Estimado leitor, vou dedicar este conto minhoto à vida e obra da muy nobre e ilustre figura bracarense, sobejamente conhecida um chichinho por todo o mundo: o senhor padre Libertino Calhau.
Nascido em Terras de Bouro, desde cedo que Libertino Calhau mostrou apetência para a vida eclesiástica, principalmente quando apanhava as rãs da ribeira que passava rente à humilde casinha de seus pais e as obrigava a confessar os seus pecados.
E como os pobres batráquios nem sempre colaboravam com o pequeno Libertino nas suas santas intenções (que na altura tinha a alcunha de Tino das rãs), era-lhes aplicado uma pesada penitência (no sentido literal do termo): uma martelada sobre as suas cabeças, que ficavam esborrachadas para gáudio e contentamento do pequeno Tino das rãs que, assim, ficava com o sentimento de dever cumprido, sentindo-se mais próximo do Criador.
Já na adolescência, Libertino Calhau sentiu que a bordoada que apanhava diariamente do pai bêbado e escangalhado da cabeça, era o chamamento Divino para que ele pegasse nas suas coisinhas e fugisse de noite, de casa, a correr em direcção a um dos Seminários de Braga porque, pensava ele, ser padre não devia ser assim tão mau. E foi assim que Libertino Calhau fez a sua formação de padre sempre a bulir, tendo sido ordenado sacerdote aos 23 anos de idade, mestre em filosofia e com uma grande paixão por literatura e mulheres bonitas, porque em Braga que as há, há! “E se Deus Nosso Senhor as criou para nosso puro deleite, porque não Lhe fazer a vontade?”, pensava o nosso padre.
Às vezes, encontrando senhoras já casadas passeando com seus maridos pelo cerrado arvoredo da Mãe-d’Água do Bom Jesus do Monte, acotovelava o companheiro de passeio e murmurava baixinho: “Aqui vem uma das que te falei. E ainda continua toda boa apesar da barrigada”.
Mas nem o avançar da idade veio dar mais juízo a este nosso padre, que continuava a preferir a boa vida, os banquetes, o jogo com os amigos, a companhia das mulheres bonitas à vida eclesiástica pura e dura, porque, argumentava ele, “precisava de arejar as ideias para não endoudecer”. O seu melhor amigo era José de Almeida, médico especialista em doenças de senhoras, através do qual já conhecera algumas das madames mais chiques da cidade dos Arcebispos.
Libertino Calhau e José de Almeida conheceram-se nas noitadas bracarenses entre três copos de whisky e seis de conhaque, bebericados nas boîtes da moda e a partir daí não mais se separaram. Quando o nosso padre queria converter mais um pouco o espírito de José de Almeida, levava-o a uma casa de alterne a assistir a um show de striptease da última pérola chegada de além-mar com sotaque a Brasil e era um regalo para os ouvidos de Libertino Calhau ouvir da boca do seu querido amigo manifestações de grande apreço e amor a Deus, tais como: “Ó Meu Deus… és tão boa!”, “Ai Jesus Cristo… comia-te toda!” ou ainda: “Minha Nossa Senhora… mas que belo par de mamas!” E vendo tamanha devoção a Deus, o nosso bom padre concedia imediatamente a absolvição de todos os pecados ao seu inseparável amigo José de Almeida.
- Diz-me uma coisa, José… já não estás farto de ver as parrecas das mulheres?
- Estou farto de ver sempre as mesmas, isso sim… porque as minhas clientes são as mesmas de há 20 anos atrás. Por isso é que gosto de aqui vir ver mulheres novas, para não enjoar.
- Então estás como eu… lá na minha igreja são sempre as mesmas que lá vão. As mais novas nem sequer aparecem. A tradição já não é o que era. Nem parece que estamos na cidade dos Arcebispos… que segundo dizem é uma das cidades mais jovens da Europa.
- É sinal da modernidade dos tempos, Libertino. Se queres fazer chegar a tua mensagem aos jovens tens mas é que abrir uma conta no facebook!
- No quê?!?!? Isso é algum banco?
- Não! É uma rede social na internet em que tu estás lá, mas apenas virtualmente, assim como o teu Deus que está na tua Igreja, mas também só virtualmente, não sei se me estás a entender…
- Então se abrir uma conta nessa coisa do facebook, passo também a ser uma espécie de Deus, é isso?
- Sim, mais ou menos isso. Tens é que saber gerir bem as coisas. Tens que saber cativar bem as ovelhas do teu rebanho, Libertino. Tens que saber atrair os jovens com a tua mensagem, a tua palavra. Eu, por exemplo, tenho uma conta no facebook, e tenho muitas amigas, quase todas minhas clientes. Sempre que olho para o facebook delas, lembro-me logo da “coisa” delas... umas mais cabeludas, outras mais carecas… Tens que fazer o mesmo com os teus fiéis. Olhas para a cara dos teus fiéis no facebook e pimba! Lembras-te logo dos pecados deles… uns mais comuns, outros mais estúpidos…
Fonte: Correio do Minho, em 4-10-2011
Nascido em Terras de Bouro, desde cedo que Libertino Calhau mostrou apetência para a vida eclesiástica, principalmente quando apanhava as rãs da ribeira que passava rente à humilde casinha de seus pais e as obrigava a confessar os seus pecados.
