segunda-feira, 30 de abril de 2012

Andou um urso no Gerês, mas era apenas uma estrela da publicidade

Marca de água mineral da República Checa elegeu o Parque Nacional da Peneda-Gerês como cenário ideal para rodar um filme publicitário. 
É uma imagem romântica, que muitos julgariam impossível reencontrar: um urso pardo a passear-se pela Mata da Albergaria, no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG). Foi isso que aconteceu no mês passado, dando origem a muitos comentários e discussões na blogosfera. Mas este animal não veio até ao Gerês pelo seu próprio pé. Foi trazido por uma marca de água mineral da República Checa que escolheu esta área protegida portuguesa para rodar um filme publicitário do qual o urso amestrado é a estrela.

A curiosidade à volta da presença de um urso na Mata da Albergaria fez com que a notícias corresse depressa nas imediações do parque. E muitos amantes da natureza correram até ao local para documentar o momento. A rodagem do anúncio aconteceu no mês passado e desde então há várias fotografias e até um curto vídeo colocados na Internet, que documentam a passagem do animal pela Peneda-Gerês. As imagens têm sido partilhadas e comentadas na blogosfera e nas redes sociais e foi através delas que o PÚBLICO teve contacto com o assunto. 
Urso pagou as taxas 
As imagens foram publicadas, por exemplo, no blogue Carris (www.carris-geres.blogspot.pt), sobre as minas homónimas da Serra do Gerês, criado por Rui Barbosa, um dos promotores da manifestação de caminhantes realizada na semana passada contra as taxas aplicadas à organização de actividades nas áreas protegidas. O urso também pagou para entrar na Mata da Albergaria, apurou o PÚBLICO junto da direcção do PNPG. 
"Esta é uma situação prevista, cujo valor está definido pela tabela da portaria das taxas", afirmou o director da Peneda-Gerês, Lagido Domingues, sem explicitar a quantia cobrada. Segundo a portaria que os caminhantes contestam, a empresa que rodou o anúncio sobre a marca checa de água de mesa teve que pedir uma autorização que pode custar entre 250 e 2000 euros. "Não há nenhuma orientação para que se autorize ou não, mas normalmente temos autorizado", afirmou o director do PNPG sobre este tipo de pedidos. 
Apesar de não ser uma situação muito frequente -em três anos de mandato, Lagido Domingues apenas se recorda de ter autorizado "meia dúzia" de filmagens -, o parque define regras para este tipo de iniciativas. Desde logo, a proibição de qualquer referência ao PNPG no anúncio comercial. Neste caso, e uma vez que era do conhecimento dos responsáveis do parque a utilização do urso pardo nas filmagens, toda a rodagem do anúncio foi acompanhada de perto por dois vigilantes da natureza, de modo a evitar problemas. 
Durante o dia de rodagem, o urso banhou-se num ribeiro, caminhou debaixo do centenário carvalhal da Mata de Albergaria e descansou, tranquilo, sob o olhar atento dos tratadores. Afinal, trata-se de um animal amestrado, habituado ao reboliço de câmaras, luzes e outros dispositivos, e respectivos operadores, que a produção de um filme comercial costuma envolver. 
Em tempos, até teria sido possível observar um urso selvagem no mesmo local, mas a espécie desapareceu do Gerês, segundo os especialistas, no séc. XVII. Porém, o facto de a presença deste urso amestrado ter sido documentada por bloggers despertou a curiosidade dos amantes da natureza, e motivou até algumas discussões acesas sobre a hipótese de reintrodução da espécie no PNPG. Volta e meia também surgem na blogosfera rumores sobre avistamentos de ursos no PNPG, dos quais não há registos documentais, nem quaisquer vestígios cientificamente validados. 
Fonte: Público, em 30-04-2012

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