“Posto médico funciona muito mal” - quem o diz é o presidente da Junta de Rio Caldo em entrevista publicada hoje, dia 15, no jornal "Terras do Homem."
Este autarca "gostaria de ver respostas das entidades competentes para os problemas da saúde na estrutura instalada em Rio Caldo".
«Enquanto líder de uma lista independente, abraçou um “difícil combate” nas últimas eleições autárquicas, contra um PSD que se mantinha no poder há largos mandatos, e venceu. Com poucos meses de lides políticas, Serafim Alves não se escusou, contudo, a descrever as principais linhas de orientação da sua política para os próximos quatro anos. A instalação, na totalidade da freguesia, da rede de saneamento, com uma posterior melhoria dos acessos no interior da mesma, são a grande meta que quer ver atingida. Depois, sim, há que trabalhar para requalificar as praias fluviais de Rio Caldo, para atrair cada vez mais turismo, uma das principais fontes de riqueza da freguesia.
Terras do Homem: Este é primeiro mandato que cumpre à frente dos destinos da freguesia de Rio Caldo. Quais serão as áreas que privilegiará nestes primeiros quatro anos?
Serafim Alves: Temos várias áreas onde actuar. Desde logo, temos uma intervenção para executar na zona do ‘Tanquinho’, na margem da albufeira, onde queremos construir uma moderna zona de lazer e um parque de manutenção, para garantir, de uma forma sustentada, o progresso do turismo.
Tentaremos melhorar as infra-estruturas que existem, acrescentando novos atractivos para quem nos visita. Lembro-me de uma outra obra que temos previsto, que é a praia fluvial da Barca, dotando-a com casas de banho, pontos de recolha de lixo, aumentando a zona de areal. No fundo, requalificar aquela zona.
Por outro lado, no que toca a transportes públicos, queremos também melhorar as condições das nossas paragens. Colocar novas paragens onde não existem, uma vez que, de inverno, as crianças enquanto esperam pelo autocarro se molham frequentemente.
Além disso, temos tentado encaminhar os casos de famílias carenciadas que vamos tendo conhecimento, para quem de direito, a fim de que possam resolver os seus problemas, nomeadamente a Câmara Municipal e a Segurança Social.
TH: Ao nível de acessos, no interior da freguesia, como se encontra Rio Caldo?
SA: Ainda há muito para fazer. No que toca aos caminhos, ainda há muito para fazer. Por exemplo, há que melhorar, e muito, as condições existentes na Seara de Cima, na Corujeira e em muitas outras zonas. É necessário pavimentar caminhos nessas freguesias.
Esses caminhos ainda estão por melhorar devido, essencialmente, à ausência de saneamento básico. Grande parte da nossa freguesia não tem, ainda, saneamento básico. Não nos adianta estarmos a arranjar caminhos para depois, a quando da colocação do saneamento básico, voltarmos a alagar os mesmos. A única zona que já dispõe de saneamento é a que está próxima da estrada nacional.
TH: Nestes quatro anos contam, então, proceder à instalação da rede de saneamento em toda a freguesia?
SA: Exactamente. Nós queríamos que ficasse tudo concluído já neste mandato. Nós temos conhecimento que a Câmara já assinou ou protocolos com a empresa ‘Águas do Ave’ para a execução dessas obras e, por aquilo que nos disseram, até 2013, tem que ficar tudo ligado. Estou em crer que, neste mandato, se tudo correr bem, ficará tudo instalado. Desta forma, acabaremos com determinadas fossas que são despejadas, por aí, de qualquer maneira e que constituem um perigo para a saúde pública.
TH: A liderança da Câmara Municipal mudou recentemente de protagonistas. Nesta freguesia, também se verificou essa mesma alteração, com a sua eleição para presidente de Junta. Como tem sido o diálogo com o presidente da Câmara?
SA: Para já, não temos que dizer. Até agora temos tido as melhores relações possíveis.
TH: Rio Caldo é uma freguesia que vive muito ligada ao turismo, náutico e religioso. No entanto, trata-se de duas áreas sazonais que, de Inverno, registam uma quebra assinalável. Como ultrapassar essa realidade?
SA: Nomeadamente através da criação de planos de atractividade alternativos. Com a organização de novos eventos, de outras actividades para os períodos mortos. Há que tentar implementar, nesta zona, outras acções para atrair turistas nesse período. Embora nós tenhamos o S. Bento que, ao longo de todo o ano, recebe um número assinalável de turistas, nomeadamente ao fim-de-semana.
Serviços de saúde preocupam
TH: Ao nível da prestação de serviços sociais, entende que Rio Caldo está dotado dos necessários meios para atendimento da população?
SA: Creio que sim. Temos posto médico, farmácia, banco, Cruz Vermelha.
O posto médico, no entanto, é algo que nos preocupa bastante, porque não está a funcionar em condições. Está aberto, mas funciona muito mal. Gostaríamos de alargar o horário de atendimento e até haveria médicos disponíveis para atender fora do horário agora estabelecido.
No entanto, se até existem médicos para alargar o atendimento para lá do horário convencional, escasseiam auxiliares administrativos para os acompanhar. Tínhamos três administrativos. Um reformou-se e não foi substituído. Um outro está de baixa, de momento. Pelo que nos resta um, que não pode, evidentemente, ver alargado o seu horário de trabalho. Ao nível dos médicos, também não é o desejado. Temos dois médicos, mas não estão a tempo inteiro.
