"O que aconteceu, já aconteceu. Agora é preciso remediar o que ainda pode ser remediado", disse, ao JN, Maria de Lurdes Fernandes, 76 anos, vizinha mais próxima da casa onde, na noite de ontem, morreram mãe e filha.
Na localidade, com 400 habitantes, a população questiona-se sobre o que acontecerá agora aos três homens que residiam na mesma habitação. "Vão ter que arranjar uma solução", frisa João Marques, o presidente da Junta local.
O agregado familiar era sobejamente conhecido na localidade: António Augusto Brito, o pai, tem problemas cardíacos que o obrigam a tratamentos mensais no Hospital de Braga; Felisménia Afonso, a mãe, de 83 anos, morreu, ao que tudo indica, vítima de ataque cardíaco; Manuel Brito, 52 anos, filho, é surdo-mudo; Isabel Brito, 50 anos, era deficiente mental; Jeremias Brito, 50 anos, é deficiente mental e tem problemas de alcoolismo. "O casal tem mais filhos que são amigos dos irmãos mas é difícil lidar com tanta gente doente", disse Lurdes Fernandes.
A família vive numa casa bastante modesta e as refeições são levadas ao domicílio por funcionárias do Centro Social de Cibões. De resto, uma das filhas do casal ia todos os dias lá a casa dar a medicação aos pais e irmãos. "A família não estava abandonada, tinha apoio", garantiu o padre Albino Meireles, pároco local.
A família estava sinalizada no Centro de Saúde de Covas mas as consultas médicas eram, quase sempre, realizadas por um médico amigo da família. "Na Junta, não tínhamos qualquer tipo de sinalização para esta família, apesar de sabermos que era composta por dois idosos com mais de 80 anos e por três filhos deficientes", salientou João Marques. O acidente com a lareira terá acontecido porque Isabel tinha um tipo de fobia social que a impedia de contactar com outras pessoas. "Passava o dia fechada no quarto e durante a noite andava a pé, cozinhava e tratava das coisas dela", disse Júlia Domingues, amiga da família.
Com a morte da mãe e da filha, a Segurança Social de Terras do Bouro deverá agora tomar conta da situação. Desde ontem que António Augusto Brito está em casa de uma filha e não sabia, ainda, da morte da mulher. Os dois filhos deficientes ficarão com os irmãos nos próximos dias mas, dada a gravidade da sua doença, deverão ser internados numa instituição.
Fonte: Jornal de Notícias, em 25-11-2010
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