Há quem se interrogue sobre as verdadeiras razões que poderão justificar o facto corrente de, sempre que se registam quedas de neve nalgumas serras portuguesas, por norma não é mencionada a do Gerês, como recentemente uma vez mais aconteceu com os nevões registados nos finais de Novembro e inícios deste mês.
Certo é que, hoje em dia, a agressividade do mercado turístico faz coro que, as entidades interessadas, neste caso os agentes da hotelaria e turismo, estejam organizadas de tal forma que, mal pressentem os primeiros folhacos de neve nas suas zonas, já estão a inundar as redacções dos órgãos da comunicação social com notícias e fotos do acontecimento, numa jogada de marketing a convidar os admiradores desse fenómeno da natureza para se deslocarem e instalarem nas unidades hoteleiras locais. E no Gerês, o que se faz nesse domínio?
Bem, entre nós, e como é consabido, à boa maneira geresiana metem-se as mãos nos bolsos e aguarda-se, pacatamente, que os visitantes batam à porta das suas instalações. Mas se eles não forem informados, como poderão vir até nós nessas épocas em que a neve nos visita? Para que servirão, então, as entidades vocacionadas para esse e outros efeitos de dinamização turística?
Contudo, nem sempre foi assim. A primeira foto anexa, com mais de cem anos, mostra-nos o "Observatório Meteorológico 'da Mata do Gerês", que existiu na Chã da Pereira e foi construído nos primeiros anos do século XX pelos Serviços Florestais. Erguido junto ao viveiro florestal lá existente nessa altura, o Observatório Meteorológico estava equipado com os mais sofisticados instrumentos para a época, entre os quais o barómetro de Fortin, psicrómetro e diversos termómetros de Negretti e Zambra, assim como os registadores barógrafo, psicrógrafo, anemógrafo e anemoscópio de Steffen, entre outros mais.
Desconhecem-se os motivos que terão contribuído para que, posteriormente, tal Observatório fosse desactivado, sendo o respectivo edifício aproveitado, entretanto, para uma casa florestal, das várias que foram criadas em pontos estratégicos da serra. Presentemente, como se sabe, e após vários anos desocupado, nele funciona, a título precário, a sede do Grupo Desportivo do Gerês.
Mas a nível de meteorologia, recorda-se que, nos anos 50/60, funcionou também nos terrenos onde agora se encontra um imenso canavial, entre a via de acesso ao Chalet do Parque Nacional e a Colunata Honório de Lima, uma estação meteorológica sob a alçada da Empresa das Águas do Gerês.
Dele estava encarregado o sr. António Vieira, funcionário da Empresa das Águas Águas que trabalhava no sector da embalagem das águas termais em ampolas bebíveis, a que nos iremos referir oportunamente. Diariamente, procedia à recolha dos dados registados e enviava-os para o Serviço Meteorológico Nacional. Ao fim dalguns anos, também essa estação deixou de funcionar, como parece ser a triste sina de tantas iniciativas e empreendimentos implementados no Gerês...
Fonte: Jornal “Geresão”, em 20-12-2010
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