Paulo Rodrigues tem 35 anos, é casado e tem duas filhas. Este motorista do município de Terras de Bouro tem o 12º ano completo e vê o seu tempo distribuído pelo trabalho, pela dedicação à Associação Desportiva de Terras de Bouro e pelo trabalho na Junta de Freguesia. No “pouco tempo” que lhe resta livre, procura dedicar-se à família.
À mesa, o autarca aprecia particularmente o polvo assado na brasa, acompanhado de um vinho tinto da região. No que diz respeito às leituras, privilegia essencialmente os jornais, nacionais e locais.
Como destino de férias de sonho, Paulo Rodrigues elege a Madeira.
O mais novo presidente de Junta de Freguesia do concelho de Terras de Bouro, Paulo Rodrigues, está no comando dos destinos da Freguesia de Vilar há pouco mais de um ano e meio. No entanto, tão pouco tempo na gestão dos meios ao dispor da Junta não significa necessariamente ausência ou pouca obra executada. As ideias postas em prática são diversas e os projectos para o futuro variados. Entre as prioridades estão a instalação de uma rede de saneamento que traga “mais dignidade” à vida das pessoas e a criação de um espaço para a prática de desporto que evite a deslocação dos jovens para fora da freguesia. O apoio aos idosos também é para continuar e reforçar.
Terras do Homem: Qual a grande prioridade para a freguesia de Vilar para os próximos anos?
Paulo Rodrigues: A principal prioridade para esta freguesia passa pela instalação da rede de saneamento, cujas garantias de arranque das obras já para este ano me foram reforçadas, por parte do senhor presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, há dias, numa conversa que tivemos. O saneamento e a rede de água é uma urgência para nós e acredito que possa ser feito já este ano.
Hoje em dia é condição essencial para uma vida mais digna das pessoas. Já devia ter sido feita, mas acredito que poderá finalmente avançar.
TH: Que outras medidas pretende ver postas em prática já neste mandato?
PR: Para além desta obra, temos em mente a construção de um campo de futebol para beneficiar os jovens da freguesia, uma vez que já tivemos, em tempos, um espaço para a prática de modalidades desportivas, mas neste momento não tem quaisquer condições. Assim, os nossos jovens são obrigados a ir praticar desporto para freguesias vizinhas ou para o campo sintético da AD Terras de Bouro. Como sou dirigente do clube, ainda lhes é facilitada a utilização do relvado, mas essa não pode ser a solução. Deveremos ter um campo de futebol, como qualquer outra freguesia do concelho.
Há também uma série de caminhos que necessitam de uma requalificação e até já falamos com a autarquia para que nos seja cedida uma máquina para começarmos com algumas obras antes do Verão.
Há sempre obras para fazer, o problema passa por identificar o que é mais necessário e conseguir verbas suficientes para fazer seja o que for, porque os montantes ao dispor de uma Junta de Freguesia são muito reduzidos, pelo que teremos de contar sempre com o apoio da Câmara Municipal. Nesse sentido, tenho que frisar e agradecer o forte apoio que temos sentido por parte da Câmara.
TH: Surpreende-o tal facto, uma vez que foi eleito pelas cores do PSD e o actual presidente da Câmara representava as cores do PS?
PR: Não, de todo, porque já conhecia o actual presidente e sei que é uma pessoa de bem e um homem que gosta de ajudar sempre que pode.
TH: Neste ano e meio de exercício de funções foi possível desenvolver já algum trabalho significativo?
PR: Nestes primeiros meses de trabalho realizámos já algumas obras que considerávamos importantes para a freguesia, como foi o caso da abertura de um caminho de acesso ao rio e a uma praia fluvial que é espectacular. Já lá levei, entretanto, alguns responsáveis da autarquia que se mostravam admirados, porque desconheciam a existência daquele local. Este ano, começámos já a melhorar as condições de toda a área envolvente. Além disso, melhoramos também os acessos a uma ponte muito antiga, com cerca de 15 metros e que dá passagem para a outra margem do rio.
Muita gente desconfiou, a princípio, da nossa capacidade em fazer esta obra, mas agora está feita e toda a gente ficou contente com o resultado final, uma vez que é boa para toda a freguesia, já que permite criar riqueza natural na freguesia.
Para além disso, recuperamos uma sala da antiga escola primária e a área envolvente do edifício, para termos um local de convívio que sirva as pessoas da freguesia, nomeadamente em festas diversas.
Realizámos também a passagem de ano de 2009/10 e 2010/11, colocámos iluminação de Natal na estrada nacional, procedemos ao alargamento do largo do lugar da Costa, arranjámos o caminho de Travassos de Baixo, o fontanário de S. José lugar da Mota, colocámos uma cobertura e grades no tanque do Lugar da Mota, adquirimos material informático para a sede da Junta de Freguesia e um plasma TV para a antiga escola, realizamos um passeio a Espanha e, ainda, colocámos placas indicativas de início da freguesia nos extremos da mesma.
