António Machado, aposentado da marinha portuguesa com 66 anos, é casado e tem dois filhos. Com o 12º ano completo, este autarca dedica os seus tempos livres ao convívio com os amigos da freguesia e às viagens. À mesa, o presidente da Junta de Freguesia da Carvalheira dá primazia ao bacalhau, “confeccionado de qualquer forma”, acompanhado por um “bom vinho verde tinto”.
Confessando-se um adepto crescente das leituras, de livros e jornais, António Machado elege, ainda, o Brasil como o seu destino de férias de sonho.
Presidente da Junta de Freguesia de Carvalheira há praticamente uma década, António Machado mostra-se satisfeito com o rumo que viu a sua freguesia seguir desde que começou a trabalhar em prol da mesma. Para além do olhar para as obras realizadas, o autarca traçou, ainda, alguns objectivos para tentar cumprir antes de abandonar o cargo, por força da lei que limita os mandatos dos presidentes de Junta. A instalação de uma rede de saneamento, que traga dignidade à vida das pessoas, e uma requalificação da rede viária, que permita uma maior “proximidade” ao centro do concelho são algumas das metas a alcançar.
Terras do Homem: Qual é a grande prioridade para a freguesia da Carvalheira neste momento?
António Machado: Sem dúvida que é a questão do saneamento. Eu sei que é uma obra com muitos custos, mas é o que mais falta faz à vida das pessoas. Isto porque, com estas constantes promessas adiadas, as pessoas foram-se habituando a construir casa e a fazer fossas provisórias, contando que o saneamento fosse uma realidade em breve. Ora, tal não acontece e rapidamente essas mesmas fossas transbordam e criam maus cheiros que se vão sentindo aqui ou ali.
Eu já referi, inclusive, na Assembleia Municipal que talvez fosse bom pararmos com as experiências ou brincadeiras nesta área, que se vão fazendo noutras freguesias sem efeitos práticos, porque é dinheiro público que se desperdiça. E se as experiências fossem feitas em freguesias diferentes ainda se percebia, porque deixava infra-estruturas em diversas zonas, agora fazer e refazer sempre no mesmo local é que não me parece bem.
TH: Para além dessa, em que outras áreas gostaria de poder deixar mais obra feita?
AM: Na rede viária, seguramente. É fundamental também. A estrada municipal que faz a ligação da zona da cerca até aqui há freguesia só tem os primeiros quilómetros em bom estado, sendo que ao chegar à Carvalheira o piso começa a apresentar-se bastante esburacado, o que nos isola ainda mais, porque alguém que vem cá de passeio e sente que as condições de acesso não são as melhores pode começar a deixar de vir. Para além da deterioração do piso, ainda temos canalizações ultrapassadas que fazem com que as águas pluviais sejam abundantes na estrada.
Para além disso, ainda relativo à rede viária, há a promessa de se sinalizar melhor a estrada, deixando também delimitada as faixas de rodagem, uma vez que esta é uma zona de grande nevoeiro, o que pode causar problemas de circulação. Há um outro local onde importa alcatroar a estrada também, para que não se corte a circulação a autocarros sempre que neva. No entanto, quer-me parecer que qualquer intervenção na rede viária só deverá acontecer depois de instalado o saneamento.
TH: Fica a ideia de que, actualmente, as Juntas de Freguesia só conseguem fazer obras significativas se houver o auxílio da autarquia e apoio financeiro quase total. Porquê?
AM: De facto, assim é. Actualmente, o orçamento que uma Junta de Freguesia recebe para coordenar o seu trabalho dá para pouco mais do que os gastos correntes de um órgão desta natureza. Qualquer obra de maior envergadura, teremos que conseguir forçosamente o apoio da autarquia, para conseguir as verbas necessárias. Felizmente, temos tido sempre o apoio da Câmara Municipal, cientes que somos das dificuldades de que a própria autarquia sofre.
Se tivermos em conta os gastos a que obriga um edifício como esta sede, com posto de acesso à Internet, com o apoio que damos à Banda da Carvalheira que usa este espaço como sede e local de ensaios, com os gastos normais com apoios à educação ou às associações da terra, pouco nos sobra para fazer seja o que for.
TH: Nos últimos dez anos, ou seja, desde que entrou para o lugar de Presidente da Junta de Freguesia, quais as principais obras que considera ter feito na Carvalheira?
