quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Violência doméstica atinge mulheres, crianças, idosos e… homens

Nas últimas semanas, multiplicaram-se novos casos de violência doméstica na região do Vale do Homem. É um problema que se vem acentuando, à medida que a crise que o país atravessa aumenta. A violência doméstica é frequentemente associada à alteração dos estados de espírito das pessoas afectadas, podendo estar na base do desenvolvimento deste flagelo no Vale do Homem. Um flagelo que não é uma novidade, mas que vai apresentando novos desenvolvimentos e variantes, já que não é apenas perpetrado sobre mulheres, mas também sobre homens, idosos e crianças.
Disso mesmo dão conta os dados avançados pela Guarda Nacional Republicana, que criou já um departamento específico para o combate a este tipo de crime, muitas vezes, silenciado dentro das paredes de uma habitação. Ao todo, desde o início de 2009, foram já registados 500 processos desta natureza, no Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas da GNR (NIAVE). Há grupos etários e meses do ano em que a violência, física ou psicológica, se torna mais frequente e intensa.
Fazendo uma análise dos dados, em termos de faixas etárias mais vulneráveis, verifica-se que a maioria das vítimas tem idade compreendida entre os 36 e 45 anos.
Nos meios mais rurais, este tipo de problemas acaba por se arrastar por mais anos, o que, no entender dos agentes de segurança, resulta directamente de um maior atraso nas mentalidades.
Para combater este flagelo, a Guarda Nacional Republicana criou o NIAVE, que conta com militares especializados na investigação nesta área, nos postos de Prado, Vila Verde e Amares.
Primeiro trimestre mais calmo
Olhando para o mapa anual dos crimes de violência doméstica, e tentando perceber quais os meses mais complicados para as vítimas e aquele em que ocorre um maior número de crimes, verificamos que estes variam, ligeiramente, de ano para ano e de concelho para concelho.
Desta forma, em Vila Verde, no ano de 2009, os meses mais complicados viveram-se entre Abril, Maio e Junho, com 39 ocorrências verificadas. No mesmo ano, em Amares, os meses mais negros haviam sido Julho, Agosto e Outubro, com 35 crimes cometidos.
Já o concelho de Terras de Bouro, pelo reduzido número de ocorrências, apresentava números indicativos de alguma arbitrariedade.
Em 2010, as vítimas vilaverdenses estiveram mais frágeis nos meses de Março e de Junho a Dezembro, altura em que ocorreram 108. Por seu turno, em Amares, nos meses de Maio, Julho e Agosto verificaram-se 38 crimes desta natureza. Em Terras de Bouro, o mês de Abril foi particularmente negro, contando com quatro registos.
Acusado de violência doméstica agride militares da GNR
A GNR de Vila Verde deteve um homem de 47 anos, na freguesia de Lanhas, depois de recebida uma denúncia que dava conta que o mesmo seria alegado autor de actos de violência doméstica. Durante a detenção, o indivíduo agrediu os militares da GNR e ambos tiveram de receber tratamento hospitalar. De seguida, o autor das agressões aos militares da GNR foi transportado para o posto, onde ficou detido até ser presente a tribunal. Ao que foi possível apurar, a vítima optou pelo regresso a casa dos pais, na companhia dos filhos.
Proibido de se aproximar da ex-companheira
Também em Vila Verde, mas na freguesia de Covas, um homem de 32 anos foi detido pelo Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE) do Comando Territorial de Braga da GNR, no seguimento de um inquérito por violência doméstica. O homem é suspeito do crime de violência doméstica sobre a ex-companheira residente na freguesia de Covas.
Trata-se de um caso a envolver o casal que morava na residência que ardera, dias antes, na mesma freguesia. A casa onde a alegada vítima reside, juntamente com a filha e outras familiares, foi parcialmente consumida pelas chamadas, num incêndio cujos contornos ainda estão por apurar.
As actuais moradoras da habitação suspeitam de fogo posto e só a pronta intervenção dos vizinhos e dos Bombeiros Voluntários de Vila Verde impediu que o incêndio tivesse consequências mais graves para as quatro moradoras, uma vez que, no anexo onde foi ateado o fogo, estavam quatro botijas de gás.
O incêndio ainda está a ser investigado pela Polícia Judiciária.
Quanto à detenção do indivíduo de 32 anos, o NIAVE cumpriu o mandado de detenção emanado pelo Tribunal Judicial de Vila Verde, onde o suspeito foi ouvido em primeiro interrogatório, tendo saído em liberdade, sob termo de identidade e residência, mas está proibido de se aproximar da vítima.
