Transcrevo extracto da comunicação feita pelo Dr. Manuel Antunes no VI Congresso Português de Sociologia realizado em Maio de 2008. Desta sua intervenção destaco a expressão: uma aldeia paga "ao custo de meia sardinha".
A companhia construtora chegou e meteu mãos à obra, que foi surgindo progressiva e implacavelmente.
O êxodo do povo de Vilarinho pode localizar-se entre Setembro de 1969 e Outubro de 1970. De um ano dispuseram, pois, os seus habitantes para fazer os seus planos, procurar novas terras e proceder à transferência dos seus móveis.
As 57 famílias ali existentes, ao fixarem-se noutras paragens, investiram maioritariamente na agricultura as parcas indemnizações que receberam da então Companhia Portuguesa de Electricidade. Pelo conjunto de toda a aldeia e respectivos terrenos de cultivo e maninhos, ofereceu a Companhia a quantia de 20.741.607$00, o que equivale a 5 escudos por metro quadrado (cerca de 2 cêntimos e meio), incluindo as casas. Se excluirmos as habitações e outras construções, foi pago meio escudo por cada metro quadrado, o equivalente ao custo de meia sardinha, a preços da época.
A companhia construtora chegou e meteu mãos à obra, que foi surgindo progressiva e implacavelmente.
O êxodo do povo de Vilarinho pode localizar-se entre Setembro de 1969 e Outubro de 1970. De um ano dispuseram, pois, os seus habitantes para fazer os seus planos, procurar novas terras e proceder à transferência dos seus móveis.
As 57 famílias ali existentes, ao fixarem-se noutras paragens, investiram maioritariamente na agricultura as parcas indemnizações que receberam da então Companhia Portuguesa de Electricidade. Pelo conjunto de toda a aldeia e respectivos terrenos de cultivo e maninhos, ofereceu a Companhia a quantia de 20.741.607$00, o que equivale a 5 escudos por metro quadrado (cerca de 2 cêntimos e meio), incluindo as casas. Se excluirmos as habitações e outras construções, foi pago meio escudo por cada metro quadrado, o equivalente ao custo de meia sardinha, a preços da época.
Mas, enfim, tinha chegado o momento da partida e não havia tempo a perder. Cada um procurou levar consigo tudo o que pôde. Os telhados desapareceram de dia para dia. Apenas ficaram as paredes nuas, amortalhadas num espesso manto de neve, progressivamente cobertas pelo mortífero lençol de água.
Os habitantes de Vilarinho fixaram-se nas mais variadas terras dos concelhos de Braga, Viana do Castelo, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Barcelos, Vieira do Minho, Terras de Bouro, etc., onde encontraram novas gentes, novos costumes.
Da vida e recantos da aldeia comunitária não resta mais que um sonho. Sonho que pode ser percepcionado no Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna, construído com as próprias casas da aldeia, e que se espera venha a ser um importante Centro de Culturail.
Apesar da destruição da aldeia, a mudança compulsiva deu origem a uma vida nova para os desenraizados de Vilarinho da Furna. Hoje, essa população está organizada n'AFURNA -Associação dos Antigos Habitantes de Vilarinho da Furna, criada em Outubro de 1985, que tem por objectivo a valorização e promoção do património cultural, colectivo e/ou comunitário do povo de Vilarinho.
Esse património é fundamentalmente constituído pelas componentes histórico-cultural e socioeconómica. Daí as tarefas e/ou acções a desenvolver nas áreas da cultura, da investigação científica e do desenvolvimento económico-social. O que trará consigo, além do mais, a criação de um pólo de desenvolvimento regional, com benefícios para o próprio país.
A aproximação da construção da barragem, nos finais dos anos sessenta, levou à criação de um programa de salvaguarda do património cultural de Vilarinho, já então mundialmente conhecido. Daí surgiu a ideia da construção do Museu Etnográfico de Vilarinho da Furna. Vários anos se passaram e o Museu, feito com edifícios da aldeia submersa, está finalmente construído, pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, segundo projecto dos Arqs. João e Delmira Rosado Correia. No Museu, destacam-se os hábitos e costumes de Vilarinho da Furna, evidenciando as semelhanças e diferenças com outras aldeias da região.
Apesar de fortemente afectado com a barragem, o património de Vilarinho da Furna ainda conta com cerca de 3000 hectares de terrenos, dispersos pelas serras da Amarela e do Gerês. São terrenos comunitários que, devido às lutas contra as investidas dos Serviços Florestais, desde finais do século XIX, acabaram por se transformar numa propriedade privada dos descendentes dos outorgantes, naturais de Vilarinho, que constam de uma escritura de aforamento dos respectivos terrenos, feita pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, em 17 de Agosto de 1895.
Os antigos habitantes de Vilarinho da Furna pretendem efectuar um aproveitamento integral desse património, para o que se prevê:
1. A reflorestação dos referidos terrenos, sitos na serra Amarela e no Gerês;
2. A criação de uma reserva faunística;
3. A implementação do Museu Subaquático de Vilarinho da Furna;
4. Um aproveitamento turístico, que defenda e valorize o património ecológico existente
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