Por outro lado, seria, de todo, importante que as pessoas, nomeadamente quem trabalha, pudessem chegar cá, no final do período laboral, e serem atendidas por um médico, evitando assim terem que faltar ao trabalho, para realizarem consultas de rotina. Até porque este posto serve três das freguesias mais populosas do concelho: Valdozende, Vilar da Veiga e Rio Caldo.
TH: E quanto ao prazo de atendimento das pessoas? Os utentes têm médico de família, mas quanto tempo esperam para conseguirem uma consulta?
SA: Esse é, precisamente, outro dos problemas. Uma pessoa marca uma consulta e só passado dois ou três meses é que é atendido. Além disso, não existe um serviço de atendimento de urgências. Temos apenas o hospital de S. Marcos, que está a 40 quilómetros de distância.
Queremos, também neste aspecto, intervir de alguma maneira, para ajudar a melhorar o atendimento aos utentes.
Juntas de freguesia deveriam ter mais autonomia
TH: Uma vez que está agora a principiar o primeiro mandato enquanto presidente da Junta de Freguesia de Rio Caldo, acha que doze anos serão suficientes para executar uma linha de actuação traçada para a freguesia? Concorda com esta limitação de actuação, prevista na lei, a três mandatos?
SA: Penso que sim. Doze anos é o suficiente para traçar uma linha de acção e deixar obra feita. No meu caso, no final gostaria de ver, por exemplo, todas as praias fluviais requalificadas e atractivas, porque penso que poderá ser por aí que passará o futuro desta freguesia, que vive essencialmente do turismo.
Além disso, há a questão do saneamento básico, que entendemos como prioritário para as pessoas da freguesia e que queremos ver alcançada, no final do nosso ciclo. Se, a par disso, conseguirmos trabalhar os caminhos no interior da freguesia, acho que já seria bastante positivo.
Por outro lado, tentaremos também manter activa a equipa de sapadores florestais de que dispomos. Uma vez que o dinheiro que recebemos é muito pouco para manter a equipa de sapadores. As pessoas não sabem os sacrifícios que a Junta faz para manter esta equipa de cinco elementos.
TH: Acha, então, que os poderes dos presidentes de Junta deveriam ser reforçados?
SA: Acima de tudo, penso que as Juntas de freguesia deveriam ter mais autonomia. Isto porque são a entidade que está mais próxima do cidadão e que ausculta, mais atentamente, as suas necessidades. São, claramente, fundamentais.
A maioria das obras que se queira executar numa freguesia está dependente da autarquia, uma vez que sem ovos não se podem fazer omoletes. O orçamento é muito reduzido. No nosso caso, por exemplo, a verba recebida pelo Fundo de Financiamento de Freguesias vai, quase na sua totalidade, para o pagamento dos ordenados dos sapadores, de despesas de secretaria e pagar a um funcionário nosso, que trata das limpezas.
Rio Caldo é uma das portas do concelho, por isso entendo que deveria haver mais investimentos na freguesia, por parte da autarquia, desde que o governo central ajude, claro. Acredito que, com este executivo camarário, poderemos trabalhar nesse sentido.
TH: Se fosse presidente da Câmara, qual seria, então, a primeira medida que tomaria?
SA: Desde logo, dava outras condições às Juntas de freguesia. Lembro-me que há dois mandatos atrás, a Câmara Municipal dava uma determinada verba por cada habitante, a Rio Caldo seria qualquer coisa como 20 mil euros. Era pouco, mas já era algum.
Agora, querendo fazer-se alguma obra na freguesia, tem que se fazer um ofício à Câmara, porque não temos condições para, por nós próprios, realizar seja o que for.
TH: E se fosse primeiro-ministro, qual seria a sua prioridade?
SA: Começaria por colocar os tribunais a funcionar. A justiça é um cancro neste país. Os casos de corrupção são exemplo disso. Demoram sempre muito tempo a serem avaliados.
Lotear terrenos baldios para segurar juventude
TH: E quanto a políticas direccionadas para a juventude? Como evitar uma das realidades mais preocupantes das freguesias de Terras de Bouro, que se prende com a desertificação?
SA: Nesse aspecto queremos também introduzir algumas mudanças, nomeadamente no que concerne às taxas para construção na freguesia, bem como cedendo terrenos baldios a preços bastante atractivos para segurar os jovens por cá.
Temos diversos terrenos baldios que queremos lotear a preços mais reduzidos que o habitual. Queremos também criar uma série de moradias destinadas a habitação social para quem não tenha condições para adquirir casa ao preço que estas andam no mercado.
Nesta freguesia há muita juventude que, por não ter terrenos em seu nome, se quiser construir habitação tem que despender um montante avultado, quer para a aquisição de terreno, quer para a construção da referida residência. Assim sendo, são tentados a ir viver para os concelhos vizinhos ou para Braga.
No entanto, também não poderemos ceder esses terrenos de forma desgovernada, há que, antes de mais, definir bem as dimensões e os limites de cada lote.
Perfil
Serafim Alves, com 42 anos de idade, é casado e tem uma filha. Industrial do sector da madeira, o presidente da Junta de Freguesia de Rio Caldo detém o 8.º ano de escolaridade. Apreciador de um bom bacalhau e do vinho verde da região, Serafim Alves ocupa, sempre que pode, os seus tempos livres em partidas de futebol com os amigos de Rio Caldo e do Gerês. Como destino de férias de sonho, o autarca elege a Madeira, embora o ‘seu’ Rio Caldo seja uma das paragens de eleição.»
Publicado no Jornal "Terras do Homem" - Autor: Terraimagem em 15-04-2010
Sem comentários:
Enviar um comentário