Obras de arte e cultura orgulham terrabourensesNasceu, em 1965, em Saim, freguesia de Chorense, numa altura em que aí não havia luz eléctrica e nem chegava estrada. Saim era um lugar isolado. Todas os seus habitantes, para se deslocarem a Chorense ou à sede do concelho, faziam-no por maus caminhos e a pé. No entanto, desde tenra idade que Luzia Teixeira despertou para as artes.
Esta talentosa artista plástica terrabourense foi crescendo e a sua obra também. A prová-lo estão as dezenas de exposições individuais e colectivas realizadas, na última década, em território nacional e no estrangeiro, nomeadamente no Luxemburgo, França e Itália.
O Dia do Município de Terras de Bouro, marcado pela cultura, assinalou a inauguração de uma exposição de pintura ‘Paradoxos… Senda da Luz’, de autoria de Luzia Teixeira.
Casada e com dois filhos, Luzia Teixeira adoptou o nome artístico de ‘Lucy Bream’. A esta Formadora de Artes Plásticas e organizadora de eventos socio-culturais “tudo serve de motivo para uma observação mais atenta e pormenorizada”.
Aos 14 anos, na Árvore - Escola Artística e Profissional, em Guimarães, a pintora começou a dominar as técnicas, os materiais e a enfrentar os críticos. Os seus estudos estendem-se, aliás, a diversas zonas, como Vieira do Minho, Guimarães, Porto e Barcelona.
Confessando-se uma amante de Terras de Bouro, principalmente das paisagens naturais que lhe servem de inspiração para muitas das suas criações, Lucy Bream acaba por se fixar em Guimarães, onde tem residência e atelier. Lucy utiliza os materiais com técnicas de artes plásticas, num estilo muito próprio, na pintura, na escultura, em ilustrações e nas artes decorativas.
No que diz respeito à experiência profissional, Luzia Teixeira já executou, entre outras, as funções de Técnica de Auditoria e Formação. Actualmente, as suas actividades dividem-se entre a pintura, as ilustrações, a escultura, as artes decorativas e a organização de eventos sócio culturais.
“Terras de Bouro e o Gerês são a minha fonte de inspiração e renovação”
A exposição apresentada por Lucy Bream, na Vila do Gerês, é uma colecção sobre o tema ‘Paradoxos… Senda da Luz’. As obras que seleccionou representam elementos do percurso que a ligam a Terras de Bouro e a Guimarães e, ao mesmo tempo, com a amplitude que observa a mitologia ligada ao Universo. A ideia da técnica inédita desenvolvida – através da qual todas as pinturas são admiráveis em plena escuridão, “surgiu durante as sessões passadas num ambiente compenetrado na natureza e nos planetários”. Os temas a representar, esses, “foram inspirados durante os últimos percursos” que a levaram “do alto da Serra do Gerês, até ao mar”, bem como pelo “impacto e o caloroso acolhimento” que sentiu em 2008, ao representar Terras de Bouro na vila de St. Arnoult, em França.
A temática da obra resulta da constatação da artista de que, em cada obra, para além da representação directa, há sempre duas ou mais mensagens, que só quem a conhece muito bem ou com quem partilhou o momento de inspiração é capaz de as assimilar na totalidade. “Mas, em todas, de um modo ou de outro verificam-se paradoxos”, explica Luzia Teixeira, defendendo que “uma obra é como uma escritura, na qual cada um lê o que quer”.
Esta artista executa obras de artes plásticas, pintura, ilustrações, escultura, artes decorativas e movimentos artísticos colectivos. As correntes artísticas, pelas quais “inconscientemente” se deixa conduzir, são o naturalismo com algum realismo, impressionismo e expressionismo à mistura, “mas a forte tendência é o surrealismo e abstracção geométrica, embora num estilo muito próprio”. “Não represento com formas e texturas infantis, mas procuro satisfazer e maravilhar um público infantil e jovem, ao mesmo tempo, tento a despertar a criança que existe dentro de nós”, explicou.
Desde a infância, Luzia Teixeira despertou para o gosto pelas cores, formas e palavras. “Encontrei nas Belas Artes e nas Artes Plásticas um modo de ser e estar na vida, e um meio de divulgar a mensagem que sinto”, referiu, acrescentando que o seu objectivo passa por se conseguir dedicar-se “a tempo inteiro, viver pela arte e continuar a superar todas as expectativas”. “O Gerês e Terras de Bouro são a minha origem, a fonte de inspiração e renovação que me ajuda a recarregar as energias para qualquer realização”, acrescentou.
Tal como qualquer artista, também Lucy Bream se debate com problemas como a “sustentação pela arte” ou de promoção, aceitação e colaboração, principalmente daqueles que a rodeiam e “com poucos conhecimentos” sobre a arte que lhe “corre nas veias”.
