quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Carvalheira: Manuel Santos é um dos muitos terrabourenses bem sucedidos

Há 54 anos, Manuel Santos entrava no mercado de trabalho ligado ao ramo da hotelaria, sem sequer sonhar tornar-se no empresário de sucesso que hoje é. Manuel Santos nasceu a 5 de maio de 1940, na Carvalheira, onde completou a antiga quarta classe. Mais tarde, acabou a sua formação na área da hotelaria, já em Lisboa, para onde tinha migrado à procura de melhores oportunidades de emprego. Casado e com sete filhos, este empresário vive em Gême e gere, atualmente, a Quinta da Aldeia, um dos espaços de referência da região, no que à dinamização de eventos sociais diz respeito.
“Foi por alturas do cumprimento do meu serviço militar obrigatório que conheci a realidade do mercado profissional da capital. Muita gente de Terras de Bouro, muitos homens, acabavam por sair do concelho à procura de oportunidades noutras áreas que não fossem a agricultura. Eu, como cumpri o serviço militar em Lisboa, senti-me muito mais à vontade para lá regressar”, começou por recordar.
Além disso, havia lá muitos conterrâneos seus que ajudavam na adaptação, dando “um trabalho, um teto para dormir, comida na mesa e ainda um pequeno ordenado”. “Tudo até que pudéssemos caminhar pelos nossos próprios pés”, garante.
Há cerca de 20 anos, depois de passagens por famosas casas de hotelaria do país e até no estrangeiro, Manuel Santos arrisca investir na sua própria quinta. Foi por alturas do casamento de um dos seus filhos. Meteu mãos à obra e requalificou toda a Quinta da Aldeia.
Serviu, em anos longínquos, os primeiros-ministros dos países fundadores da então Comunidade Económica Europeia, na primeira reunião tida no Palácio dos Duques, em Guimarães.
Mais tarde, já com negócios instalados em Vila Verde dinamizou um serviço que juntou mais de 3 mil pessoas num evento promovido pelo município. “Tive amigos de Famalicão, já meus adversários na altura, que me ajudaram a organizar todo esse evento”, lembra. “Recordo-me que, nesse mesmo dia, cá, tinha dois casamentos para fazer. No entanto, a excelência do serviço prestado no campo da feira de Vila Verde foi de tal ordem que até a doutora Leonor Beleza me dirigiu publicamente palavras que honraram o meu serviço”, acrescentou.
Com o passar dos anos, tornou-se “uma das pessoas mais dinâmicas de todo o norte, ao nível dos serviços hoteleiros".
Enquanto avançava com a adaptação da Quinta da Aldeia para serviços de hotelaria, Manuel Santos – que chegou a ser vereador da Câmara Municipal de Terras de Bouro – apercebeu-se que, ao contrário do que fazia em Lisboa, Porto, Póvoa e, mais tarde, em Famalicão, na região do Vale do Homem teria de adaptar os seus eventos a carteiras mais modestas. “Ao contrário de Famalicão, onde havia muita gente com posses, aqui nesta região tive que me adaptar a outra realidade. Tive que começar por fazer serviços um pouco mais modestos. Neste momento, tenho menus para todo o tipo de carteiras”, explicou.
Paralelamente, criou o ‘Quinta da Aldeia Catering’, um serviço que lhe permitia agarrar outros serviços, em toda a zona norte de Portugal, enquanto desenvolvia a casa sede da empresa, uma casa com origem no século XVII.
Neste momento, dinamiza casamentos, batizados, eventos sociais, catering para serviços noutras zonas do país. “Faço de tudo o que esteja ligado à hotelaria”, afirma.
Para o futuro, o grande objetivo ou sonho é que os filhos criem uma sociedade para explorar os negócios da família, contando com a sua ajuda e fazendo-o sentir que o que criou está em boas mãos.
Sucesso na capital estendeu-se à Alemanha
Manuel Santos começa o seu percurso profissional, por terras lisboetas, através do Hotel Fortaleza do Luís. Nessa altura estudou inglês e francês. No entanto, a formação não se ficava por aqui. “Já na altura era muito importante percebermos a fundo como funcionavam as coisas na nossa área. Apesar de não haver cursos superiores de hotelaria, havia um curso de hotelaria equivalente, que era ministrado pelo sindicato”, descreveu o empresário.
