sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

“Aldeias como Brufe tendem a desaparecer”

O cenário chega a ser desolador. Brufe é uma freguesia terrabourense repleta de encantos paisagísticos e arquitetónicos, mas quase esvaziada de vida humana.
A distância dos grandes centros de decisão é imposta naturalmente pelas montanhas da serra do Gerês, mas o isolamento, esse, foi-se acentuando com o passar dos anos, com o desaparecimento de valências e serviços e com a fuga dos mais jovens, para fora do concelho e até do país, à procura de novas oportunidades.
Ao todo, não serão mais de meia centena os que ainda habitam aquelas terras. Manuel Alves, eleito pela quinta vez consecutiva presidente da Junta de Freguesia de Brufe, lembra que, em época de eleições, “os eleitores até são convocados por edital” para escolherem os seus representantes autárquicos em plenário – uma prática que é extinta pela nova reforma administrativa, com a anexação das freguesias com menos de 150 pessoas.
A desertificação humana é um dos traços mais visíveis naquela povoação. Daí que Manuel Alves sugira um plano sustentado para fixação das populações naquela zona do concelho terrabourense. “Antes de mais, acho que esta zona mais montanhosa do concelho precisa de um plano de viabilidade económica. Um parque eólico, como foi pensado há uns anos, por exemplo”, apontou.
Por sentir que a freguesia está perto do fim, até porque assim o determina a reforma administrativa do país em curso, Manuel Alves confessa sentir “uma enorme tristeza”.
“Porque vejo que, anteriormente, tínhamos padre, escola, junta de freguesia. Com a saída do padre perdemos alguma identidade, com a perda da escola perdemos dinamismo e agora vai-se a Junta de Freguesia. Não sei o que vai ser desta comunidade”, lamentou, lembrando que, “com o passar dos anos, as pessoas foram-se sentindo cada vez mais desamparadas e mais isoladas”.
“Qualquer habitante, principalmente os mais idosos, quando tinha algum problema, vinha à Junta de Freguesia para resolver. A partir do próximo ano como será?”, interrogou o autarca desvendando que, por alturas de análise da reforma administrativa, a comunidade chegou, em reunião de assembleia da freguesia, a determinar que se pudesse ficaria com a Junta de Freguesia, “mesmo que o presidente da Junta não recebesse qualquer verba”. “Só para termos um representante da freguesia como interlocutor da população”, explicou. Manuel Alves defende mesmo que “a maioria das pessoas preferia passar a ser espanhola do que deixar de ser de Brufe”. “São muitos anos de história”, sustenta.
A partir de 2014, a comunidade de Brufe fará parte de uma freguesia maior, que a juntará à comunidade de Cibões. O autarca teme que isso conduza ainda a um maior esquecimento. “Seremos sempre uns coitadinhos numa futura freguesia, porque somos o elo mais fraco, com menos poder. Espero, ao menos, que o executivo da freguesia daí resultante, tenha um representante de Brufe”, desejou.
Em jeito de balanço dos anos em que esteve à frente dos destinos da Freguesia, Manuel Alves garante que lutou pelo bem estar da comunidade, no que estava ao seu alcance. “Ainda tentei criar alguns postos de trabalho, para segurar algumas famílias, na minha área de atividade”, exemplificou. Agora, acredita, “esta e outras aldeias como tendem a desaparecer, porque não são apoiadas”.
Trabalhar no estrangeiro não impede presença assídua na terra
Manuel Alves vê-se confrontado com a necessidade de se ausentar do país por motivos profissionais, assumindo-se como um cíclico emigrante, alternando períodos de ausência com frequentes regressos a casa e à sua terra. Apesar desta necessidade de, nos dias que correm, ter de se ausentar da freguesia e do país por motivos profissionais, o autarca atesta que “a freguesia está sempre representada”. “Tenho, por alguns períodos, que me ausentar, por motivos profissionais. Quando isso acontece, delego no secretário as funções que eu executo e sei que a população fica com os seus interesses salvaguardados. Nos tempos que correm, com a crise que nos afeta, também não posso deixar de lutar pela minha vida e todos nós sabemos que, às vezes, temos que fazer estes sacrifícios”, explicou.
Fonte: Terras do Homem, em 31-01-2013

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