Nesta prolongada incursão que temos vindo a fazer sobre a história recente desta vila termal, a nível de pessoas e de instituições, e depois de nestas já nos termos debruçado sobre as duas empresas (Hoteleira e das Águas), a Guarda-Fiscal e a GNR, iniciamos agora a abordagem do complexo filão da vida atribulada que os Serviços Florestais aqui conheceram nos primeiros anos, praticamente desde que se instalaram no Gerês em 1888, num tempo em que Emídio Navarro, ministro das Obras Públicas, tutelava esse sector, e em que a rejeição desses serviços por parte da população obrigou à intervenção, por duas vezes, das tropas de Infantaria de Braga para apaziguar os ânimos.
Antes de mais, recorda-se que o serviço público florestal no nosso país, como entidade autónoma, existe desde 1824, data em que foi também criada a Administração Florestal das Matas do Reino, sob a tutela do Ministério da Marinha, transitando mais tarde para o âmbito do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria.
Criados, a nível nacional, os Serviços Florestais em 1886, à criação do Perímetro Florestal do Gerês, em 1888, não deve estar alheia a visita que, de 12 a 15 de Outubro de 1887, a família real efectuou à nossa terra, dela fazendo palie os monarcas D. Luís I e D. Maria Pia, assim como o príncipe D. Carlos e sua esposa D. Amélia, tal como o infante D. Afonso, além de numerosa comitiva. O objectivo primordial dessa visita foi o de uma grandiosa caçada aos corços, nessa altura abundantes na serra geresiana, a qual, parte da comitiva aproveitaria para conhecer de perto os seus encantos durante a estadia entre nós, tendo como guarida o Hotel Ribeiro.
Essa descoberta do Gerês e das belezas naturais insondáveis da sua serra por parte dos grandes responsáveis pelo reino, de acordo com a opinião dalguns historiadores, terão estado na origem ou pelo menos deram um forte impulso para que, decorrido menos de um ano, mais concretamente em 17 de Agosto de 1888, o inspector dos Serviços Florestais, silvicultor Pedro Roberto da Cunha e Silva e o Administrador do Concelho de Terras de Bouro assinassem, em Leonte, um auto de cessão de 10 mil hectares da parte mais rica da serra, o que prejudicou imenso uma boa parte da população concelhia, causando a revolta entre ela, detentora que era de direitos ancestrais que agora via esbulhados pelo poder então instituído.
Saber-se-ia posteriormente que a Câmara Municipal de Terras de Bouro não fora sabedora, atempadamente, da cedência, pelo Administrador do Concelho, desses terrenos baldios aos Serviços Florestais, o que desagradou plenamente à população. E que, desde tempos bem remotos, as gentes serranas sabiam que já nas "Inquirições" de 1220, e a respeito da Serra do Gerês, se afirmava que "ali, o rei não possuía coisa alguma (nullum est ibi regallengum", nem tão pouco "os cavalos do rei poderiam ser apascentados nos verdes da serra, sem autorização dos povos". E sabiam mais que "todos os maninhos da Serra do Gerês sempre estiveram na posse dos povos e por eles têm sido imemorável, diuturna e exclusivamente logrados e defendidos sob a administração e tutela camarária".
Antes de mais, recorda-se que o serviço público florestal no nosso país, como entidade autónoma, existe desde 1824, data em que foi também criada a Administração Florestal das Matas do Reino, sob a tutela do Ministério da Marinha, transitando mais tarde para o âmbito do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria.
Criados, a nível nacional, os Serviços Florestais em 1886, à criação do Perímetro Florestal do Gerês, em 1888, não deve estar alheia a visita que, de 12 a 15 de Outubro de 1887, a família real efectuou à nossa terra, dela fazendo palie os monarcas D. Luís I e D. Maria Pia, assim como o príncipe D. Carlos e sua esposa D. Amélia, tal como o infante D. Afonso, além de numerosa comitiva. O objectivo primordial dessa visita foi o de uma grandiosa caçada aos corços, nessa altura abundantes na serra geresiana, a qual, parte da comitiva aproveitaria para conhecer de perto os seus encantos durante a estadia entre nós, tendo como guarida o Hotel Ribeiro.
Essa descoberta do Gerês e das belezas naturais insondáveis da sua serra por parte dos grandes responsáveis pelo reino, de acordo com a opinião dalguns historiadores, terão estado na origem ou pelo menos deram um forte impulso para que, decorrido menos de um ano, mais concretamente em 17 de Agosto de 1888, o inspector dos Serviços Florestais, silvicultor Pedro Roberto da Cunha e Silva e o Administrador do Concelho de Terras de Bouro assinassem, em Leonte, um auto de cessão de 10 mil hectares da parte mais rica da serra, o que prejudicou imenso uma boa parte da população concelhia, causando a revolta entre ela, detentora que era de direitos ancestrais que agora via esbulhados pelo poder então instituído.
Saber-se-ia posteriormente que a Câmara Municipal de Terras de Bouro não fora sabedora, atempadamente, da cedência, pelo Administrador do Concelho, desses terrenos baldios aos Serviços Florestais, o que desagradou plenamente à população. E que, desde tempos bem remotos, as gentes serranas sabiam que já nas "Inquirições" de 1220, e a respeito da Serra do Gerês, se afirmava que "ali, o rei não possuía coisa alguma (nullum est ibi regallengum", nem tão pouco "os cavalos do rei poderiam ser apascentados nos verdes da serra, sem autorização dos povos". E sabiam mais que "todos os maninhos da Serra do Gerês sempre estiveram na posse dos povos e por eles têm sido imemorável, diuturna e exclusivamente logrados e defendidos sob a administração e tutela camarária".