Acabou por não concluir toda a formação, que lhe permitiria já nessa altura, ainda muito jovem, ser diretor de um espaço hoteleiro, porque abraçou o “desafio de emigrar”. “Fruto das boas relações que cultivei cá em Lisboa, no entanto, cheguei à Alemanha e fui fazendo fins de semana, em casas de pessoas conhecidas. Servia até banquetes no Museu de Solingen”, desvendou Manuel Santos.
A reputação do português e terrabourense era tal que o próprio presidente da Câmara de Solingen, “pressionado por uma família amiga”, chegou a formalizar-lhe um convite para ficar na Alemanha, oferecendo-lhe a nacionalidade alemã “para ter poder dirigir uns negócios que esse casal idoso tinha previsto” para si. “Estávamos em pleno abril de 74. Nessa altura, chegava da Alemanha sem perspetivas e virei-me para as terras. No entanto, o nosso dom vem sempre ao de cima”, refere Manuel Santos.
Regresso a Portugal confirma a vocação
Chegado a Portugal, depois de uma curta, mas frutífera experiência fora de portas, Manuel Santos é convidado para trabalhar numa das melhores casas do norte, o Vermar. “Para se ter uma noção, nesse espaço da Póvoa, já na altura, num banquete, o preço por pessoa poderia chegar aos 30 contos (150 euros). Aí, fiquei como adjunto dos diretores, fazendo decorações para serviços. Mais tarde, os nossos extras, ou seja, os empregados que vinham ajudar a servir ocasionalmente, vinham do Casino”, recordou.
Foi-lhe então ‘oferecido’ o cargo de chefe adjunto de sala, mas na altura, tinha avisado que só poderia fazer fins de semana. E assim foi. Foi completando a sua formação, em contexto de trabalho e melhorando as minhas capacidades.
Mais tarde, foi convidado pelo diretor da Sopete para liderar os serviços no Casino. “Aí atingi um patamar ainda mais elevado, porque todos os serviços eram de gala, com imenso glamour e brilho. Nessa altura, pensei que era o momento certo para me lançar por minha conta”, contou Manuel Santos. Em Famalicão apareceram os primeiros serviços para chefiar. O primeiro local foi o Palácio Rauliana. “Fazia a 15 contos por pessoa, isto há quase 30 anos. Logo recebi exclusividade para organizar os serviços desse Palácio, onde acolhemos grandes celebridades de todo o norte do país”, desvenda.
Neste intervalo de tempo, em que se dividia entre serviços no Casino e no Palácio da Rauliana, tornou-se “um líder em hotelaria”.
Empresa de cariz familiar valeu-se da união de pais e irmãos
Manuel Santos começou, depois de décadas a comandar sozinho vários serviços de hotelaria, a ter a companhia dos seus filhos, nos vários serviços que realizava, quer fosse na Quinta da Aldeia, quer em projetos mais arriscados. “O Tino e o Miguel começaram a desenvolver as suas qualidades enquanto profissionais de hotelaria e, mais tarde, permitiam-me realizar quatro ou cinco casamentos em simultâneo. Eu era o visor e os meus filhos, cada um, comandava cada serviço”, explicou.
No seu entender, um dos segredos do sucesso da Quinta da Aldeia é que “funcionou sempre com muita unidade familiar”.
Dependendo da dimensão dos serviços, muitas vezes, entre cozinheiros, serventes de mesa, jardineiros e decoradores, a Quinta da Aldeia chega a dar trabalho, em simultâneo a mais de 30 pessoas. “Temos sempre algumas pessoas permanentes e chamamos, por norma, alguns 'extras'. Por sorte, o número de funcionários não era maior porque sempre contei com o apoio dos meus filhos. Mesmo depois destes estarem formados e empregados. Basta dizer-lhes que para este fim de semana preciso deles e, se tiverem hipótese, largam o que tiverem programado e vêm cá. Poupo logo algum dinheiro com esta ajuda, obviamente”, adiantou Manuel Santos.
Um dos seus filhos seguiu-lhe, inclusive, as pisadas e lançou-se na mesma área, sendo neste momento “um empresário de sucesso no setor hoteleiro”, no Alto Minho.
