quinta-feira, 10 de novembro de 2011

José de Sousa, Presidente da Junta de Freguesia de Gondoriz em entrevista ao Terras do Homem

Perfil
José Sousa tem 72 anos, é casado e tem quatro filhos. Com o quarto ano de escolaridade, este autarca é reformado da indústria hoteleira.
O futebol ocupa grande parte dos seus tempos livres, enquanto a predileção, à mesa, vai para o cozido à portuguesa e o vinho verde tinto. Em termos de leituras, essas ficam-se pela consulta dos diários nacionais e os jornais da região.
Como destino de férias de sonho, o presidente da Junta de Freguesia de Gondoriz elege as ilhas dos Açores.
“A desertificação crescente não poderia ser mais natural”
A melhoria e, se possível, conclusão da rede de saneamento na freguesia é a grande meta que José Sousa, presidente da Junta de Freguesia de Gondoriz há sensivelmente dez anos, estipulou para o que resta cumprir deste seu terceiro e último mandato como chefe daquele órgão autárquico. Antes de “dar o lugar aos mais novos”, o autarca eleito como independente sublinhou, ainda, o desejo de ver concluída a capela mortuária local, considerada a “grande obra” da sua passagem pela presidência da Junta de Freguesia. Admitindo a possibilidade de alterações profundas no mapa das freguesias, no concelho de Terras de Bouro, José Sousa “não encararia com maus olhos” uma solução que passasse pela unificação das freguesias de Gondoriz, Cibões e Brufe.
Terras do Homem: Qual é, no seu entender, a grande prioridade para a freguesia de Gondoriz, no que falta cumprir do atual mandato?
José Sousa: Se vamos a olhar às necessidades, ainda são muitas nesta, como noutras freguesias do concelho. Agora, prioritariamente creio que seja a questão do saneamento. Ao nível do abastecimento de água, o mesmo está regular. Não podemos, nunca, dizer que está a 100%, mas é um serviço feito eficazmente.
No entanto, em relação ao saneamento já não é tanto assim. Temos alguns lugares já com rede instalada, como são os casos de Bustelo, Castanheira e Guardenha. Contudo, mesmo nestes casos é necessária ainda uma forma de ligação à ETAR.
Por outro lado, ainda sem qualquer rede instalada estão os lugares de Antas, Refonteira, Bouças e Cabaninhas.
TH: Acredita que essa é uma meta atingível até final do mandato?
JS: Eu acredito sempre na vontade dos autarcas locais fazerem sempre o seu melhor, desde que seja possível. Claro que, nos tempos que correm, temos que olhar às limitações que existem, mas eu acredito que sim.
TH: Que outros empreendimentos gostaria de ver concretizados até 2013?
JS: Temos, por exemplo, perspetivada uma intervenção num arruamento do Lugar do Bustelo, aprovada pela Câmara, e que prevê a pavimentação do mesmo em alcatrão.
Já no lugar de Antas, queremos também construir um caminho que irá beneficiar, de sobremaneira, os seus habitantes, uma vez que atravessa todo a aldeia.
Em Guardenha, queremos também repavimentar a zona envolvente à Capela de S. Miguel o Anjo. A mesma intervenção está prevista para as imediações da capela de S. João, em Refonteira.
Por outro lado, ainda prevemos eletrificar as áreas envolventes das três capelas: Santo Amaro, S. Miguel e S. João. Já quanto aos lugares, a iluminação parece-nos razoável.
Finalmente, temos em execução a grande obra deste mandato, que passa pela construção de uma capela mortuária. Esse é um espaço muito importante para dar outra dignidade à despedida dos entes queridos das gentes desta freguesia. Todas as freguesias deveriam ter a sua capela mortuária.
No nosso caso, a mesma está adjudicada e em andamento, pelo que não há razão nenhuma para não ficar concluída antes de 2013.
TH: É a grande obra que marcará o seu cunho na passagem pela presidência desta Junta de Freguesia?
JS: Julgo que sim. Não tenho dúvidas de que será uma das obras mais importantes que fizemos. É uma obra nossa e já está em fase de conclusão.
TH: O concelho de Terras de Bouro tem vindo a perder habitantes, ao longo dos anos, numa realidade que afeta especialmente estas freguesias mais rurais. No seu entender, como poderia ser travada essa tendência?
JS: Evitar essa realidade só mesmo se conseguíssemos criar empregos. O problema é que, para isso, deveríamos ter indústria. Ora, o concelho de Terras de Bouro sempre foi e é um concelho de agricultura. No entanto, esta é uma agricultura de subsistência. O relevo acidentado não permite a ‘maquinização’ da agricultura em terrenos de dimensões mais pequenas, evitando o seu desenvolvimento. Assim sendo, a desertificação crescente não poderia ser mais natural.Há freguesias cuja existência não faz muito sentido