“Sou amigo de todas pessoas que aqui moram”
TH: Pela experiência acumulada, desde que foi eleito, vê-se como candidato, daqui a dois anos e meio, para um novo mandato à frente dos destinos da presidência da Junta de Freguesia de Vilar?
PR: Sim, sem qualquer tipo de dúvida. Isto porque, desde que fui eleito, senti na grande maioria das pessoas um carinho e uma amizade muito grande. Assim, não tenho nada a apontar a quem quer que seja, nesta freguesia, e sou amigo de todas pessoas que aqui moram. Sinto-me bem e este ano e meio tem sido excelente. Sempre que é possível, estamos sempre em cima dos acontecimentos.
TH: Concorda com a lei que limita o número de mandatos possíveis para um presidente de Junta?
PR: Em parte concordo, por outro lado nem por isso. Se por um lado, a renovação de ideias é benéfica, por outro, pôr em prática um projecto e executá-lo em três mandatos, na actual conjuntura económica, é muito difícil, principalmente se falarmos em obras de grande envergadura. É o país que temos e temos que trabalhar com as leis que nos são impostas.
TH: Tendo em conta essa forte limitação financeira de que padece a maioria das Juntas de Freguesia e a dependência que sente em relação às Câmaras Municipais, há quem defenda que as Juntas são órgãos autárquicos que poderiam ser extinguidos. Concorda?
PR: Não, de todo. Toda e qualquer freguesia deve continuar a existir, porque há pessoas que moram nesses locais e que devem ser representadas por pessoas com quem se identifiquem. Nestes meios pequenos, não é fácil, para as pessoas que cá vivem, confiar-se em quem não é de cá. Se for uma pessoa amiga a representar essas pessoas, elas sentem-se mais protegidas.
TH: Considera, então, que os poderes dos presidentes de Junta de Freguesia deveriam, em alternativa, até serem reforçados?
PR: Seria óptimo que tal se sucedesse. Penso que sairiam todos a ganhar se as Juntas tivessem mais capacidade financeira para executar determinado tipo de obras.
Falta de serviços e profissionais suficientes para prestar um cuidado de saúde digno a qualquer utente
TH: Se fosse presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro qual a área onde actuaria em primeiro lugar para acelerar o desenvolvimento do concelho?
PR: A área do Turismo é seguramente uma área com forte capacidade para criar riqueza neste concelho e a autarquia está empenhada nesse sentido. Contudo, grande parte dessa aposta passa pelo desenvolvimento do turismo na área do Gerês, no outro lado do concelho de Terras de Bouro. Penso que essas medidas poderiam e deveriam ser alargadas a esta zona do concelho, onde também há riquezas naturais para mostrar a quem nos visita, muitos sítios, muitos locais lindíssimos para atrair turistas em força.
A zona do Vale do Homem precisaria, assim, de uma forte aposta para conseguir atrair também um fluxo turístico assinalável.
TH: E se fosse primeiro-ministro, por onde começaria a trabalhar para dar a volta à situação em que se encontra o país?
PR: Penso que os principais problemas do país passam pelas áreas da saúde e da educação, onde as condições não são as melhores. Ao nível da saúde, basta ver o que se passa no nosso concelho. Não quero, de longe, atingir o trabalho e o esforço de quem, diariamente, se esforça por atender da melhor maneira possível os utentes deste concelho, mas antes alertar para a falta de serviços e profissionais suficientes para prestar um cuidado de saúde digno a qualquer utente, uma vez que a distância que nos separa de Braga e a estrada sinuosa, aconselhariam a termos, por cá, todos os serviços de urgência médica.
Finalmente, penso que é cada vez mais importante que se comecem a criar espaços públicos suficientes para que os nossos idosos se sintam bem, nestas freguesias mais desertificadas, uma vez que a sua vida de trabalho deve ser dignificada e devem encontrar espaços de convívio para combater a solidão a que, muitas vezes, são sujeitos. No nosso concelho e em alguns outros semelhantes, os idosos vivem sozinhos entre o momento em que acordam, de manhã, e quando vão para a cama, à noite. É triste, chocante e urgente combater essa solidão e esse isolamento.
As Juntas de Freguesia, por exemplo, deveriam ver reforçadas as suas capacidades para poderem movimentar esses idosos, distrai-los, acarinhá-los, cuidando-lhes da roupa e provendo-lhes alimentação. No caso de Vilar, por exemplo, temos um Centro Social que se encarrega disso mesmo, sendo as refeições aqui preparadas, bem como as roupas lavadas.
Fonte: Terras do Homem, em 17-03-2011
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