Crise não assusta… pelo menos em 2013 e 2014
A Quinta da Aldeia, de Manuel Santos, deverá ser uma das poucas empresas do país que, em anos de plena crise, viu o número de serviços prestados aumentar. Para 2013 e 2014 as perspetivas não são assim tão diferentes. De acordo com o proprietário da Quinta da Aldeia, o verão de 2013 reserva, inclusive, mais trabalho que os de anos anteriores. A diferença está no lucro que desses serviços advêm, já que as margens vão sendo encurtadas com o aumento dos custos com energia e, claro está, com os impostos.
“Posso dizer que tenho uma agenda muito bem preenchida para este ano. Com mais serviços até dos que tive o ano passado. Continuamos a ser procurados e até já marco serviços para 2014. Tenho uma lista enorme já para esse ano. Por isso, acredito que estou a atravessar a pior fase da crise com alguma segurança”, avança.
Com a idade a avançar, Manuel Santos já delega a realização de muitos desses serviços nos seus filhos. “Embora continue nos bastidores, no dia dos serviços já não intervenho”, adianta.
Apesar do aumento do número de serviços, os lucros atingidos em cada um deles vêm diminuindo consideravelmente. Porquê? Porque os custos com a energia aumentaram significativamente, bem como o IVA para a restauração, que passou dos 13 para os 23%.
Além disso, “o poder de compra está em baixo”. Por isso, “os noivos convidam, mas à última da hora, há muitos convidados que falham”. “Tudo isso são despesas que, em parte, são suportadas por nós, para que o casal também não sofra esse revés. A isto vem juntar-se o aumento absurdo do imposto do IVA e dos custos com a matéria prima e a energia elétrica. Ou seja, há mais trabalho, mas menos lucros. Muito trabalho que rende pouco”, desvenda.
Tendência ‘natural’ de terrabourenses para a cozinha e a hotelaria
Natural de Terras de Bouro, Manuel Santos acabou por migrar ainda muito jovem, como fazia grande parte dos seus conterrâneos para a capital do país, à procura de melhores oportunidades de emprego. Aí, muitos dos terrabourenses encontravam quase sempre uma mão amiga na hotelaria, que os lançavam até poderem caminhar por seus próprios pés. Foi, por isso, sem surpresa, de Terras de Bouro se formou um lote de excelentes cozinheiros e chefes de sala que, posteriormente, viriam a dar cartas um pouco por todo o país.
“Havia muitos terrabourenses a fugir do trabalho nas terras, na agricultura. A maioria das pessoas fugia da agricultura porque não lhes dava grande poder económico para viverem uma vida desafogada, então iam para Lisboa”, explicou o empresário.
Ora, chegados à capital, os naturais de Terras de Bouro facilmente encontravam nas cozinhas dos restaurantes conhecidos que lhes deitavam a mão e os ajudavam. “Todos acabávamos por nos especializar em hotelaria e em cozinha. Na altura do estado novo, tínhamos também um senhor muito poderoso nessa área, em Lisboa, Manuel José de Carvalho, que foi condecorado com a medalha de comendador por Salazar. Era ele que o servia em todos os eventos, como foi o caso da receção à rainha D. Isabel. Até eu já participei nesse serviço, ainda muito novo, como barman”, acrescentou.
É, por isso, evidente que, “com todas estas ligações, as pessoas acabam por sair da terra sempre para trabalhar nesta área, daí que tenham nascido grandes chefes de cozinha de Terras de Bouro”.
Gostos e preferências
Onde vive?
Em Gême.
Profissão?
Gerente da Quinta da Aldeia.
Últimas férias?
Temos ido à Madeira e a Nossa Senhora de Fátima.
Último passatempo realizado?
O meu principal passatempo passa por trabalhar para esta quinta.
Almoço de hoje?
Bifinhos com arroz de grelos.
Bebida de hoje?
Vinho rosé.
Onde gostaria de morar?
Sinto-me muito bem em Gême, fui bem acolhido e sinto o respeito dos vilaverdenses.
O que gostaria de fazer?
Não me vejo a fazer outra coisa que não seja ligada à hotelaria. Mais tarde, poderei entreter-me com os meus campos e dedicar-me à agricultura, por lazer.
Férias preferidas?
Gosto muito de destinos nacionais, principalmente Madeira e Trás-os-Montes.
Passatempo favorito?
Talvez assistir a um bom jogo de futebol, na televisão.
Prato preferido?
Bacalhau.
Bebida preferida?
Uma reserva de vinho maduro tinto, do Douro.
Fonte: Terras do Homem, em 14-02-2013

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