A 25 de abril uma caminhada no Gerês alerta para as taxas que tem de pagar quem queira passear no parque. Uma sugestão: não deve o ICNB colocar câmaras de vigilância para punir os infractores?
As coisas sucedem quanto têm de suceder. Uma nota recente e um vídeo no Youtube sobre a proibição de uma família colocar um corta-vento num parque, de uma reportagem usar tripé e até de filmar certos edifícios, isto na Grã-Bretanha, juntou-se à descoberta, depois do alerta desta caminhada contra a taxa, que o ICNB vigia os blogues para saber quem anda a passear nos Parques e Áreas Protegidas nacionais.
A notícia do Público, mesmo que aparentemente não interprete o problema tal e qual ele é (os jornais estão cada vez mais assim, fruto de um jornalismo descuidado que é, como usa dizer-se, a espuma dos dias) deixa pistas preocupantes: por um lado torna ainda mais público a incapacidade, parece, do ICNB para dialogar com as pessoas. Por outro sugere que o ICNB anda a vigiar os blogues das pessoas para saber quantos vão aos parques, e depois lhes envia cartinhas a exigir pagamento por actividades ilegais. E isto nem é no PNPG mas na Arrábida, o que sugere que a malha está estendida a todo o país. E que tem um eficiente trabalho de gabinete.
Isto deve deixar preocupado quem anda pelos parques, mas a questão aqui é outra. E para não errar, valho-me do que Rui Barbosa escreveu no seu blogue Carris, um espaço que vela pela protecção e fruição cuidadas do Gerês. Ali escreve o autor que "Como deverão saber, o ICNB, IP tem mantido a taxação dos pedidos para a realização de actividades de visitação em áreas protegidas.
Esta taxação, além de injusta, impede que muitos portugueses possam tirar partido do salutar contacto com a Natureza. Ao taxar um serviço administrativo em mais de €150,00, os serviços do ICNB, IP criam uma barreira ao usufruto das nossas áreas protegidas.
Esta taxação vem assim limitar o nosso direito como cidadãos ao usufruto de um bem comum que é a prática saudável de desportos de montanha ou de simples caminhadas familiares pelas nossas áreas protegidas, impondo valores a cobrar não compatíveis com os níveis de vida da maior parte dos cidadãos."
É portanto disto que se trata. É possível ler no blogue Carris de Rui Barbosa o texto completo. E em mais escritos que no FB e outros espaços surgem descobre-se que por esta ordem de ideias um avô que queira passear com os netos no Gerês tem de preencher alguma papelada antes e desembolbar 150 euros. Excelente trabalho de secretária...
Esta história toda lembra-me a dos fotógrafos em 2009. Em 2008 insurgi-me e publiquei na Fotodigital dois longos artigos sobre o custo de fotografar em parques - aqui em Sintra cobram-se 600 euros por meio dia, acho eu, o que é fantástico se pensarmos o preço miserável que as revistas hoje pagam por artigos com fotos e tudo - e em 2009 um grupo de fotógrafos organizou uma carta aos responsáveis da altura. As coisas amainaram, mas, como é uso em Portugal, nunca se sabe bem o que sucede a seguir ou que mirabolantes interpretações da lei podem surgir de secretarias regionais a guardas no terreno. Portugal é um país de muitas leis, em que cada um faz a sua interpretação do que lê. Enfim...
Esta história toda do Gerês surgiu-me na informação diária em conjunto com uma outra, recente, que é contada através de um vídeo no Youtube que achei valer a pena destacar aqui. São situações diferentes, mas não tanto. Esta mania da perseguição está a ganhar velocidade acelerada num mundo onde a prática do registo de imagens é cada vez maior também. E como nada impede que um cidadão - avô tenha uma câmara com objectiva maior, provavelmente um visitante do Gerês nessas condições será proibido de fotografar e taxado por pisar o terreno. Uma ideia diabólica, não é?
O vídeo é revelador do ridículo a que a situação chegou na Grã-Bretanha, que todos pensavámos ser um país de bons costumes. O colunista do The Sunday Times Rod Liddle é interpelado várias vezes quando documenta o problema do registo de imagens em espaços supostamente públicos. A actuação dos "agentes da lei" é tão idiótica que nos deixa a pensar em casos semnelhantes sucedidos por cá (eu tenho alguns, não, corrijo, muitos...). Rod Liddle aborda o problema das câmaras de vigilância nas ruas, que nos filmam a todos a todo o momento, supostamente por razões da nossa segurança, num mundo que ao mesmo tempo nos proibe de fotografarmos cada vez mais coisas.
Veja e reveja o vídeo, que encerra um bom leque de problemas sobre que todos devemos reflectir.
Mas ao ver o vídeo pensei que o ICNB, que tão preocupado parece estar com a segurança dos parques, que cria todas as formas de as pessoas fugirem de lá para os centros comerciais (será isso parte do plano?), podia colocar câmaras CCTV em todas as árvores, para controlar quem entra e sai. E quem sabe, talvez umas portagens como aquelas que estão a encher o Algarve? Uhmm, é melhor calar-me, neste País nunca se sabe o que pode acontecer...
Fonte: Fotodigital, em 23-04-2012
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