Republicamos a carta da deputada Dr. Teresa Fernandes endereçada ao Presidente da Comissão Distrital do PSD de Braga, em que a deputada terrabourense decide não integrar as listas do PSD às próximas eleições legislativas.Neste formato todos os Terrabourenses poderão ler, mais facilmente, as suas palavras.
Exmo. Sr. Presidente da Distrital de Braga do PSD
Sr. Dr. Paulo Cunha,
Na actual legislatura tenho vindo a exercer as funções de Deputada à Assembleia da República.
Sendo certo que ninguém é bom juiz em causa própria, creio que os repetidos elogios públicos de V*. Exa. ao trabalho dos Deputados eleitos por Braga, bem como os do próprio Presidente do Grupo Parlamentar do PSD, também Deputado pelo nosso círculo, têm também a minha quota parte de merecimento.
Para mais, o próprio site da Assembleia da República que permite ver o trabalho de todos os Deputados atestará o trabalho que produzi, em especial na Comissão Parlamentar de Saúde, na qual fui o único membro efectivo do nosso Distrito.
Na segunda-feira da semana passada fiquei a saber pela comunicação social que o meu nome estava a disputar o 6º lugar com uma outra pessoa, irmã de um ex-presidente do PSD, a qual podia levar vantagem "por força do maior peso político da concelhia de Fafe".
Ontem, novamente pela comunicação social, tomei conhecimento que o meu nome foi colocado no 12º lugar na lista final de candidatos.
Na política não há lugares cativos. E V.ª Exa. tinha toda a legitimidade para me colocar no lugar que entendesse ou até, pura e simplesmente, afastar-me das listas.
Tinha também toda a legitimidade para, independentemente da qualidade do trabalho que produzi, preterir o meu nome em favor de quem quer que seja, tenha ele o apelido que tenha, seja ele ou não familiar directo deste ou daquele político.
Neste processo, o que sobretudo me entristece é a sua forma de estar na política. Não lhe custava nada, talvez só um pingo de hombridade, comunicar-me pessoalmente a sua decisão. Não lhe custava nada, talvez só um pouco de elegância, fazer um telefonema e informar-me das opções que, legitimamente, repito, tomou.
Manda a dignidade, que as pessoas não sejam de usar e deitar fora. Se é pela acção que se conhece o carácter das pessoas, o silêncio ensurdecedor de V.ª Exa. durante todo este processo, quer comigo, quer, segundo tenho conhecimento, com outros candidatos, é chocante.
V.ª Exa. ocupa o cargo de Presidente da terceira maior Distrital do PSD. Não obstante, não são os cargos que fazem um líder. A um líder pede-se que tenha a coragem de assumir as suas decisões. A um líder pede-se que seja um exemplo de carácter na forma de actuar.
Em política, pelo menos naquela em que acredito, não pode valer tudo. V.ª Exa. tem vindo a defender publicamente uma nova forma de fazer política. A sua acção é a antítese do que apregoa.
Pela presente venho comunicar-lhe a minha recusa em integrar as listas de candidatos do PSD à Assembleia da República.
Ponderei, muito seriamente, se esta recusa em ser candidata devia ser acompanhada de uma desfiliação do PSD. Mas seria uma enormidade renunciar a uma ideologia com a qual me identifico e que me levou, desinteressadamente, à filiação num partido político. Não posso confundir a grandeza do meu partido com a estatura deste ou daquele dirigente.
Do conteúdo desta carta darei conhecimento aos Terrabourenses. Fui Deputada à Assembleia da República representando todo o país, mas obviamente a minha acção teve o meu Distrito e em particular o meu Concelho no centro das preocupações. É importante para mim que percebam a razão da minha decisão.
Da mesma dou também conhecimento ao Presidente da minha Concelhia e ao Secretário-Geral do PSD.
A bem de Portugal desejo ardentemente que o PSD vença as próximas eleições. Tudo farei, enquanto simples militante, para que tal aconteça. Continuarei, até ao fim, a exercer o mandato de Deputada para o qual fui eleita com todo o empenhamento. Aliás, já esta tarde estarei na Comissão Parlamentar de Saúde em representação do PSD.
Por último, porque comigo as palavras não ficam por dizer, e para que fique claro, a recusa em integrar esta lista de candidatos estender-se-á, também, à recusa em aceitar integrar qualquer projecto, presente ou futuro, de uma organização liderada por si.
A política sem ética é uma vergonha, disse um dia Francisco Sá Carneiro. A política sem coração e coragem para assumir decisões é, também, uma uma vergonha, permito-me acrescentar.
Atentamente,
Teresa Fernandes
9 comentários:
A minha admiração e o meu orgulho em te ter como conterrânea e amiga, a tresandar de inteligência e força, minha querida.
Olha, Teté, deixa-me que te diga (cá que ninguém nos ouve): gostamos mais de te ter todos os dias por cá, do que só de vez em quando.
Toma um beijinho e um abraço deste doido que insistem em chamar de "poeta da montanha", como que se a montanha já não tivesse pastores bem melhores do que eu!...
João Luís Dias
Transcrevemos o comentário do Sr. Silva que nos foi enviado para o nosso email:
De facto os políticos têm destas coisas, interesses, ingratidão, falta de carácter.
Quanto mais se trabalha mais pontapés se leva. É típico!
Vejam, a Dr.ª Teresa recebeu do Sr. Presidente da Assembleia da República, vários elogios por trabalhos realizados. Em forma de agradecimento, disseram-lhe trabalhaste demais vais-te embora.
Depois, admiram-se que a abstenção aumente. Quem acredita nesta gente?
Silva
No nosso email recebemos do Sr. Manuel Tibo um comentário de solidariedade e de apoio à Dra. Teresa Fernandes que passamos a transcrever:
Amiga Maior que o pensamento. Por essa estrada amiga vem. Por essa estrada amiga sempre presente. Não percas tempo que o vento, porque esse virará também...
Amiga a dignidade e a competência que demonstraste neste acto reflecte em ti, tudo aquilo que és como pessoa. Pois bem, só diz mal de ti quem não te conhece.
Por todas as razões e mais algumas, tenho por ti a maior estima, consideração e amizade, e dizer-te que é para mim um enorme orgulho em ter-te como minha amiga, e aproveitar para te dizer que o carácter, a dignidade e a competência terão sucesso em qualquer lugar e em qualquer ocasião.
E citando o saudoso António Fernandes (o Rego) - "..a estupidez cabe em qualquer criatura..."
Amiga, desejo-te as maiores e as melhores felicidades, para a tua vida e muita saúde, e dizer-te que a liberdade é um dos meus bens mais preciosos, então, não indo TU nas listas do PSD, o meu voto não será nesse partido.
Com muita estima e amizade, e beijo para ti.
Também como ambos somos do Sporting, e citando JEB - Terras de Bouro, FOREVER
MANUEL JOÃO SAMPAIO TIBO
Num passado uma felicidade enorme pelo que conseguiste alcançar com base no teu trabalho e dedicação. Num presente um orgulho imenso pela pessoa que és e pelas atitudes e acções que tomas. Mas desde sempre um exemplo de vida.
Há pessoas que têm a sorte de ter nascido numa família com grandes possibilidades económicas. Outras, sorte por nascer numa cheia de bens e renome. E depois há outras, como eu, que têm a felicidade de nascer numa família onde há alguém como tu e a oportunidade de conviver e sentir mais do que ninguém aquilo que és.
É nestes momentos que toda a admiração que eu tenho por ti se torna pouca. É um prazer imenso e uma alegria enorme saber que te terei sempre a meu lado.
Um beijinho,
DM
Teté, não sei se te lembras do que te disse, no primeiro dia, em que foste exercer as funções de deputada na Assembleia da República, vou relembrar-te: “Vai, pois tenho a certeza que nos vais dar muitos motivos de orgulho porque foi sempre o que fizeste até hoje e com certeza que vais continuar a fazê-lo”. De facto, foi isso que aconteceu, fizeste-nos encher o coração de tamanho orgulho que parecia explodir. As saudades eram muitas, sentíamos a tua falta, mas a tua alegria fazia compensar tudo, porque estavas a fazer aquilo de que gostavas.
Agora, como tu me disseste, viraste uma página na tua vida, que por sinal muito agradável, ao tomares a decisão de seres retirada da lista do PSD, por não estares posicionada onde deverias estar. Tive oportunidade de assistir sempre ao teu empenho e preocupação em nunca faltares aos trabalhos na Assembleia da República. Acompanhei sempre, através da página da internet da Assembleia da República, todo o teu trabalho, só foi pena que, para quem selecciona os candidatos a deputados, outros valores contem e não o da competência. Mais uma vez nos deste motivo de orgulho porque mostraste ter uma personalidade firme. Eles é que vão ficar a perder. Muitos beijinhos da tua irmã. Locas
Com apenas 11 anos de idade, posso não perceber nada de política, mas que perderam uma grande deputada, perderam, está à vista de todos, basta ver o empenho que demonstrou em todo este tempo de exercício das suas funções.
Só te peço que não ocupes o teu coração com esta tristeza, ocupa-o sim, com a alegria que a tua família te dá.
Não te esqueças que podes sempre contar comigo. Um beijo da tua afilhada Marta.
Recebemos no nosso e-mail um comentário da D. Teresa Lima de Benavente que passamos a citar:
“Conheci a Teresa Fernandes em Coimbra, como estudante de Direito, acompanhei a sua actividade como deputada através do site da Assembleia da República, li os comentários do vosso blog, e principalmente li a Carta da Dr.ª Teresa Fernandes, gostei do que li, não sou militante de qualquer partido, mas quero dar os meus parabéns à Teresa, pela sua coerência.”
Teresa Lima (Benavente)
Quis deixar passar algum tempo antes de me manifestar (publicamente) sobre a tua posição em relação à decisão, legítima, do teu partido. Foste, apenas, tu própria: coerente, íntegra e honesta. A verdade é que não estamos habituados a este tipo de atitudes e comportamentos nos políticos…
Sabes que tenho o maior orgulho em ti. A posição que tomaste, ao denunciar a forma como o processo de selecção dos candidatos decorre, foi um acto de grande honestidade e transparência para com todos os cidadãos, principalmente, para com os de Terras de Bouro.
Tenho muito orgulho em ti. Senti um imenso orgulho e admiração quando em Fevereiro, na Assembleia da República, recebeste a minha escola e trataste os nossos alunos (turmas de Percurso curricular alternativo e com Necessidades educativas especiais) com tanto respeito e cortesia… Tanto, que os pais se recusavam a acreditar naquilo que os filhos lhes contavam. E ainda hoje recordam essa experiência. Tudo isto esteve em consonância com o teu carácter e com as tuas convicções…
A verdade é que te destacas em relação a TODOS os que te rodeiam na política: és corajosa, tens carácter e mostraste que ainda há gente que não abdica dos seus princípios, dos seus valores e da liberdade de dizer frontalmente que, na política não vale tudo.
E pergunto: como podem (os políticos) defender e respeitar os interesses do povo, quando não respeitam os companheiros com quem se sentam à mesa?
Beijinhos, mana, e que continues defender sempre os teus ideais com esta firmeza.
Agostinha
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