Pode até ter nascido na Grécia em meados dos anos 600 e 520 a.C.. Quanto à sua essência, parece até descontextualizado da realidade do país um agradecimento aos deuses pela fertilidade dos solos e pela produção. Mas terça-feira foi dia de Carnaval.
Embora sem grande expressão e tradição em Portugal, é evidente que vários concelhos do nosso país apostaram forte nesta festa popular, bebendo a sua essência numa Paris exportadora de costumes lá pelo século XIX. Goste-se, ou não, na rua popularucha, na estrada nacional ou num recinto preparado a rigor, o Carnaval foi celebrado a preceito por milhares e milhares de portugueses.
Houve desfiles, máscaras baratas e fatos alugados, houve fitas e confettis, pinturas, meias altas e saias curtas. Houve bebidas espirituosas, carros alegóricos, música e samba. Houve dinheiro a circular, pessoas a gastar, comes e bebes para matar o bicho. Houve chuva, planos ‘B’ em acção e muita euforia de novos e velhos.
Por incrível que pareça, houve de tudo um pouco. Mas passados quatro dias das festividades, já em tempo de caminhada Quaresmal, continuo a não saber se, na terça-feira, foi feriado. E não será por falta de memória ou por ter jejuado em demasia que me possa impedir de ter sangue suficiente a irrigar-me o cérebro. Foi, ou não, feriado?
Tirando os suspeitos do costume, aqueles que pela natureza da sua profissão o calendário não os brinda com feriados, dias santos, fins-de-semana ou tolerância de ponto, quantos portugueses se apresentaram no trabalho na terça-feira gorda?
O governo de Passos Coelho, para dar o exemplo sem o dar, resolveu vestir a pele de ‘anti-Pai Velho’ e não deu tolerância de ponto. Porém, como já ninguém lhes deve respeito, mais de metade das câmaras municipais disseram aos seus funcionários para ficarem em casa. No distrito de Braga, a câmara de Braga deu tolerância, bem como as de Famalicão, Barcelos, Esposende, Terras de Bouro, Vieira do Minho e Fafe. No distrito de Viana do Castelo deram tolerância as autarquias de Ponte da Barca, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Caminha, Melgaço, Monção, Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura e Valença.
Se falarmos da área empresarial, a REN, Jerónimo Martins, BES, Banif, Santander, Totta, Novabase, Zon Multimédia e Microsoft também decretaram tolerância de ponto, justificando a medida por esta estar prevista no Contrato Colectivo de Trabalho.
No comércio, obviamente que foi um dia de trabalho e, quanto mais, melhor. São dias como este que dão uma lufada de ar fresco à falta de clientela. Se a facturação teve uma ligeira subida na terça, com uma ajudita na quinta, por causa do ‘Dia dos Namorados’, certamente que foi uma semana positiva.
Não sei se é possível contabilizar os gastos em electricidade, água e aquecimento nos serviços públicos num dia como o de terça-feira. Também não sei se houve muitas faltas ao serviço ou se as repartições públicas foram invadidas por aqueles atestados médicos meios manhosos que, normalmente, justificam a preguiça ou uma dor de cabeça momentânea.
O que sei é que o Governo teria feito muito melhor se tivesse decretado um dia de descanso. Chamem-lhe feriado, tolerância de ponto ou outra coisa qualquer. Agora, não atirem areia para os olhos dos cidadãos. Ou se trabalha ou não se trabalha. Normalmente, o meio termo não dá grande resultado… mas uma grande despesa.
Fonte: Correio do Minho, em 16-02-2013
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