AM: Fizemos muitas obras. A mais importante, no meu entender, foi a edificação do bairro social que aqui temos. Trata-se do bairro mais importante do concelho, porque permitiu a várias famílias, desta freguesia e de freguesias vizinhas, terem uma habitação condigna, num local apropriado para morarem. Isto porque quem morava nas encostas não tinha condições de acesso significativas e que permitissem levar uma vida digna. Eram locais onde uma ambulância não poderia ir, por exemplo.
Ao todo, são 12 fogos que ali estão construídos. Tratou-se de um processo difícil, mas felizmente chegou a bom porto.
Para além do bairro, intervimos muito ao nível da rede viária, porque para os habitantes de uma freguesia que fica afastada do centro e da estrada nacional, é importante que os acessos sejam bons para quebrarem-se as distâncias.
Confessando-se um adepto crescente das leituras, de livros e jornais, António Machado elege, ainda, o Brasil como o seu destino de férias de sonho.
Presidente da Junta de Freguesia de Carvalheira há praticamente uma década, António Machado mostra-se satisfeito com o rumo que viu a sua freguesia seguir desde que começou a trabalhar em prol da mesma. Para além do olhar para as obras realizadas, o autarca traçou, ainda, alguns objectivos para tentar cumprir antes de abandonar o cargo, por força da lei que limita os mandatos dos presidentes de Junta. A instalação de uma rede de saneamento, que traga dignidade à vida das pessoas, e uma requalificação da rede viária, que permita uma maior “proximidade” ao centro do concelho são algumas das metas a alcançar.
Terras do Homem: Qual é a grande prioridade para a freguesia da Carvalheira neste momento?
António Machado: Sem dúvida que é a questão do saneamento. Eu sei que é uma obra com muitos custos, mas é o que mais falta faz à vida das pessoas. Isto porque, com estas constantes promessas adiadas, as pessoas foram-se habituando a construir casa e a fazer fossas provisórias, contando que o saneamento fosse uma realidade em breve. Ora, tal não acontece e rapidamente essas mesmas fossas transbordam e criam maus cheiros que se vão sentindo aqui ou ali.
Eu já referi, inclusive, na Assembleia Municipal que talvez fosse bom pararmos com as experiências ou brincadeiras nesta área, que se vão fazendo noutras freguesias sem efeitos práticos, porque é dinheiro público que se desperdiça. E se as experiências fossem feitas em freguesias diferentes ainda se percebia, porque deixava infra-estruturas em diversas zonas, agora fazer e refazer sempre no mesmo local é que não me parece bem.
TH: Para além dessa, em que outras áreas gostaria de poder deixar mais obra feita?
AM: Na rede viária, seguramente. É fundamental também. A estrada municipal que faz a ligação da zona da cerca até aqui há freguesia só tem os primeiros quilómetros em bom estado, sendo que ao chegar à Carvalheira o piso começa a apresentar-se bastante esburacado, o que nos isola ainda mais, porque alguém que vem cá de passeio e sente que as condições de acesso não são as melhores pode começar a deixar de vir. Para além da deterioração do piso, ainda temos canalizações ultrapassadas que fazem com que as águas pluviais sejam abundantes na estrada.
Para além disso, ainda relativo à rede viária, há a promessa de se sinalizar melhor a estrada, deixando também delimitada as faixas de rodagem, uma vez que esta é uma zona de grande nevoeiro, o que pode causar problemas de circulação. Há um outro local onde importa alcatroar a estrada também, para que não se corte a circulação a autocarros sempre que neva. No entanto, quer-me parecer que qualquer intervenção na rede viária só deverá acontecer depois de instalado o saneamento.
TH: Fica a ideia de que, actualmente, as Juntas de Freguesia só conseguem fazer obras significativas se houver o auxílio da autarquia e apoio financeiro quase total. Porquê?
AM: De facto, assim é. Actualmente, o orçamento que uma Junta de Freguesia recebe para coordenar o seu trabalho dá para pouco mais do que os gastos correntes de um órgão desta natureza. Qualquer obra de maior envergadura, teremos que conseguir forçosamente o apoio da autarquia, para conseguir as verbas necessárias. Felizmente, temos tido sempre o apoio da Câmara Municipal, cientes que somos das dificuldades de que a própria autarquia sofre.
Se tivermos em conta os gastos a que obriga um edifício como esta sede, com posto de acesso à Internet, com o apoio que damos à Banda da Carvalheira que usa este espaço como sede e local de ensaios, com os gastos normais com apoios à educação ou às associações da terra, pouco nos sobra para fazer seja o que for.
TH: Nos últimos dez anos, ou seja, desde que entrou para o lugar de Presidente da Junta de Freguesia, quais as principais obras que considera ter feito na Carvalheira?