Obrigado a manter-se afastado da residência da ex-companheira, o suspeito está também proibido de requerer qualquer licença de uso e porte de arma.
Em causa está um crime continuado de violência doméstica. O casal está separado, mas o alegado agressor continuava a ameaçar a vítima.
Homem agredido por mulher, sogra e vizinha
Um dos ‘mitos’ que importa quebrar é o que liga a violência doméstica à violência exercida, exclusivamente, por homens sobre mulheres. De facto, na maioria dos casos, assim é durante uns anos. Contudo, com o avançar da idade, o homem parece ficar mais vulnerável. Menos vulgar é, por isso, a história de Joaquim Sousa, um terrabourense de 42 anos, desempregado e residente na freguesia de Campo. Ainda legalmente casado e com uma filha menor, este terrabourense afirma-se “vítima de violência doméstica, perpetrada pela ex-companheira, a mãe desta e uma vizinha”.
Tudo terá começado há um pouco mais de dois anos, altura em que “as discussões em casa começaram a ser cada vez mais frequentes”. “O pai dela agrediu-me, no café que geria, ainda eu vivia com a filha dele”, descreveu a vítima, confessando que “muitas vezes a violência era psicológica”.
Já mais recentemente, e depois de separado o casal – embora o processo de divórcio continue por concluir – Joaquim Sousa terá sido, novamente, agredido, desta vez pela ex-companheira, que se fazia acompanhar da mãe e de uma vizinha. “Aconteceu num dia em que a minha filha regressava da creche e eu me dirigia a ela para lhe dar um beijinho. Nesse momento, vieram as três na minha direcção e começaram a agredir-me. Em resultado dessa agressão, tive que receber tratamento hospitalar, pois fiquei com diversos arranhões e de braço ao peito”, lembrou o terrabourense, sublinhando que, mais tarde, foi ter com a esposa para saber o porquê daquela agressão, tendo acabado novamente agredido. Entretanto, o queixoso já apresentou queixa em tribunal por estas situações, depois de observado no Instituto de Medicina Legal.
Contextualizando, Joaquim Sousa lamenta que a sogra andasse “sempre a picar” a filha, afirmando que, em resultado de “tanta pressão psicológica”, acabou “internado no hospital psiquiátrico”. “A minha mulher até disse que me queria ver morto”, acrescentou.
Os maus tratos psicológicos terão mesmo levado Joaquim Sousa à tentativa da consumação do suicídio, por enforcamento, perto da barragem de Vilarinho das Furnas. “Senti que perdi tudo, que não pertencia a este mundo. Foram coisas que me deixaram muito abalado, porque se verificavam ameaças atrás de ameaças. Parecia que o mundo me tinha caído em cima. Agradeço a quem me deitou a mão, num momento tão aflitivo”, confessou Joaquim Sousa.
Neste momento, este habitante da freguesia do Campo diz não se sentir ameaçado, mas antes “envergonhado”, uma vez que “qualquer homem tem o seu orgulho” e, no seu caso, afirma “não tratar mal ninguém”. “Aliás, os vizinhos estão todos do meu lado”, assegura.
No fundo, Joaquim Sousa só espera “que seja feita justiça pelos danos causados”. “Só quero saber que há justiça para casos como este, não quero saber de mais nada nem lhes quero mal nenhum”, terminou.
Detido após várias denúncias
Na freguesia de Carvalheira, em Terras de Bouro, foi detido um outro indivíduo, de 37 anos de idade, por alegado crime de violência doméstica. O suspeito está emigrado na Suiça e goza um período de férias em Portugal.
Este morador da Carvalheira foi detido, no passado dia 25 de Julho, e foi presente ao Tribunal de Vila Verde. De acordo com o que foi possível apurar junto da GNR terrabourense, “já não era a primeira vez que os militares se deslocavam ao local para proceder ao registo de ocorrências desta natureza”.
Amares com “muitos casos” semelhantes
Embora não se tenham registados casos de detenção por crimes de violência doméstica nas últimas semanas, em Amares, este é um tipo de ocorrência frequente naquele concelho, segundo conta o comandante da GNR local, Pedro Gonçalves.
Conforme avança, “os militares da GNR de Amares são frequentemente chamados para acorrer a casos de alegada violência doméstica, procurando, numa fase inicial, acalmar os ânimos em cada situação”. Contudo, “nem sempre é fácil” adoptar-se essa via, tendo o corpo efectivo da GNR de “proceder à detenção dos suspeitos”. “Temos alguns casos com inquéritos abertos ainda”, acrescentou o comandante do Posto de Amares.
Fonte: Terras do Homem, em 4-08-2011

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