A revolta nos cemitérios do Minho
Na próxima sexta-feira, 1 de Novembro, a Igreja Católica irá celebrar o dia de todos os santos e mártires católicos. Em Portugal, é tradição prestar-se homenagem a todos os entes falecidos, aproveitando os portugueses para rumarem aos cemitérios.
Sendo Braga um símbolo do catolicismo em Portugal, compreende-se que aqui tivessem existido entraves à criação de cemitérios públicos. Prova disso é que, apesar dos decretos de 21 de Setembro e 8 de Outubro de 1835, da autoria de Rodrigues da Fonseca Magalhães (que considerava os enterramentos no interior das igrejas próprios da Idade Média) Braga só viria a ter o seu cemitério público em 1878.
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Mas quando se pensava que os problemas com os cemitérios e os enterramentos nas igrejas tinham terminado com a chegada do século XX, isso não se verificou. Basta recordarmos três episódios, verdadeiramente caricatos, e que aconteceram no Minho, já no séc. XX.
O primeiro ocorreu em meados de Março de 1904, quando a população da freguesia de Britelo, concelho de Ponte da Barca, insistiu em enterrar um cadáver no adro da freguesia, em vez de o enterrar no cemitério público.
No início do Outono de 1908 ocorreu uma epidemia na freguesia de Priscos. Por esse motivo, as autoridades sanitárias proibiram os enterramentos no interior da igreja. No entanto, essas ordens foram desrespeitadas, tendo a população decidido enterrar um cadáver na capela-mor da igreja. A acrescentar a esta afronta às autoridades e à saúde públicas, os populares decidiram ainda mudar para o interior da igreja seis cadáveres, que tinham sido enterrados no adro.
Esta atitude da população de Priscos originou uma intervenção das autoridades, que de imediato foram para o local averiguar os culpados destas atitudes.
Em 1911, já em plena República, um novo motim ocorreu no Minho, desta vez no concelho de Terras de Bouro.
Foi na sexta-feira, dia 2 de Junho de 1911, quando um cadáver foi sepultado no adro da igreja da freguesia de S. Mateus da Ribeira e depois levado para dentro da igreja. Muitas pessoas não gostaram e manifestaram-se. Para resolver esse verdadeiro motim popular, foi necessário ir de Braga a Terras de Bouro uma força composta por 30 praças de cavalaria.
Como se vê, quer no distrito de Viana do Castelo, quer no distrito de Braga, não foi fácil eliminar a prática dos enterramentos no interior das igrejas, o que demonstra a mentalidade tradicional e conservadora das nossas gentes. Mentalidade que ainda hoje se mantém.
Fonte: Correio do Minho, por Joaquim Gomes, em 28-10-2013
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