TH: Concorda com a lei que limita o número de mandatos dos presidentes de Junta de Freguesia?
JS: De certa forma, concordo. Acho que é preciso renovar as ideias e dar vida ao exercício destas funções. Penso que três mandatos são suficientes para qualquer presidente.
TH: Qual é o sentimento por ser este o seu último mandato, enquanto presidente da Junta de Freguesia de Gondoriz? Vai sentir saudades?
JS: Não, porque penso que a minha missão está cumprida. Agora dou, de bom grado, o meu lugar aos mais novos. Estive aqui todos estes anos porque o povo assim quis. Agora, chega a vez de dar lugar aos outros.
TH: E já pensou no que irá fazer após 2013? Admite continuar ligado à vida autárquica?
JS: Quem sabe. Se alguma lista candidata precisar do meu apoio ou se conseguir ser útil com a partilha da minha experiência, não vejo porque não. Estou disponível para auxiliar as pessoas no que for necessário.
TH: O que acha da proposta governamental para a reorganização administrativa do país. Sabemos que a mesma levará à extinção de muitas freguesias. Gondoriz poderá ser uma delas. Como vê toda esta situação?
JS: Acho que o princípio até é correto, porque existem freguesias cuja existência não faz, realmente, muito sentido, uma vez que têm 60, 80 ou cem habitantes. Logo, a aglomeração de algumas delas poderá ser benéfica.
No que diz respeito a Gondoriz, estamos a falar de uma freguesia com cerca de 350 eleitores. Ainda vamos ver como se irão processar as coisas, uma vez que os critérios ainda não são muito claros.
TH: No vosso entender, com as freguesias desta zona do concelho a correrem esse risco de extinção, qual seria a melhor solução? A unificação de Brufe, Gondoriz e Cibões, numa só freguesia?
JS: Julgo que sim. Penso que, embora isso não agradasse a todas as pessoas das três freguesias – porque há sempre vozes discordantes – a maioria da população estaria de acordo.
TH: São três freguesias com boas relações de vizinhança?
JS: Sim, as pessoas desta zona costumam dar-se bem. Apesar de, como disse, haver quem não fosse gostar muito da ideia, uma solução a três poderia ser o ideal. Era, aliás, a melhor forma de se tornarem mais fortes. A união faz a força e uma área administrativa com perto de 800 habitantes (acumulado das três freguesias) teria outro poder de reivindicação junto da Câmara Municipal de Terras de Bouro.
TH: Acha que esta é uma medida importante, tendo em conta a necessidade de combater despesas que o Estado tem?
JS: Não será a forma economicamente mais viável de o fazer, mas poderá ser sempre resultar nalguma poupança. Os entendidos julgam que é com isto que vão poupar muito dinheiro, mas eu não acredito muito.
Por outro lado, não sei se esse objetivo justifica o extinguir de freguesias com tantos anos de história. Para as pessoas vai ser complicado de aceitar essa ideia. A mim, enquanto habitante de Gondoriz entristece-me essa possibilidade. Mas contra fatos, não há argumentos.
Mais turismo rural e… justiça
TH: Se fosse presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, qual seria a área em que atuaria, em primeiro lugar, para melhor desenvolver o concelho?
JS: Se fosse presidente de Câmara, julgo que apostaria na vertente do turismo rural, área em que o concelho pode vir a ser muito forte. O turismo e a hotelaria podem ser algumas soluções para as gentes desta terra.
Faltam ideias novas para explorar essa área e, não menos importante, divulgação das potencialidades de Terras de Bouro.
TH: E se fosse primeiro-ministro, que medidas tomaria, em primeiro lugar, para melhorar a situação do país?
JS: Antes de mais, não teria competência para ousar desempenhar tal cargo. No entanto, parece-me claro que a Justiça não está de boa saúde, em Portugal. Ora, num país onde a justiça não funcione, nada funciona. Em qualquer boa organização tem que haver justiça, incluindo em nossa própria casa. Por isso, esta área deveria levar uma volta muito grande, tal como a área da saúde. Nesta, em particular, o concelho de Terras de Bouro também sente algumas dificuldades que importa combater.
Fonte: Terras do Homem, em 10-11-2011

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