E como os pobres batráquios nem sempre colaboravam com o pequeno Libertino nas suas santas intenções (que na altura tinha a alcunha de Tino das rãs), era-lhes aplicado uma pesada penitência (no sentido literal do termo): uma martelada sobre as suas cabeças, que ficavam esborrachadas para gáudio e contentamento do pequeno Tino das rãs que, assim, ficava com o sentimento de dever cumprido, sentindo-se mais próximo do Criador.
Já na adolescência, Libertino Calhau sentiu que a bordoada que apanhava diariamente do pai bêbado e escangalhado da cabeça, era o chamamento Divino para que ele pegasse nas suas coisinhas e fugisse de noite, de casa, a correr em direcção a um dos Seminários de Braga porque, pensava ele, ser padre não devia ser assim tão mau. E foi assim que Libertino Calhau fez a sua formação de padre sempre a bulir, tendo sido ordenado sacerdote aos 23 anos de idade, mestre em filosofia e com uma grande paixão por literatura e mulheres bonitas, porque em Braga que as há, há! “E se Deus Nosso Senhor as criou para nosso puro deleite, porque não Lhe fazer a vontade?”, pensava o nosso padre.
Às vezes, encontrando senhoras já casadas passeando com seus maridos pelo cerrado arvoredo da Mãe-d’Água do Bom Jesus do Monte, acotovelava o companheiro de passeio e murmurava baixinho: “Aqui vem uma das que te falei. E ainda continua toda boa apesar da barrigada”.
Mas nem o avançar da idade veio dar mais juízo a este nosso padre, que continuava a preferir a boa vida, os banquetes, o jogo com os amigos, a companhia das mulheres bonitas à vida eclesiástica pura e dura, porque, argumentava ele, “precisava de arejar as ideias para não endoudecer”. O seu melhor amigo era José de Almeida, médico especialista em doenças de senhoras, através do qual já conhecera algumas das madames mais chiques da cidade dos Arcebispos.
Libertino Calhau e José de Almeida conheceram-se nas noitadas bracarenses entre três copos de whisky e seis de conhaque, bebericados nas boîtes da moda e a partir daí não mais se separaram. Quando o nosso padre queria converter mais um pouco o espírito de José de Almeida, levava-o a uma casa de alterne a assistir a um show de striptease da última pérola chegada de além-mar com sotaque a Brasil e era um regalo para os ouvidos de Libertino Calhau ouvir da boca do seu querido amigo manifestações de grande apreço e amor a Deus, tais como: “Ó Meu Deus… és tão boa!”, “Ai Jesus Cristo… comia-te toda!” ou ainda: “Minha Nossa Senhora… mas que belo par de mamas!” E vendo tamanha devoção a Deus, o nosso bom padre concedia imediatamente a absolvição de todos os pecados ao seu inseparável amigo José de Almeida.
- Diz-me uma coisa, José… já não estás farto de ver as parrecas das mulheres?
- Estou farto de ver sempre as mesmas, isso sim… porque as minhas clientes são as mesmas de há 20 anos atrás. Por isso é que gosto de aqui vir ver mulheres novas, para não enjoar.
- Então estás como eu… lá na minha igreja são sempre as mesmas que lá vão. As mais novas nem sequer aparecem. A tradição já não é o que era. Nem parece que estamos na cidade dos Arcebispos… que segundo dizem é uma das cidades mais jovens da Europa.
- É sinal da modernidade dos tempos, Libertino. Se queres fazer chegar a tua mensagem aos jovens tens mas é que abrir uma conta no facebook!
- No quê?!?!? Isso é algum banco?
- Não! É uma rede social na internet em que tu estás lá, mas apenas virtualmente, assim como o teu Deus que está na tua Igreja, mas também só virtualmente, não sei se me estás a entender…
- Então se abrir uma conta nessa coisa do facebook, passo também a ser uma espécie de Deus, é isso?
- Sim, mais ou menos isso. Tens é que saber gerir bem as coisas. Tens que saber cativar bem as ovelhas do teu rebanho, Libertino. Tens que saber atrair os jovens com a tua mensagem, a tua palavra. Eu, por exemplo, tenho uma conta no facebook, e tenho muitas amigas, quase todas minhas clientes. Sempre que olho para o facebook delas, lembro-me logo da “coisa” delas... umas mais cabeludas, outras mais carecas… Tens que fazer o mesmo com os teus fiéis. Olhas para a cara dos teus fiéis no facebook e pimba! Lembras-te logo dos pecados deles… uns mais comuns, outros mais estúpidos…
Fonte: Correio do Minho, em 4-10-2011
Sem comentários:
Enviar um comentário