Ao aperceber-se das reacções contrárias da população, o inspector dos Serviços Florestais procurou serenar os ânimos, mandando afixar um edital a informar que o Governo só tinha em vista o revestimento da Serra do Gerês, que ficaria sujeita ao regime florestal, com um mestre e quatro guardas florestais e empregados a fiscalizar o logradouro da serra. Sem perda de tempo, ainda no ano de 1888/1889 os Serviços Florestais construíram a primeira casa florestal no Vidoeiro (gravura), que ainda hoje se mantém e deram início aos trabalhos de construção de viveiros e plantações nos campos do Vidoeiro e noutros pontos da serra, como a Chã da Pereira, tendo nesse ano plantado 18.500 abetos (“Abies pinsapo"; Ab. Excelsa; Ab. Pectinata), importados de França. Mas o povo não se calou.
Reivindicando os seus direitos e regalias transmitidas de geração em geração, nomeadamente no que respeitava às pastagens, madeiras e matos, a população entrou, nos dias 26 e 28 de Novembro de 1888, em conflito aberto com os Serviços Florestais, ao ponto de ter sido necessário requisitar uma força militar do Regimento de Infantaria 8, de Braga, comandada por um major, para a manter em respeito, aqui permanecendo durante alguns dias, sem contudo se registar qualquer derrame de sangue.
A esse propósito, são curiosas as notícias vindas a lume no extinto jornal "O Comércio do Minho", na sua edição de 29 de Novembro desse ano: "0 motim popular do Gerês não teve, felizmente, o carácter de gravidade que as primeiras notícias lhe davam. A questão cifrou-se no seguinte: Os guardas florestais tiveram suspeita de que no viveiro do Gerês, que continha muitas plantas com que se trata de arborizar a serra, estavam alguns homens destruindo as mesmas plantas. Sem mais preâmbulos... fogo neles. E os homens fugiram.
Espalhou-se, porém, que o povo queria vir à serra deitar fogo às matas e queimar nas fogueiras os agentes do Governo. Grande pânico em toda a linha. Os engenheiros florestais fogem para Braga, os telegramas circulam alarmantes pedindo socorro e tropa, muita tropa que pusesse a salvo o costado dos guardas. Eram tão graves as comunicações telegráficas que a força disponível do Regimento de Infantaria 8 (de Braga) partiu logo para o Gerês", sendo depois substituída na guarnição da cidade por uma força de Infantaria 20, do Porto. E a notícia prosseguia: "No Gerês causou verdadeira surpresa a chegada a tropa porque até se ignorava que houvesse desordem, tal era a sua importância. A causa era insignificante: ilegível... e algumas plantas arrancadas ou quebradas. E nada mais".
O mesmo jornal, de 1/12/1888, relatava: "Ainda não regressou a tropa que marchara daqui para o Gerês. Esperávamos ontem mas ainda não sabemos se chegou. Pelos modos, na serra está tudo calmo e sereno como um lago. A chuva e o frio refrescaram o cérebro exaltados dos geresianos que estão resolvidos a levar tudo pelo melhor.
Quarta-feira reuniram em comício os povos vizinhos do Gerês para elaborarem uma representação ao Governo pedindo que lhes sejam garantidos certos direitos adquiridos e justos. (...) Parece que um dos motivos da desordem no Gerês são os guardas florestais rudes bastante e demasiado desatenciosos com o povo".
O mesmo jornal, na edição de 4/12/1888, referia: "Só domingo, às 4 horas da tarde, é que regressou do Gerês a força de Infantaria 8 que para ali tinha partido por causa dos motins populares. Os pobres soldados vinham arrasados. Quando chegaram ao Gerês, os desgraçados iam cansadíssimos e molhados como pintos. Alguns meteram a roupa dentro de um forno onde acabava de ser cozido o pão, com o fim de a enxugar, mas retiraram-na queimada e assim a trouxeram para a cidade. Quase todos raparam por lá boa fome e bom frio".
Seguiu-se um período curto de aparente acalmia, durante a qual foram apreciadas as reclamações e estabelecido um acordo entre os povos e o inspector florestal, culminando com a publicação, em Dezembro de 1888, do "Regulamento provisório dos serviços de arborização da Serra do Gerês", aprovado por decreto-lei do dia 13 desse mesmo mês. Mas tal paz seria "sol de pouca dura", pois em Fevereiro de 1890, o regente florestal Adolfo de Oliveira teve de abandonar o Gerês face à nova rebelião dos povos serranos e dirigiu-se a Braga para conferenciar com o Governador Civil e pedir-lhe as providências e a defesa exigidas pelas circunstâncias. Na verdade, os povos voltaram a atacar a serra, de novo, destruindo trabalhos já implementados, arrancando árvores plantadas e lançando fogo aos matos, assim se perdendo os 8.500 abetos e 5.000 carvalhos anteriormente plantados.
Mais uma vez se tornou necessário recorrer à tropa de infantaria 8, de Braga, que se distribuiu pelas povoações mais contestatárias, aí se mantendo durante algum tempo até à posterior retirada.
A esta revolta de 1890, que seria a última de carácter colectivo por parte das povoações, seguir-se-ia um novo ciclo de maior paz e sossego, com o qual foi possível dar continuidade à actividade dos Serviços Florestais na Serra do Gerês, como veremos proximamente.
Fonte: Jornal “Geresão”, em 20-12-2010
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