sábado, 20 de novembro de 2010

O criador da Francesinha foi o Terrabourense Daniel Silva

Francesinha nasceu para as mulheres
Casa do Infante organiza passeios gastronómicos em que o prato inventado em 1953 é rei e se explica as origens.
A iguaria foi criada para as mulheres. Daniel David da Silva, o criador, queria que as portuguesas fossem tão "picantes" como as francesas e por isso chamou ao prato de francesinha. Mas, inicialmente, eram os homens quem as comia, pois quem do sexo feminino se arriscasse ficava mal-afamado. Nasceu no Porto, mas é servida em restaurantes de todo o País e também no estrangeiro. O Serviço Educativo da Casa do Infante, no Porto, está a organizar um Ciclo de Circuitos Gastronómicos com percursos pedonais pelos locais onde este prato ficou para sempre ligado.
Apesar da preocupação do criador da francesinha com a evolução dos costumes, foram os homens, sobretudo os solteiros, que inicialmente se tornaram os principais apreciadores. Era servida ao lanche, a meio da tarde, ou noite dentro, após as sessões de cinema, após as 23.30, quando na Baixa portuense ainda existiam grandes salas dedicadas à Sétima Arte. Não era considerada um prato, e por isso era servida sem grandes luxos, em mesas sem toalha ou ao balcão. Como era picante e, por a sabedoria popular achar que tal condimento provocava alterações comportamentais, as mulheres nunca a pediam. "As mulheres começaram a gostar de comer francesinhas quando lhes foi permitido", explicou ao DN Graça Lacerda, que ao longo do percurso conduziu os curiosos pela história do famoso petisco. E foi só na década de 70 que as mulheres começaram a aderir em força ao prato criado cerca de 20 anos antes.
O seu criador foi Daniel David da Silva, natural de Terras de Bouro, que imigrou ainda jovem para Lisboa, onde trabalhou no Restaurante As Berlengas.

Esteve depois na Bélgica e mais tarde em França e foi aí que terá recebido inspiração para o prato que futuramente iria criar. Existe a tese de que as origens da francesinha estão associadas às Invasões Francesas, pois já as tropas de Napoleão comiam pão de forma com vários tipos de carne e muito queijo. Mas esta versão tem merecido pouco crédito por parte dos historiadores.
Foi Abrantes Jorge, proprietário do Restaurante Reboleira, na Rua do Bonjardim, quem convenceu Daniel David da Silva a vir para Portugal confeccionar o prato que o deixava deliciado. Deu-lhe sociedade no restaurante, e assim a francesinha começou a sua história no Porto, em 1953. Na altura, Daniel era já bem conhecedor da cozinha francesa e na base da francesinha terão estado as receitas de croque-madame (uma espécie de tosta mista), de croque-monsieur (outra tosta mista mas servida com molho branco e mostarda dijon) e, sobretudo, o molho welsh rarebit, conhecido por ser picante. Quase a totalidade dos ingredientes, como o pão bijou, o fiambre, a salsicha fresca, a linguiça, a perna assada fina e o queijo eram adquiridos no Mercado do Bolhão.
"A mulher mais picante que conheço é a francesa", dizia Daniel, e de francesinha baptizou o petisco. Mulherengo, nunca se casou e, já com 60 anos, fugiu com uma rapariga de 20. Após a sua morte, um empregado abandonou a Regaleira e levou a receita para o Restaurante Mucaba, em Gaia, em 1963. Era o início da expansão de um prato que, a par das tripas e do bacalhau à Gomes de Sá, torna famosa a gastronomia do Porto.
O seu sucesso é grande, sobretudo junto dos jovens. Em 2000 foi criada a Confraria da Francesinha e todos os anos, no Verão, realiza-se o Festival da Francesinha.
Fonte: Diário de Notícias, em 20-11-2010

Sem comentários: