Quase dispensa apresentações, mas ainda assim a Casa do Infante promoveu o "Circuito da Francesinha". A ideia é provar as melhores versões da especialidade gastronómica que cresce com a cidade.
Na Casa do Infante, na Ribeira, o ar é preenchido pela excitação e a conversa. Fala-se de francesinhas e prepara-se a saída para mais um circuito pedonal gastronómico. "A francesinha é considerada a única especialidade de culinária criada no século XX, no Porto, ultrapassa várias barreiras e fronteiras e teve a sua origem nos anos 50", explica a responsável pelo circuito, Graça Lacerda. Enriquecido com a documentação do Arquivo Histórico da Casa do Infante, o percurso proporciona a visita a locais relacionados com o tema.
Conhecer a francesinha na Biblioteca de Assuntos Portuenses
A receita da francesinha tem conhecido algumas "variantes que se conjugam com a evolução da nossa sociedade", continua Graça Lacerda. Subindo as escadas até ao segundo piso, chega-se à Biblioteca de Assuntos Portuenses, onde se podem encontrar livros, revistas, documentos e até uma caricatura referentes à iguaria portuense.
Levantando a ponta do véu, Graça Lacerda fala aos participantes de uma teoria "pouco provável" da criação da francesinha: "há uma teoria que nos leva até às Invasões Francesas, pois as tropas napoleónicas costumavam comer sandes de pão com diferentes espécies de carnes e muito queijo". Terá sido este petisco a influenciar os portuenses, que acrescentaram às sandes o molho, segundo a opinião de Francisco Sampaio, presidente da Região de Turismo do Alto Minho. "A mulher mais picante que conheço é a francesa"
Daniel David da Silva, natural de Terras de Bouro, é o "pai" da francesinha. Este minhoto emigrante na Bélgica e em França voltou a Portugal e foi no restaurante "A Regaleira", na Rua do Bonjardim, que deu a conhecer a sua "receita picante". Conta quem sabe que o molho da francesinha, de tão picante que era, fazia "cair gotas de suor na cara das pessoas".
Passamos agora para a Sala de Exposições da Casa do Infante. Graça Lacerda, que continua a sua explicação sobre a francesinha, apresenta aos participantes um mapa com a localização dos cinco restaurantes que servem boas francesinhas na cidade do Porto. São eles "A Regaleira", "Cufra" (Avenida da Boavista), o café "Santiago" (Rua Passos Manuel), o café "Capa Negra II" (Rua do Campo Alegre) e a "Cervejaria Galiza" (Rua do Campo Alegre).
Os participantes, uns mais gulosos, outros mais contidos, estão atentos à exposição de Graça Lacerda. Maria de Lurdes confessa que até nem é "muito adepta" da francesinha, mas como gosta de "conhecer as coisas da cidade e os pratos gastronómicos", resolveu aventurar-se no circuito. Para esta participante, o "roteiro é interessante", porque permite um aprofundamento "do que se sabe sobre a francesinha".
Saborear os ingredientes
Os ingredientes eram muito importantes para o criador da francesinha. "O piripiri, que nos anos 50 e 60 vinha de Angola ou Moçambique, o pão bijou, o fiambre, a salsicha fresca - que era comprada expressamente no Bolhão -, a linguiça, a perna assada fina, o queijo derretido e o molho eram um regalo para os fregueses", afirma Graça Lacerda.
Subindo a Rua Mouzinho da Silveira Rua, debaixo de um sol quente e de um céu azul, chega-se ao "Cabaz do Infante". Localizado no coração da Ribeira, na Rua de São João Novo, o estabelecimento de Manuel Ferreira é "paragem obrigatória para o apreciador mais caseiro adquirir os produtos", conta a guia.
"Para si, uma boa francesinha é..."
Depois de uma vista de olhos rápida pelos ingredientes, é hora de voltar à caminhada. Com o pé na calçada e a francesinha na cabeça (e, em breve, no estômago), passa-se pelo Centro Histórico para conhecer um "grande apreciador". Albertino Ribeiro diz-se um "bom garfo" e desde que lhe apresentaram a francesinha não quer outra coisa. "O que eu gosto não é a quantidade, mas sim a qualidade", explica.
