquer coisa indicia que o exercício poético o redime de funções obrigadas pela vida, onde trabalha num mundo de minúcias, das quais se vinga sonhando Poesia o dia inteiro.
Como disse algures, era difícil ser poeta assim, ali, naquele modo e naquele tempo.
Mas o João Luís passou desde há muito a viver para criar beleza nas palavras e nos sons, musicar a fala, superar dificuldades. E pensar o amor. Saber das coisas. Viver por dentro o acto difícil do sentir. E aprendeu a sobrevoar o teatro imenso da Natureza toda, fascinado. E a mergulhar nos afectos; e outras coisas da solidão e do encontro, mais difíceis ainda de explicar.
O espectáculo deste percurso foi imenso. Ao princípio era como uma enxada cavando em granito. Análise sibilina e agreste, com a frieza da pedra onde se cavava devagar uma alma maior.
Mas o diamante bruto da montanha foi lapidando em luz. Ele com a vida e a vida com ele, assim se aprende a sentir mais, nas águas cálidas e límpidas da fonte da inteligência.
E o poeta João ficava maior a cada dia. Aos olhos de todos os que o descobriam. Em busca da vida, sempre. Da história e da miragem. Em busca da tal mulher absoluta, a musa poesia, nascida da bruma e do arrepio. Em busca das razoes maiores do belo e do infinito.
Escrevi antes que “a sua poesia enquanto veículo de sonho tornou-se numa busca pessoal dos valores da eternidade. Plena, humana e alargada. Porque só viver esse sonho de palavras e beleza vale a pena. Em todas as terras e países. Em todos os lugares do mundo onde a pátria seja a língua portuguesa. Dizem isso os eternos sonhadores. Os tais que afinal, são eles, e apenas eles, os construtores do futuro.”
Acontece que a sua aventura poética começou a ter escuta nesse espaço lusófono.
Isto porque ela começou a circular através das novas tecnologias da comunicação. E, sobretudo através de blogs e filmes no you tube, a sua palavra invadiu novos horizontes e criou apreços.
E um mundo novo de expansão se lhe ofereceu, rendido e ávido.
Mas o João - hoje um poeta adulto, maior, que já não precisa de apresentações elogiosas de ninguém…- confessou-me noutro dia que não há, - nunca haveria, nunca poderá haver - livro sem tacto, nem tinta, nem papel.
Assim alguns dos poemas já moram, portanto, por aí, pelos computadores das pessoas, em toda a parte onde um arrepio de sensibilidade ainda não tiver esquecido que a forma que os poetas têm de ver o mundo é sempre generosa e criativa, senão inovadora.
Pois é.
Mas, num rasgo de velha e nunca sucumbida paixão, o poeta exige o sentir das folhas como pétalas de um permanente descobrir.
“- Um livro só é um livro se for livro!...” – desabafaste, cheio de razão.
Por isso acreditamos em ti, João e nos espaços sem limites a que nos transportas.
Espera-te a certeza do nosso entendimento.
E assim decerto, ficas mais perto e mais cúmplice do sonho de cada um de nós, ao folhear-te.
Podes ter a certeza que a fantasia maior, essa atravessa sempre um dia, mais cedo ou mais tarde, todos os oceanos da procura.
E que o tempo mora contigo na inspiração dos dias, cada vez maior.
Pedro Barroso (autor, cantor, compositor)
Fonte: Blogue do escritor João Luís Dias, em 18-11-2010
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