AM: Fizemos muitas obras. A mais importante, no meu entender, foi a edificação do bairro social que aqui temos. Trata-se do bairro mais importante do concelho, porque permitiu a várias famílias, desta freguesia e de freguesias vizinhas, terem uma habitação condigna, num local apropriado para morarem. Isto porque quem morava nas encostas não tinha condições de acesso significativas e que permitissem levar uma vida digna. Eram locais onde uma ambulância não poderia ir, por exemplo.
Ao todo, são 12 fogos que ali estão construídos. Tratou-se de um processo difícil, mas felizmente chegou a bom porto.
Para além do bairro, intervimos muito ao nível da rede viária, porque para os habitantes de uma freguesia que fica afastada do centro e da estrada nacional, é importante que os acessos sejam bons para quebrarem-se as distâncias.
Outra obra que vimos desenvolvendo, aos poucos, é o parque de merendas que está montado num local onde, antigamente, existia uma lixeira. Frequentemente as pessoas aí deitavam quantidades enormes de lixo. Agora está ali concretizado um excelente espaço que permite aos visitantes pararem para relaxarem e se alimentarem. No mesmo local foi, ainda, recuperado um antigo espaço público, onde as pessoas da freguesia iam lavar a roupa regularmente.
Quando entrei para esta Junta, o espaço usado como cemitério não estava delimitado, não estava nas condições que achávamos condignas. Hoje, a freguesia tem um cemitério que não fica a dever nada ao de outras freguesias e que tem espaço suficiente.
Para além disso, as obras que realizamos, em colaboração com a Igreja, na sacristia, permitiu-nos ficar dotados de um espaço contíguo que funciona também como casa mortuária.
Paralelamente, sempre nos esforçamos por apoiar a Banda de Música da freguesia, que é uma banda que leva bem longe o nome de Carvalheira.
TH: Concorda com a lei que limita o número de mandatos possíveis a um presidente de Junta?
AM: Eu concordo. Penso que 12 anos são suficientes para se mostrar trabalho e, por outro lado, permite renovação de ideias. Se não houver limitação de mandatos, cria-se um certo comodismo nas pessoas.
TH: Qual é o sentimento por ser este o seu último mandato? Vai sentir saudades?
AM: Deixa sempre saudades. Quem luta pela sua terra, sente tristeza quando deixa de o fazer. É um cargo que nos permite aprender muito.
TH: No final do mandato, já pensou no que irá fazer, a que se irá dedica?
AM: Não pensei, porque não ambiciono nada de especial. Penso começar a dedicar mais tempo a mim próprio, às minhas coisas, à minha família.
TH: Olhando para a sua sucessão, já encontra alguém na freguesia com o perfil ideal para ocupar o seu lugar, daqui por dois anos?
AM: Ainda não conversei com ninguém, mas nesta mesma equipa há gente muito competente, como são os casos do tesoureiro, do secretário ou do presidente da Assembleia de Freguesia.
“As freguesias nunca poderão desaparecer”
TH: Parece cada vez mais inevitável uma reorganização administrativa de Portugal, começando a ser cada vez mais certo o desaparecimento de alguns municípios e juntas de freguesia a nível nacional. Teme que tal possa acontecer com a freguesia de Carvalheira, por exemplo? Concorda com essa reestruturação?
AM: As freguesias nunca poderão desaparecer, porque as gentes da Carvalheira são diferentes, por exemplo, das que habitam nas freguesias vizinhas, têm hábitos ligeiramente diferentes, uma identidade própria. Agora, no que toca às Juntas, em si, poderão ter que se unir e reorganizar de uma outra forma. Nesse ponto, em concreto, até acho que concordo com a mudança, porque poderá permitir um trabalho mais eficiente nas freguesias.
Claro que, depois, há que ter muita atenção à distribuição da riqueza e do investimento, por parte de quem ficar a gerir os destinos desse grupo de freguesias.
TH: Se fosse presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, qual seria a área em que trabalharia com mais afinco para tentar desenvolver o concelho?
AM: Antes de mais gostava de salvaguardar que não gostaria de ser presidente da Câmara. No entanto, supondo-me no papel, talvez começasse por avançar mesmo com o saneamento. É urgente. Aliás, penso que o actual executivo também se esforça por isso, embora esteja muito limitado financeiramente.
Por outro lado, e porque considero que o turismo é fundamental para o nosso concelho, continuaria a melhorar as condições de circulação para e no interior das freguesias.
No nosso caso, sendo a Carvalheira o centro geográfico do concelho de Terras de Bouro, considero que se tem andado a investir em demasia nas extremidades do concelho e pouco nas freguesias do centro, que estão um bocado abandonadas.