E onde está o segredo de uma boa francesinha? "No molho", responde entusiasmado. Para Albertino Ribeiro, uma boa francesinha tem de ter "bastante molho", que tem de estar "bem temperadinho para puxar uma, duas ou três cervejas", brinca. "Esta semana já comi duas francesinhas", remata.
"Celebrar à mesa a identidade da nossa cidade"
É hora de pôr de parte as palavras e partir para a acção. A próxima paragem é o café "La Pausa" onde os participantes vão provar a tão falada francesinha. De garfo e faca preparados, na mão uma bebida fresca e com o estômago a dar horas, os participantes esperam pela iguaria portuense que tanto ouviram falar durante o circuito. Enquanto esperam põem a conversa em dia. O convívio é "fundamental" quando se come francesinha, porque "puxa conversa, há sempre piadas por causa do molho muito picante", conta Isaura Pereira, conhecedora das primeiras francesinhas do Porto.
Bárbara é uma jovem brasileira que já se rendeu à francesinha. "Já provei e adorei", diz. Quando lhe falam em francesinha, a mais recente especialidade portuense (foi inventada nos anos de 1950), Bárbara só se lembra do "queijo derretido". Para Roberto Fernandes, outro participante, o "molho é o segredo da francesinha". Adepto de circuitos gastronómicos, Roberto não perdeu a oportunidade de conhecer melhor a francesinha. Teresa Freitas também costuma estar presente neste tipo de evento e achou interessante alguns aspectos históricos do prato típico do Porto. "O que levou o senhor a chamar este prato de francesinha foi uma malandrice", brinca.
Para estes apreciadores da gastronomia portuense, a francesinha é "uma tentação", "apetitosa", "deliciosa" e até "afrodisíaca". Por isso, e por hoje, as calorias são esquecidas. "A francesinha é uma bomba calórica", mas uma vez por outra "este pequeno prazer traz mais benefícios do que prejuízos" e, por isso, "vivam as francesinhas e venham as calorias", atira Graça Lacerda
Fonte: Universidade do Porto, em 9-04-2011
Na Casa do Infante, na Ribeira, o ar é preenchido pela excitação e a conversa. Fala-se de francesinhas e prepara-se a saída para mais um circuito pedonal gastronómico. "A francesinha é considerada a única especialidade de culinária criada no século XX, no Porto, ultrapassa várias barreiras e fronteiras e teve a sua origem nos anos 50", explica a responsável pelo circuito, Graça Lacerda. Enriquecido com a documentação do Arquivo Histórico da Casa do Infante, o percurso proporciona a visita a locais relacionados com o tema.
Conhecer a francesinha na Biblioteca de Assuntos Portuenses
A receita da francesinha tem conhecido algumas "variantes que se conjugam com a evolução da nossa sociedade", continua Graça Lacerda. Subindo as escadas até ao segundo piso, chega-se à Biblioteca de Assuntos Portuenses, onde se podem encontrar livros, revistas, documentos e até uma caricatura referentes à iguaria portuense.
Levantando a ponta do véu, Graça Lacerda fala aos participantes de uma teoria "pouco provável" da criação da francesinha: "há uma teoria que nos leva até às Invasões Francesas, pois as tropas napoleónicas costumavam comer sandes de pão com diferentes espécies de carnes e muito queijo". Terá sido este petisco a influenciar os portuenses, que acrescentaram às sandes o molho, segundo a opinião de Francisco Sampaio, presidente da Região de Turismo do Alto Minho. "A mulher mais picante que conheço é a francesa"
Daniel David da Silva, natural de Terras de Bouro, é o "pai" da francesinha. Este minhoto emigrante na Bélgica e em França voltou a Portugal e foi no restaurante "A Regaleira", na Rua do Bonjardim, que deu a conhecer a sua "receita picante". Conta quem sabe que o molho da francesinha, de tão picante que era, fazia "cair gotas de suor na cara das pessoas".
