quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vale do Homem: Famílias mais poupadas aprendem a cortar despesas

Os tempos de crise, e as dificuldades agravadas que se anunciam, estão a levar as famílias a aumentar os esforços de contenção e de poupança. São cada vez maiores as preocupações com o futuro e aumenta a sensibilização quanto à necessidade de precaver o futuro. Há obras que se adiam e compras que se evitam, cálculos que se refazem e análises mais cuidadas de custos e de todas as despesas, desde as mais insignificantes às mais volumosas.
O Terras do Homem ouviu diversas famílias, que não escondem os esforços redobrados para a contenção. Por norma, as queixas dão conta da insuficiência de receitas e recursos, porque os salários mantêm-se baixos e são cada vez mais escassos para suprir a inflação, mesmo com a procura cada vez mais intensificada dos produtos ditos de 'marca branca' e mais acessíveis no mercado.
No entanto, os dados estatísticos dos bancos apontam para um significativo reforço de contas poupança. E a verdade é que as preocupações com a evolução dos mercados e da crise global está a levar as famílias a poupar em tudo o que possam, mesmo sendo pequenos montantes. A situação é ainda reforçada pela indisposição para assumir novos encargos e despender alguma parte das poupanças para investimentos pretendidos ou até já projectados.
“Claro que tenho poupado muito mais do que aquilo que fazia por norma, porque há sempre aquele receio de que as coisas ainda possam vir a piorar, no ano que vem”, confirma Maria Silva, de Figueiredo, Amares. Com dois filhos, as poupanças têm sido sobretudo no que toca a evitar "compras desnecessárias".
"Se, por um lado, até aqui comprávamos, muitas vezes, sem regra, agora há coisas em que as marcas brancas acabam por ser mais atractivas, pelo baixo preço”, recomenda, deixando ainda o alerta sobre os baixos salários, que não dão para mais do que governar a família para o dia a dia.
Já o vilaverdense Abílio Cerqueira confessa que já teve tempos de poder poupar. "E foi o que valeu", desabafa. Agora, as dificuldades são bem maiores, mas reconhece que os bons hábitos de vida no controlo dos gastos e na adequação do estilo de vida às reais possibilidades "são a melhor lição de vida" a que teve direito.
Com a mulher a trabalhar e um filho menor, Abílio Cerqueira não esconde a preocupação com os tempos que correm e as perspectivas negras de agravamento da situação para o futuro. mas garante que não encara o futuro com medo. "Toda a vida trabalhei e não tive problemas e em mudar de área ou serviço. O fundamental é dar o máximo e o melhor de nós mesmos, sermos empenhados e dedicados, porque o trabalho tem que ser visto como um bem recíproco para quem recebe o salário e para quem o paga", avalia este jovem pintor.
Testemunhos
Receios deixam obra em ‘stand by’
Jorge Vieira, Ferreiros:
“Sem dúvida que o esforço de poupança é agora maior e os investimentos são medidos com outros cuidados. Hoje em dia, quando se trata de gastar grandes quantias, tenho sempre muito cuidado. Por exemplo, ainda há pouco tempo andava com ideias de instalar um equipamento para aquecimento da casa. No entanto, com os receios de uma crise ainda maior no ano que vem, tenho que deixar em ‘stand by’”.
“A necessidade de poupança muda os nosso hábitos de consumo, efetivamente. As roupas, por exemplo, agora têm que durar mais tempo. Claro que na alimentação não dá para cortar, porque se trata de algo essencial nas nossas vidas. Felizmente, desde que casei e tive o meu filho, sempre fui mais de ficar por casa, mais recatado, pelo que me habituei a ser contido. Por isso, os meus hábitos não se mudaram muito. Mas mesmo assim, se até há bem pouco tempo atrás se conseguia juntar todos os meses algum dinheiro de lado, agora raramente isso acontece”.
"Tenho mudado alguns hábitos de consumo”
Sérgio Afonso, Santa Isabel do Monte:
“Agora é que percebemos bem o que significa apertar o cinto. Hoje em dia, é quase automático pensarmos em poupar, na mais pequena coisa. Para além dos cortes que vamos sentindo, ainda vemos o material escolar e a alimentação das crianças ficarem, cada vez, mais caros. Para mim, que tenho duas filhas pequenas, torna-se muito complicado, levando-me a cortar em muitos outros lados, ou seja, em tudo o que não seja essencial”.
“Para se ter uma ideia, este mês, em apenas uma semana, entre material escolar e alimentação para as minhas duas filhas, já gastei perto de 300 euros. Ora, claro que assim sou obrigado a cortar noutros hábitos. Por exemplo, agora, ao fim de semana, só tomo um café fora de casa, por norma. Corto no que não é essencial, para poder dar o fundamental à minha família. Por isso, noto que tenho mudado alguns hábitos de consumo”.
“Actualmente, é cada vez menor a hipótese que se tem de se ir juntando algum, ao final de cada mês. Antigamente era mais fácil. Sempre tive por hábito ir poupando algum, mas agora está cada vez mais complicado. Há meses em que, simplesmente, não dá para juntar”.
"Sempre me habituei a poupar"
Paula Ferreira, Valdozende
“Os tempos atuais, a mim, não trazem nada de novo, porque sempre me habituei, desde pequena, a poupar. Por isso mesmo, os meus hábitos de consumo também não mudaram significativamente, uma vez que sempre se limitaram ao essencial. Por exemplo, não tenho por hábito tomar café fora de casa”.
“No que diz respeito às compras do dia a dia, não costumo fazer opções entre produtos de marca ou de linha branca, porque frequento as mercearias locais. Sou adepta de dar a ganhar aos da minha terra, aos comerciantes que conheço e não a superfícies cujos donos nem conheço”.