TH: E se fosse primeiro-ministro, por onde começar a mudar o rumo deste país?
AM: Talvez começasse por agrupar certos Ministérios. Porque é que temos ministério da defesa e ministério da administração interna? Porque é que temos um ministério para a saúde e outro apenas para a segurança social? Há um enorme despesismo na máquina do Estado.
Também ao nível do parlamento as coisas podiam ser revistas. São necessários mais de 20 deputados representativos de Braga na Assembleia da República?
Fonte: Terras do Homem, em 16-05-2011
Quando entrei para esta Junta, o espaço usado como cemitério não estava delimitado, não estava nas condições que achávamos condignas. Hoje, a freguesia tem um cemitério que não fica a dever nada ao de outras freguesias e que tem espaço suficiente.
Para além disso, as obras que realizamos, em colaboração com a Igreja, na sacristia, permitiu-nos ficar dotados de um espaço contíguo que funciona também como casa mortuária.
Paralelamente, sempre nos esforçamos por apoiar a Banda de Música da freguesia, que é uma banda que leva bem longe o nome de Carvalheira.
TH: Concorda com a lei que limita o número de mandatos possíveis a um presidente de Junta?
AM: Eu concordo. Penso que 12 anos são suficientes para se mostrar trabalho e, por outro lado, permite renovação de ideias. Se não houver limitação de mandatos, cria-se um certo comodismo nas pessoas.
TH: Qual é o sentimento por ser este o seu último mandato? Vai sentir saudades?
AM: Deixa sempre saudades. Quem luta pela sua terra, sente tristeza quando deixa de o fazer. É um cargo que nos permite aprender muito.
TH: No final do mandato, já pensou no que irá fazer, a que se irá dedica?
AM: Não pensei, porque não ambiciono nada de especial. Penso começar a dedicar mais tempo a mim próprio, às minhas coisas, à minha família.
TH: Olhando para a sua sucessão, já encontra alguém na freguesia com o perfil ideal para ocupar o seu lugar, daqui por dois anos?
AM: Ainda não conversei com ninguém, mas nesta mesma equipa há gente muito competente, como são os casos do tesoureiro, do secretário ou do presidente da Assembleia de Freguesia.
“As freguesias nunca poderão desaparecer”
TH: Parece cada vez mais inevitável uma reorganização administrativa de Portugal, começando a ser cada vez mais certo o desaparecimento de alguns municípios e juntas de freguesia a nível nacional. Teme que tal possa acontecer com a freguesia de Carvalheira, por exemplo? Concorda com essa reestruturação?
AM: As freguesias nunca poderão desaparecer, porque as gentes da Carvalheira são diferentes, por exemplo, das que habitam nas freguesias vizinhas, têm hábitos ligeiramente diferentes, uma identidade própria. Agora, no que toca às Juntas, em si, poderão ter que se unir e reorganizar de uma outra forma. Nesse ponto, em concreto, até acho que concordo com a mudança, porque poderá permitir um trabalho mais eficiente nas freguesias.
Claro que, depois, há que ter muita atenção à distribuição da riqueza e do investimento, por parte de quem ficar a gerir os destinos desse grupo de freguesias.
TH: Se fosse presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, qual seria a área em que trabalharia com mais afinco para tentar desenvolver o concelho?
AM: Antes de mais gostava de salvaguardar que não gostaria de ser presidente da Câmara. No entanto, supondo-me no papel, talvez começasse por avançar mesmo com o saneamento. É urgente. Aliás, penso que o actual executivo também se esforça por isso, embora esteja muito limitado financeiramente.
Por outro lado, e porque considero que o turismo é fundamental para o nosso concelho, continuaria a melhorar as condições de circulação para e no interior das freguesias.
No nosso caso, sendo a Carvalheira o centro geográfico do concelho de Terras de Bouro, considero que se tem andado a investir em demasia nas extremidades do concelho e pouco nas freguesias do centro, que estão um bocado abandonadas.
TH: E se fosse primeiro-ministro, por onde começar a mudar o rumo deste país?
AM: Talvez começasse por agrupar certos Ministérios. Porque é que temos ministério da defesa e ministério da administração interna? Porque é que temos um ministério para a saúde e outro apenas para a segurança social? Há um enorme despesismo na máquina do Estado.
Também ao nível do parlamento as coisas podiam ser revistas. São necessários mais de 20 deputados representativos de Braga na Assembleia da República?
Fonte: Terras do Homem, em 16-05-2011
Sem comentários:
Enviar um comentário