Passamos agora para a Sala de Exposições da Casa do Infante. Graça Lacerda, que continua a sua explicação sobre a francesinha, apresenta aos participantes um mapa com a localização dos cinco restaurantes que servem boas francesinhas na cidade do Porto. São eles "A Regaleira", "Cufra" (Avenida da Boavista), o café "Santiago" (Rua Passos Manuel), o café "Capa Negra II" (Rua do Campo Alegre) e a "Cervejaria Galiza" (Rua do Campo Alegre).
Os participantes, uns mais gulosos, outros mais contidos, estão atentos à exposição de Graça Lacerda. Maria de Lurdes confessa que até nem é "muito adepta" da francesinha, mas como gosta de "conhecer as coisas da cidade e os pratos gastronómicos", resolveu aventurar-se no circuito. Para esta participante, o "roteiro é interessante", porque permite um aprofundamento "do que se sabe sobre a francesinha".
Saborear os ingredientes
Os ingredientes eram muito importantes para o criador da francesinha. "O piripiri, que nos anos 50 e 60 vinha de Angola ou Moçambique, o pão bijou, o fiambre, a salsicha fresca - que era comprada expressamente no Bolhão -, a linguiça, a perna assada fina, o queijo derretido e o molho eram um regalo para os fregueses", afirma Graça Lacerda.
Subindo a Rua Mouzinho da Silveira Rua, debaixo de um sol quente e de um céu azul, chega-se ao "Cabaz do Infante". Localizado no coração da Ribeira, na Rua de São João Novo, o estabelecimento de Manuel Ferreira é "paragem obrigatória para o apreciador mais caseiro adquirir os produtos", conta a guia.
"Para si, uma boa francesinha é..."
Depois de uma vista de olhos rápida pelos ingredientes, é hora de voltar à caminhada. Com o pé na calçada e a francesinha na cabeça (e, em breve, no estômago), passa-se pelo Centro Histórico para conhecer um "grande apreciador". Albertino Ribeiro diz-se um "bom garfo" e desde que lhe apresentaram a francesinha não quer outra coisa. "O que eu gosto não é a quantidade, mas sim a qualidade", explica.
E onde está o segredo de uma boa francesinha? "No molho", responde entusiasmado. Para Albertino Ribeiro, uma boa francesinha tem de ter "bastante molho", que tem de estar "bem temperadinho para puxar uma, duas ou três cervejas", brinca. "Esta semana já comi duas francesinhas", remata.
"Celebrar à mesa a identidade da nossa cidade"
É hora de pôr de parte as palavras e partir para a acção. A próxima paragem é o café "La Pausa" onde os participantes vão provar a tão falada francesinha. De garfo e faca preparados, na mão uma bebida fresca e com o estômago a dar horas, os participantes esperam pela iguaria portuense que tanto ouviram falar durante o circuito. Enquanto esperam põem a conversa em dia. O convívio é "fundamental" quando se come francesinha, porque "puxa conversa, há sempre piadas por causa do molho muito picante", conta Isaura Pereira, conhecedora das primeiras francesinhas do Porto.
Bárbara é uma jovem brasileira que já se rendeu à francesinha. "Já provei e adorei", diz. Quando lhe falam em francesinha, a mais recente especialidade portuense (foi inventada nos anos de 1950), Bárbara só se lembra do "queijo derretido". Para Roberto Fernandes, outro participante, o "molho é o segredo da francesinha". Adepto de circuitos gastronómicos, Roberto não perdeu a oportunidade de conhecer melhor a francesinha. Teresa Freitas também costuma estar presente neste tipo de evento e achou interessante alguns aspectos históricos do prato típico do Porto. "O que levou o senhor a chamar este prato de francesinha foi uma malandrice", brinca.
Para estes apreciadores da gastronomia portuense, a francesinha é "uma tentação", "apetitosa", "deliciosa" e até "afrodisíaca". Por isso, e por hoje, as calorias são esquecidas. "A francesinha é uma bomba calórica", mas uma vez por outra "este pequeno prazer traz mais benefícios do que prejuízos" e, por isso, "vivam as francesinhas e venham as calorias", atira Graça Lacerda
Fonte: Universidade do Porto, em 9-04-2011
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