Posto texto do “Correio do Minho”, pois aborda uma temática com muita actualidade. Concordo com o autor que afirma: «daqui a uns anos, os fiéis vão andar de capela em capela para participarem na eucaristia. O pároco, bom ou mau, gordo ou magro, inteligente, bem-falante, esclarecido ou antipático, vai ter sete ou oito paróquias onde, de quando em vez, vai celebrar ao domingo».
Os Padres são cada vez em menor número no nosso concelho o que fará com que brevemente tenhamos no arciprestado de Terras de Bouro dois ou três padres. Seria bom que eu me enganasse!...
Bento XVI voltou a falar do isolamento dos sacerdotes, reafirmando a sua vontade de que estes vivam em pequenas comunidades, proposta que segundo o Papa, não pode ser entendida como estratégia para combater a diminuição do número de padres. O Santo Padre trouxe de novo este tema à ribalta durante uma audiência concedida a 400 participantes na assembleia da Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu, que decorreu terça-feira no Vaticano.
À semelhança do que tinha afirmado no livro 'Luz do Mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos' (2010), resultado de uma entrevista concedida por Bento XVI ao jornalista alemão, Peter Seewald, a necessidade de uma vida conjunta assume, por estes dias, importância primordial na vida dos sacerdotes. 'Viver com outros significa aceitar a necessidade da própria conversão contínua e sobretudo descobrir a beleza desse caminho, a alegria da humildade, da penitência, mas também da conversa, do perdão recíproco, do apoio mútuo', afirmou.
Como leigo, preocupo-me com as condições em que vivem os sacerdotes, independentemente das paróquias em que desenvolvem o seu trabalho pastoral. Porém, tenho pena que este tipo de discussão/reflexão entronque, na maioria das vezes, na questão do celibato. Isso é outra coisa completamente diferente. Se o problema da solidão e isolamento dos sacerdotes fosse apenas o celibato, então este passava a ser exclusivo do sacerdócio, não sendo, como diariamente comprovamos, transversal a toda a sociedade.
Bento XVI tem dado indicações aos bispos para que em cada diocese sejam cultivadas novas formas de organização do clero, nomeadamente com a introdução das unidades pastorais. Com sinceridade, acho que sem a devida reflexão, podemos correr o risco de confundirmos o viver em comunidade com o trabalhar em equipa. Agrupar quatro ou cinco paróquias em torno de um grupo de sacerdotes tem muito de positivo.
Aproveitam-se recursos, aproximam-se as comunidades, há um mote comum que leva à mensagem final que se quer clara, eficaz e penetrante. Mas para que os sacerdotes trabalhem em equipa não é necessário que vivam juntos. Porém, numa perspectiva menos abrangente, muito mais superficial, parece-me claro que os padres que vivem numa unidade pastoral correm menos riscos de se sentirem isolados ou tragicamente sós.
O problema é que esta forma de organização apenas pode ser aplicada aos grandes centros urbanos ou a paróquias mais desenvolvidas. Entendo que seja possível a criação de dinamismos para uma unidade pastoral em arciprestados como Terras de Bouro, Celorico de Basto, Cabeceiras ou Fafe. Mas as dificuldades serão muito grandes, como é o caso das distâncias geográficas e até culturais.
Não me parece que o problema da solidão e isolamento dos sacerdotes tenha como solução este projecto diferente que são as unidades pastorais. Atenua, é certo, mas não resolve.
A solução tem que passar forçosamente pelas comunidades, o papel que estas desempenham no bem-estar do sacerdote que a elas se deve entregar, percebendo que os padres devem ser homens que desenvolvem a capacidade de ler os sinais dos tempos, que está inserido no mundo mas não é exclusivo de um povo.
Hoje, as comunidades afrontam o sacerdote com uma panóplia enorme de direitos, esquecendo os seus deveres para com o pároco. Poucos se lembram que o padre é um homem, que tem família, que vive problemas pessoais, que até vibra com as vitórias do seu clube, mas que também chora a desgraça de alguém que parte. O padre também come e bebe, também precisa de um carro para se deslocar, precisa de sustento para a sua vida, também fica doente e nem sempre está bem-disposto. O padre também tem ideias arrojadas, também tem desilusões, também precisa da ajuda dos outros e não faz nada sozinho.Os Padres são cada vez em menor número no nosso concelho o que fará com que brevemente tenhamos no arciprestado de Terras de Bouro dois ou três padres. Seria bom que eu me enganasse!...
Bento XVI voltou a falar do isolamento dos sacerdotes, reafirmando a sua vontade de que estes vivam em pequenas comunidades, proposta que segundo o Papa, não pode ser entendida como estratégia para combater a diminuição do número de padres. O Santo Padre trouxe de novo este tema à ribalta durante uma audiência concedida a 400 participantes na assembleia da Fraternidade Sacerdotal dos Missionários de São Carlos Borromeu, que decorreu terça-feira no Vaticano.