Desde 2000, altura em que começou a apresentar-se com projectos convictos e experientes, Luzia Teixeira desenvolveu cinco colecções: ‘Viagem no Tempo’, ‘Mundo Selvagem’, ‘Gerês, Terras de Bouro - Paraíso Minhoto’, ‘Cidade, Berço Colorido’ e ‘Paradoxos… Senda da Luz’. A primeira, já terminada, conta com 50 obras, enquanto as outras ainda estão em desenvolvimento. “A melhor e que mais gosto, é esta colecção que estou a expor e a desenvolver, por um todo”, assegurou a artista, lembrando que “a pior foi, sem dúvida, a primeira, ‘Viagem no Tempo’, “pela exteriorização de sentimentos muito profundos e a confrontação com realidades marcantes”.
Esta terrabourense conta já, desde 2003, com 46 exposições colectivas e individuais, em Portugal e além fronteiras, e com outras 25 dos seus alunos das actividades de artes plásticas.
“Poucos são os que estão devidamente preparados para apreciar um evento artístico”Terras do Homem: Acha que os portugueses, e em particular os habitantes desta região, estão mais sensibilizados para a importância da arte? Que papel atribui à arte no mundo em que vivemos?
Luzia Teixeira: A valorização de uma obra de arte é uma questão de conhecimento. Poucos são os portugueses ou os habitantes desta região que estão devidamente elucidados e preparados para apreciar um evento artístico ou valorizar uma obra de arte. A cultura portuguesa está mais direccionada para o utilitário e o perfeccionismo. Valorizando qualquer obra ou objecto, mesmo que não seja considerada uma obra de arte, mas que seja elaborada com hiper-realismo. E é mais apreciada uma boa reprodução tipográfica ou fotográfica.
Para mim, o papel da Arte é uma forma de divulgar, conhecer a cultura e o modo de vida de uma pessoa ou de um povo, é um registo da sociedade actual e das civilizações passadas para o presente e para posterioridade. É um modo de preservação dos valores sociais.
TH: Que diagnóstico faz do consumo de arte em Portugal?
LT: O consumo de arte em Portugal é relativamente baixo, só é adquirido por coleccionadores e apreciadores que, no caso da arte que elaboro, são poucos. Para a população em geral é um bem dispensável.
TH: Acha que a arte tem tendência a perder importância na vida das pessoas, em detrimento das novas tecnologias de informação e de outras necessidades mais prementes face à crise financeira dos últimos anos?
LT: Embora ache que os valores se estejam a perder, quem valoriza algo, aprecia sempre e cada vez mais. Naturalmente que quem tem conhecimento saberá o quão importante é investir em obras repletas de mensagens e únicas, e nunca as desvalorizarão em detrimento de quererem adquirir reproduções feitas em série, mais económicas, elaboradas pelas tecnologias actuais.
Gostos e preferênciasOnde reside?
Em Guimarães.
Profissão?
Formadora e Artista de Artes Plásticas.
Últimas férias?
Foram em Itália.
Último hobby?
Associativismo, voluntariado, montanhismo e caminhadas.
Almoço de hoje?
Os meus hábitos alimentares são macrobióticos e em função das minhas necessidades. Alimento-me como é óbvio, para sobreviver.
Marca de roupa que usa?
Gosto de me agradar e sentir bem comigo mesma.
Último livro que leu?
Deliciei-me com as recentes edições de três dos meus amigos escritores e poetas: 'O Preço da Vitória', de Angelino Pereira; 'Divagações - A Flor da Alma e do Mar', de Donzília Martins; e 'Coração de Algodão' de João Luís Dias.
Último filme que viu?
'Harry Potter e as relíquias da Morte' e 'Insidious'.
Onde gostaria de morar?
Para além de Guimarães, gostaria de viver em Terras de Bouro e/ou Barcelona.
Que profissão gostaria de ter?
Profissionalmente sinto-me realizada. Estou a trabalhar no sentido de que, em breve, me possa dedicar à minha arte a tempo inteiro.
Férias preferidas?
Visitas culturais, praia e montanha.
Passatempo preferido?
Em casa, a reflexão no silêncio, escrever e entretenimentos em família. Na rua, contemplar a natureza e ambientes sócio culturais.
Marca de roupa preferida?
Como já o disse antes, gosto de me agradar e sentir bem comigo mesma.
Livro preferido?
'Elementos de Arqueologia e Belas Artes', de Manuel Aguiar Barreiros, e 'Amor Mais Alto', de Arcediago João B. Lourenço Ínsuelas.
Filme preferido?
'Avatar'.
Fonte: Terras do Homem, em 27-10-2011