terça-feira, 1 de maio de 2012

A tradição das Maias e dos Maios em Terras de Bouro

O nome do mês de Maio terá tido origem em Maia, mãe de Mercúrio, e a ele está ligado o costume de enfeitar as janelas e as portas das casas com flores de giestas com flores amarelas. A origem da tradição das Maias, em Terras de Bouro, perde-se no tempo. Desde criança que vejo, anualmente, os ramos das giestas em flor ou até mesmo coroas feitas de ramos de giestas, nas portas e nas janelas das casas ou nos automóveis. Em criança, lembro-me de ir às Maias, sempre no dia 30 de Abril. Depois, em tudo quanto era porta e janela colocávamos os ramos das Maias para que nenhuma janela, porta ou buraco ficasse desprotegido. 
Era a forma de impedirmos a tentativa de entrada do mafarrico: do diabo.

Foto da coroa colocada no portão da Escola Padre Martins Capela... 
Bonita! De facto, para nós terrabourenses, a colocação das giestas em flor amarela (das Maias) faz-se na noite de 30 de Abril para 1 de Maio e destina-se a espantar o diabo que anda à solta. Por isso, a colocação de giestas torna as casas floridas e, no momento em que raia o dia e o «Maio», o Diabo não poderá entrar nas nossas casas, no nosso negócio, nos nossos automóveis ou motorizadas...
As celebrações do 1.º de Maio, na nossa terra, têm por objectivo formas efectivas de protecção e de esconjuro a opor à insegurança da vida e à omnipresente ameaça do mal, personificado no Diabo que anda à solta. 
Como somos prevenidos e seguimos escrupulosamente a tradição, aqui, na nossa terra, o Diabo por muito que tente não entra! Mas que ele anda por aí, anda...
Tradição das maias 
De 30 de Abril para 1 de Maio é tradição que se coloquem à porta de casa as giestas floridas, a que também se dá o nome de maias por florirem em Maio. Esta é a tradição que no Minho. Por crendice ou simplesmente por tradição um pouco por todo o distrito é possível ver as portas e janelas enfeitadas com os ramalhetes de maias. Diz-se que as origens desta tradição está ligada a ritos de fertilidade, do início da Primavera e do novo ano agrícola, mas há, também, quem diga que afasta o mau-olhado, as bruxas de casa e o diabo. 
No Minho, Douro Litoral e Beira Litoral o ritual passa pela colocação de maias nas janelas, portas e varandas e até nos automóveis e tractores. Todavia, nas restantes regiões do país este dia é, ou era, celebrado de uma forma algo diferente. Em Trás-os-Montes, além de se enfeitarem as portas das casas com flores de giestas, as raparigas adornam um menino que dizem repre sentar o “Maio-moço” e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele. Na Beira-Alta e na Beira-Baixa (embora nesta apareça excepcionalmente um boneco de palha) são também rapazes ataviados de giestas quem personifica o “Maio”, centralizando o peditório cerimonial em dinheiro ou castanhas. 
Na Estremadura, a “Maia” é uma rapariguinha adereçada com flores que percorre as ruas da povoação acompanhada pelas companheiras. No Alentejo, com particular incidência em Beja, as “Maias” são meninas que vestem de branco e enfeitam com flores, pondo-lhes na cabeça um coroa de mais flores, e sentando-as em cadeiras, à esquina de alguma rua, nalgum largo ou junto à porta de sua casa. No seu trono enfeitado de rosas se aquietam algumas horas, enquanto companheiras mais crescidas, com pequenas bandejas na mão, pedem a quem passa: “Meu senhor, um tostãozinho para a maia”. 
No Algarve, em quase todas as casas é costume arranjar-se um grande boneco de palha de centeio, farelos e trapos que depois vestem de branco e cercam de flores. É a “Maia” colocada à vista de quem passa. 
Este hábito de se colocarem giestas amarelas às portas, nas janelas e nas varandas não se perdeu, assim como perdura o costume de se fazerem bonecos de palha. No entanto, esta tradição das meninas vestidas de Maia ficou cada vez mais esquecida no tempo não havendo relatos de que se continue a cumprir. 
Todavia, no 1º de Maio, não há só esta tradição ligada aos ramalhetes de Maias e aos “Maios” e à bonecada satírica, mas também se verificam práticas de manjares rituais como, por exemplo, o costume de se comerem castanhas com o objectivo de conjurar o “Maio”, o “Burro” ou o “Carrapato”.

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