Perdidas as eleições para a Câmara de Terras de Bouro, pela segunda vez consecutiva, António Afonso mantêm-se apostado em manter-se ativo na vida política e cívica do concelho. Mas o ex-presidente da Câmara e líder socialdemocrata deixa antever, em entrevista ao Terras do Homem, que será difícil uma recandidatura ao cargo. E confessa o objetivo das últimas eleições no que toca a "preparar um conjunto de gente jovem, competente, dinâmica e disposta a trabalhar por Terras de Bouro, para assumir, no futuro, os destinos do concelho". Para já, apesar da postura crítica ao atual executivo presidido por Joaquim Cracel e do lamento pela pesada derrota eleitoral, promete uma postura de oposição construtiva como vereador.
Terras do Homem: Que leitura têm, para si, os números das últimas eleições autárquicas em Terras de Bouro?
António Afonso: Os números das últimas eleições autárquicas em Terras de Bouro mostram que a coligação PSD/CDS, «Juntos por Terras de Bouro», não conseguiu fazer passar a sua mensagem. Nós tínhamos um projeto de desenvolvimento para o Concelho que visava um crescimento sustentável e a criação de emprego duradouro em detrimento da subsidiodependência. Um projeto que abarcava as várias áreas de intervenção e recolocaria o Concelho na senda do progresso. Não se trata de saudosismo, mas de visão de futuro, pois não podemos pensar só no imediato. Temos de pensar e projetar o futuro. Os recursos financeiros são escassos e não podem ser consumidos em medidas eleitoralistas que permitem ganhar eleições, mas comprometem o futuro.
TH: Quatro anos depois do PSD ter perdido a presidência da Câmara Municipal de Terras de Bouro, para o PS, em coligação com o CDS-PP falhou a recuperação da mesma. O que falhou, no seu entender?
AF: Como alguém disse, o que falhou foi que não conseguimos contrariar o populismo e a demagogia de quem está no poder. As falsas questões, como dizerem que andaram a pagar as nossas dívidas, de tão repetidas, tornaram-se realidades inquestionáveis que nem os esclarecimentos e debates públicos conseguiram anular. Infelizmente, os terrabourenses preferiram uma candidatura sem projeto de desenvolvimento - como muito bem reconheceu um nosso "adversário" político, o José Guimarães Antunes, que, após uma análise dos resultados eleitorais, conclui que «os terrabourenses não estão interessados nas grandes obras, nos grandes planos e num projeto para o concelho… Os terrabourenses contentam-se com muito pouco! Querem coisas simples!». Na verdade, preferem um presidente que abandona os debates, um presidente para quem o facto de as pessoas dizerem que não tem palavra não o preocupa. Por outro lado, não podemos esquecer a conjuntura nacional, cujas medidas impopulares adotadas pelo Governo – nomeadamente o aumento de impostos e os cortes salariais - foram sabiamente aproveitadas pelos nossos adversários políticos.
TH: A dispersão de votos pelas diversas candidaturas, poderá ter prejudicado a sua candidatura?
AF: O facto de terem existido cinco candidaturas à presidência da Câmara Municipal teve o efeito contrário ao esperado, prejudicando a candidatura da coligação «Juntos por Terras de Bouro». Embora o PS tenha perdido cerca de 200 votos em relação à votação de há quatro anos, a verdade é que a Coligação perdeu um número inesperado de votos.
TH: Foi eleito como vereador, experiência que conheceu nos últimos quatro anos. Continuará ativo nessa perspetiva, em termos políticos. Como se pautará a sua ação os próximos quatro anos?
AF: Durante os próximos quatro anos, faremos uma oposição construtiva, mas que não deixará de ser firme e exigente. Avaliaremos as propostas apresentadas e, quando discordarmos, apresentaremos alternativas.
TH: Que futuro terá esta coligação, em Terras de Bouro? É um projeto terminado ou continuará presente?
AF: A coligação «Juntos por Terras de Bouro» é um projeto para quatro anos, independentemente de eventuais alterações que as comissões políticas concelhias dos partidos que a sustentam entendam ser necessário introduzir. Não nos podemos esquecer dos ciclos eleitorais que se avizinham, concretamente as eleições europeias no próximo ano e, sobretudo, as legislativas em 2015.
TH: Admite continuar, se sentir necessário, daqui a quatro anos, nos 'combates' políticos?
AF: Tal como referi há quatro anos, não viro as costas ao Concelho pelo facto de não ter sido eleito presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro. Dentro das minhas limitações, aproveitando a minha experiência e os meus contactos, tudo farei para ajudar a desenvolver Terras de Bouro. Mas esta candidatura tinha um outro objetivo: preparar um conjunto de gente jovem, competente, dinâmica e disposta a trabalhar por Terras de Bouro, para assumir, no futuro, os destinos do Concelho. Essa continua a ser uma das nossas prioridades. Devo, no entanto, acrescentar que a minha participação cívica não se esgota no desempenho do cargo de vereador.
TH: Que mensagem gostaria de deixar, neste momento, aos terrabourenses?
AF: A mensagem que deixo aos Terrabourenses é uma mensagem de esperança. Apesar dos tempos difíceis que vivemos, temos de acreditar que melhores dias virão. Terras de Bouro tem potencialidades que, se forem bem exploradas – e os fundos comunitários devidamente aproveitados -, podem impulsionar o desenvolvimento do Concelho.
Fonte: Terras do Homem, em 31-10-2013
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