Publico o poema “Requiem” de Miguel Torga que retrata o modo de vida simples do povo de Vilarinho da Furna e a forma como o seu sonho foi destruído com a barragem: “um muro de cimento interrompeu o canto de um rio que corria nos ouvidos de todos”. Requiem
Viam a luz nas palhas de um curral,
Criavam-se na serra a guardar gado.
À rabiça do arado,
A perseguir a sombra nas lavras,
Aprendiam a ler
O alfabeto do suor honrado.
Até que se cansavam
De tudo o que sabiam,
E, gratos, recebiam
Sete palmos de paz num cemitério
E visitas e flores no dia de finados.
Mas, de repente, um muro de cimento
Interrompeu o canto
De um rio que corria
Nos ouvidos de todos.
E um Letes de silêncio represado
Cobre de esquecimento
Esse mundo sagrado
Onde a vida era um rito demorado
E a morte um segundo nascimento.
Miguel Torga
Barragem de Vilarinho da Furna
18 de Julho de 1976
1 comentário:
Este requiem é lindíssimo. Estive no Museu e adorei...
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