Numa terra especial, recheada de privilégios naturais, torna-se fácil perder-se nesta Reserva Mundial da Biosfera, com carimbo da UNESCO. O Gerês é um postal ilustrado, que parece ter sido desenhado pelos deuses.
Os mil e um encantos da serra do Gerês Portugal tem tantos lugares especiais que se torna complicado aceitar a exiguidade do seu território das suas fronteiras.
É terra de gigantes e o mapa excede a todos os níveis as limitações do mensurável e até do representável pela régua e pelo esquadro, pelos sopés, pelas montanhas. O Gerês é um dos desses lugares únicos, repleto de surpresas, de formas únicas, desenhos da natureza, de vistas que se perdem no horizonte, que ultrapassam o próprio mapa.
Percorrer todos os cantos e encantos parece missão quase impossível, mas essa é a beleza de uma caça ao tesouro, de iniciar uma aventura em torno do desconhecido, dando asas a um roteiro pessoal. Por onde começar? António Príncipe, presidente da Junta de Freguesia, levou-nos por uma viagem inesquecível...
Percorrer todos os cantos e encantos parece missão quase impossível, mas essa é a beleza de uma caça ao tesouro, de iniciar uma aventura em torno do desconhecido, dando asas a um roteiro pessoal. Por onde começar? António Príncipe, presidente da Junta de Freguesia, levou-nos por uma viagem inesquecível...
Em plena manhã de Inverno, pura e esbelta com uma acalmia arrepiante, marcada pela timidez de alguns raios de sol e por uma neblina platinada nos pontos mais altos, o Gerês torna-se um regalo à vista e uma injecção fantástica de oxigénio para os pulmões.
A subida é marcada por inúmeras cascatas. A água que nasce no topo, encontra recortes para passar, procurar espaços para a sua limpidez correr. São inúmeras, mas as quatro magníficas - Arado, Leonte, Danganho e Taiti -, cada uma ao seu estilo, conta histórias de águas cristalinas, a baterem na pedra dura, percorrendo as encosta rodeadas de vegetação abundante. “Já tomei banho diversas vezes na cascata do Arado. Sobe-se pelas pedras até aquele poço a meio”, refere António Príncipe. “Parece curto, mas tem mais de dez metros de profundidade.
Chegar ao fundo parece uma eternidade”, acrescenta ainda o presidente da Junta de Freguesia, depois de controlar a respiração, após uma subida até 750 metros de altura. A erosão tratou de desgastar a escadaria de granito. “A Junta está em conversações com o Parque para requalificar este escadório. Vai ser uma obra a realizar em conjunto com a Comissão dos Baldios”, destaca ainda. A alguns destes locais só se pode chegar por trilhos e caminhos pedestres, dada a grande dificuldade dos acessos, marcados por locais sinuosos e agrestes. Contudo isto também faz parte da aventura e são imensos os amantes desta prática, até porque durante o percurso é fácil encontrar plantas medicinais, perder-se nesta Reserva Mundial da Biosfera, com carimbo da UNESCO, e identificar pinheiros, teixos, castanheiros e carvalhos e até os famosos medronhos, que dão corpo e vida a um licor cujo nome ultrapassa fronteiras.
Nesta caça ao tesouro, é fácil perder-se num cruzamento de dúvidas, entre as diversas escolhas. Para a esquerda pode seguir até à Portela do Homem, que fica ali paredes meias com a vizinha Galiza, até porque antes encontra-se Leonte. Para a direita pode lançar-se até à Pedra Bela e depois descer para a Ermida.
O parque de merendas é um óptimo conselheiro para pensar na nova rota, ao mesmo tempo que se observa as Fontes do Lobo e do Javali. Há algumas décadas haviam ali inúmeros animais. “Estavam em cativeiro, mas a lei acabou por proibir”, destaca António Princípe. “Por um lado é uma pena, porque estava ali representada a fauna do Parque Natural do Gerês. Corços, veados, javalis, lobos e até cavalos eram motivo de atracção para todos os visitantes”, destaca ainda. “Agora só é possível observar os animais em estado selvagem. Ainda há pouco tempo vinha a conduzir e saltou-me um corço para a frente do carro. Era um macho de grande porte, mas felizmente que consegui desviar-me.
O corço seguiu a sua viagem”, relata António Príncipe, num momento que dois garranos selvagens se encontram na berma da estrada. Paramos o carro para observar os animais e eis que a mãe desce o monte para proteger as suas crias. Com ar desconfiado, fitando a estranheza daquele encontro, não perdeu a sua posição, enquanto que a acalmia voltou, de modo a que os seus filhotes pudessem continuar, em paz e sossego, a sua agradável refeição.
A Pedra Bela é daqueles ícones de rara beleza na freguesia de Vilar da Veiga. Do alto dos 829 metros, é possível enfrentar a natureza e sentir um poder incomensurável. Eis que, depois de meia dúzia de degraus e dois rochedos apertados, chegou-se ao topo do universo. Os mais impressionáveis podem encolher-se ao olhar para baixo, ao fotografar inúmeros postais ilustrados, mas os mais aventureiros sentem os pelos a levantar, aqueles arrepios próprios de quem está perante uma das maravilhas nacionais. Cá em baixo, esbelta e livre, a freguesia de Vilar da Veiga prossegue a sua vida. Devidamente localizada na margem sul da serra, em contacto com o rio Gerês, o afluente do rio Cávado.
A Pedra, em si própria, pouca beleza tem para o comum dos mortais. Poderá ter significado para os estudiosos da geologia, contudo parece ter sido colocada ali pelos deuses, de modo a que a imperial vista de Vilar da Veiga e da imponente serra do Gerês não fosse uma miragem.
Enchem-se os pulmões, respira-se ar de primeira qualidade e em descida até à aldeia da Ermida. Pitoresca, com o seu miradouro em madeira, logo ao lado da antiga casa do guarda. Agora está abandonada e muitos são aqueles que se candidatavam à moradia. Para habitar, para férias, numa região recheada de privilégios.
Uma conversa com populares. Duas pessoas de idade, um casal cheio de luz. A senhora mais extrovertida, não se cansa de observar as vistas. “O problema são mesmo os olhos. Ao longe ainda vejo bem, mas ao perto tenho dificuldades. Dá para admirar a paisagem”, refere. O marido manda cumprimentos à família do presidente da junta. Conhecia bem o pai. Também de nome António Príncipe. Prosseguem viagem, enquanto que a Ermida abre o seu miradouro para novo observatório. Marcado na base pelas casas, que se estendem ao longo da montanha. São os mil e um encantos da serra do Gerês.
Fonte: Correio do Minho, em 1-02-2013
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