À semelhança do que tinha afirmado no livro 'Luz do Mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos' (2010), resultado de uma entrevista concedida por Bento XVI ao jornalista alemão, Peter Seewald, a necessidade de uma vida conjunta assume, por estes dias, importância primordial na vida dos sacerdotes. 'Viver com outros significa aceitar a necessidade da própria conversão contínua e sobretudo descobrir a beleza desse caminho, a alegria da humildade, da penitência, mas também da conversa, do perdão recíproco, do apoio mútuo', afirmou.
Como leigo, preocupo-me com as condições em que vivem os sacerdotes, independentemente das paróquias em que desenvolvem o seu trabalho pastoral. Porém, tenho pena que este tipo de discussão/reflexão entronque, na maioria das vezes, na questão do celibato. Isso é outra coisa completamente diferente. Se o problema da solidão e isolamento dos sacerdotes fosse apenas o celibato, então este passava a ser exclusivo do sacerdócio, não sendo, como diariamente comprovamos, transversal a toda a sociedade.
Bento XVI tem dado indicações aos bispos para que em cada diocese sejam cultivadas novas formas de organização do clero, nomeadamente com a introdução das unidades pastorais. Com sinceridade, acho que sem a devida reflexão, podemos correr o risco de confundirmos o viver em comunidade com o trabalhar em equipa. Agrupar quatro ou cinco paróquias em torno de um grupo de sacerdotes tem muito de positivo.
Aproveitam-se recursos, aproximam-se as comunidades, há um mote comum que leva à mensagem final que se quer clara, eficaz e penetrante. Mas para que os sacerdotes trabalhem em equipa não é necessário que vivam juntos. Porém, numa perspectiva menos abrangente, muito mais superficial, parece-me claro que os padres que vivem numa unidade pastoral correm menos riscos de se sentirem isolados ou tragicamente sós.
O problema é que esta forma de organização apenas pode ser aplicada aos grandes centros urbanos ou a paróquias mais desenvolvidas. Entendo que seja possível a criação de dinamismos para uma unidade pastoral em arciprestados como Terras de Bouro, Celorico de Basto, Cabeceiras ou Fafe. Mas as dificuldades serão muito grandes, como é o caso das distâncias geográficas e até culturais.
Não me parece que o problema da solidão e isolamento dos sacerdotes tenha como solução este projecto diferente que são as unidades pastorais. Atenua, é certo, mas não resolve.
A solução tem que passar forçosamente pelas comunidades, o papel que estas desempenham no bem-estar do sacerdote que a elas se deve entregar, percebendo que os padres devem ser homens que desenvolvem a capacidade de ler os sinais dos tempos, que está inserido no mundo mas não é exclusivo de um povo.
Infelizmente, muito do nosso povo bate à porta do padre quando está com as calças na mão. Quando há um baptizado, quando é preciso um papel para alguém ser padrinho e faz falta o padre para atestar a idoneidade do candidato, quando há um casamento e faz falta o sacerdote, quando há um funeral e faz falta o padre, quando há uma festa do padroeiro e faz falta o padre... O padre faz mesmo muita falta, e não falta quem pense que o padre não faz falta nenhuma. Esses iluminados mudarão de ideias quando nascer, casar ou morrer alguém.
Por culpa de uma antiga 'abundância' de vocações sacerdotais que infelizmente hoje não se regista, as comunidades davam-se ao luxo de cantar uma cantiguinha ao bispo e pedir para o pastor substituir o sacerdote porque ele era isto ou aquilo. Na Arquidiocese de Braga, o povo ainda se dá ao luxo de afrontar o padre com beatices que o levam ao desânimo, até ao seu afastamento para outras comunidades menos problemáticas, menos empertigaditas. Convém que todos tomemos consciência, sendo católicos, ateus, indiferentes, activos na vida das paróquias ou instigadores de grupos de iluminados que dificultam o trabalho pastoral do sacerdote, que para já, ainda há vocações sacerdotais que se dispõem, muitas vezes, a aturar as loucuras do povo. Daqui a uns anos, os fiéis vão andar de capela em capela para participarem na eucaristia. O pároco, bom ou mau, gordo ou magro, inteligente, bem-falante, esclarecido ou antipático, vai ter sete ou oito paróquias onde, de quando em vez, vai celebrar ao domingo.
O psicólogo francês Gustave Le Bon disse que 'o mundo é um espelho: se sorrires para ele, ele sorrirá para ti.' O padre não é o mundo nem é o espelho. É um homem do mundo, que trabalha para o mundo e se nos rirmos para ele, ele também sorrirá para nós.
Fonte: Correio do Minho, em 19-02-2011
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