“Em nossa casa, sempre tivemos hábitos de poupança. No entanto, cada vez se junta menos, é um facto, mas também não se gasta tanto.
Depósitos das famílias sobem 541 milhões de euros em setembro e batem mais um máximo histórico
Os depósitos dos particulares voltaram a subir no final de setembro face ao final de agosto em 541 milhões de euros, situando-se em novo máximo histórico de 127.552 milhões de euros, de acordo com dados do Banco de Portugal.
Os dados provisórios mostram que o valor total em depósitos de particulares já acumula subidas mensais consecutivas há um ano, batendo sucessivos máximos históricos.
A última vez que os depósitos diminuíram foi entre agosto e setembro de 2010 e desde ai não pararam mais de subir, de forma mensal.
Comparando com o valor registado no final de setembro de 2010, estavam depositados na conta de particulares no final de setembro deste ano mais 10.693 milhões de euros.
Crédito às empresas sobe em setembro mas não compensa queda dos empréstimos às famílias
O crédito concedido pelos bancos às empresas cresceu em setembro, face ao mês anterior, após dois meses de queda, mas este crescimento foi menor que a queda verificada nos empréstimos às famílias.
De acordo com dados do Banco de Portugal, o crédito total concedido às empresas no final de setembro atingiu os 116.454 milhões de euros, mais 267 milhões de euros que o registado no saldo de final de agosto.
Em sentido contrário esteve o crédito concedido às famílias que apresentou uma contração de 327 milhões de euros, somando já cinco meses de quedas consecutivas, encolhendo 1.503 milhões de euros desde abril.
O crédito concedido às famílias sofreu uma maior diminuição no segmento com destino à compra de habitação, que de agosto para setembro caiu 168 milhões de euros, quase metade do valor total.
O crédito considerado de cobrança duvidosa – o malparado – aumentou tanto no crédito às famílias como às empresas.
No caso das empresas, só de agosto para setembro este valor aumentou 257 milhões de euros, quase o mesmo que aumentou o valor do crédito concedido, e apresenta uma subida de 949 milhões de euros desde junho, situando-se no final de setembro nos 6.729 milhões de euros, o mais alto valor de sempre.
Por sua vez, o malparado entre os créditos concedidos às famílias subiu 44 milhões de euros do final de agosto para o final de setembro, para os 4.561 milhões de euros. Desde o final de março que o malparado nos empréstimos às famílias cresce, acumulando já mais 398 milhões de euros de subida desde essa altura, também para o valor mais elevado de sempre.
Comércio: Queda de 3,7% em Portugal é maior da Europa
Portugal foi em setembro o país da Europa com maior queda no comércio a retalho face a agosto, de 3,7 por cento, enquanto na zona euro caiu 0,7 por cento e na União Europeia 0,3 por cento.
De acordo com o Eurostat, organismo oficial das estatísticas europeias, em termos anuais, comparando setembro com o mesmo mês de 2010, Portugal tem a segunda maior queda, a seguir a Malta (que caiu 7,5 por cento), ao reduzir o comércio a retalho em 6,2 por cento, enquanto na zona euro caiu 1,5 por cento na zona euro e 0,8 por cento na Europa dos 27.
O comércio a retalho caiu em 11 países e aumentou em dez, em termos anuais, sendo as maiores quedas em Malta, Portugal e Espanha (caiu 5,8 por cento) e os maiores aumentos na Lituânia (mais 10,6 por cento), Luxemburgo (mais 8,3 por cento) e na Letónia (mais 8,1 por cento).
Em termos mensais, e para os Estados com dados disponíveis no centro estatístico da União Europeia, o comércio a retalho diminuiu em 11 Estados, aumentou em oito e permaneceu estável na Estónia e Lituânia.
As maiores quedas observaram-se em Portugal (menos 3,7 por cento), Eslovénia (menos 2,1 por cento) e Espanha (menos 1,7 por cento) e os maiores aumentos na Polónia (mais 2,4 por cento), no Reino Unido (mais um por cento) e na Letónia (mais 0,9 por cento).
Baixo poder de compra no Vale do Homem
Os indicadores dos rendimentos per capita e da percentagem do poder de compra evidenciam que o Vale do Homem - assim como o Vale do Cávado e distrito, com exceção para Braga - estão bem abaixo da média nacional. O concelho de Terras de Bouro é o que apresenta piores indicadores no Vale do Homem. Em Vila Verde, os índices de poder de compra estão melhores que em Amares, apesar das posições invertidas nos indicadores per capita.
Indicador per Capita % Poder de Compra Fator Dinamismo Relativo
Portugal 100,00 100,000 -0,179
Norte 87,64 30,859 -0,284
Cávado 82,95 3,229 -0,316
Amares 62,04 0,116 -0,213
Terras de Bouro 52,34 0,036 0,259
Vila Verde 57,83 0,268 -0,120
Braga 105,59 1,759 -0,557
Vila Nova de Famalicão 82,37 1,050 -0,332
Guimarães 79,78 1,219 -0,252
Esposende 77,24 0,259 0,051
Barcelos 67,49 0,790 -0,206
Vizela 65,58 0,152 -0,366
Fafe 64,79 0,326 -0,133
Póvoa de Lanhoso 58,40 0,133 -0,014
Vieira do Minho 55,42 0,073 -0,056
Cabeceiras de Basto 53,12 0,088 -0,029
Celorico de Basto 47,73 0,088 -0,075
*Dados de 2009 - informação INE de 2011
Fonte: terras do Homem, em 24-11-2011

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