quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Escola nova e as contas de sempre… mais difíceis

Está a arrancar mais um ano lectivo. Para as crianças do Vale do Homem, é um início de ano sob o desígnio das alterações introduzidas nos parques escolares de Vila Verde e Amares e dos tempos difíceis, em termos económicos, para grande parte dos agregados familiares dos três concelhos da região.
Com o agravamento da carga fiscal a pesar sobre as famílias e os cortes consecutivos nos apoios sociais aos encarregados de educação, são cada vez maiores as dificuldades que se colocam a quem aposta na educação dos mais novos.
Por outro lado, as melhorias das condições de aprendizagem são inegáveis, com modernas infra-estruturas equipadas “com material de primeira qualidade”, complementadas por ambientes de maior socialização que preparam as crianças, desde tenra idade, para um mundo cada vez mais globalizado e competitivo.(…)
Terras de Bouro sem alterações desde há dois anos
Num concelho com uma geografia muito própria, como é o caso de Terras de Bouro, este processo de requalificação do parque escolar já se encontra encerrado há mais de dois anos. Nesse âmbito, todas as escolas primárias do Vale do Homem encerraram, tendo as crianças migrado para o Agrupamento de Escolas de Terras de Bouro. No entanto, continuaram em funcionamento alguns jardins-de-infância, nas freguesias de Carvalheira, Chorense e Moimenta. Na zona do Vale do Cávado, por outro lado, continuam a leccionar a EB 1 de Valdozende e as EB1/JI’s de Rio Caldo e Gerês.
Considerando que este processo “trouxe aspectos positivos e negativos” à realidade terrabourense, a vereadora da Câmara Municipal, Liliana Machado aponta a deslocação das crianças e a desertificação das aldeias como “a parte mais negativa de todas estas alterações introduzidas na educação, a nível nacional”. “Causa-me alguma tristeza, enquanto vereadora, ver o concelho de Terras de Bouro sair afectado por esta política que desertifica parte das nossas freguesias”, lamentou.
No entanto, “nem tudo é negro neste novo cenário”. Este processo trouxe “a vantagem dos alunos poderem, actualmente, aprender em instalações novas, muito bem equipadas e onde o convívio entre as crianças é potenciado desde muito cedo”. “As turmas são mais numerosas, tornando as crianças mais sociáveis e preparadas para o que enfrentarão, anos mais tarde”, acredita Liliana Machado.
Escolas transformadas em habitações sociais
Seguindo um princípio ligeiramente daquele que é tomado em Amares ou Vila Verde, as escolas primárias que encerraram no concelho de Terras de Bouro acolhem, não só colectividades daquele município, mas também algumas famílias carenciadas das freguesias em questão.
“Por um lado, temos tentado dar alguma ocupação a estas escolas, cedendo-as gratuitamente a algumas associações. Por outro lado, nalguns casos, procuramos transformá-las em casas de habitação social, que beneficiem famílias carenciadas do concelho”, desvendou a vereadora Liliana Machado.
Trata-se, no entender desta autarca, “uma solução socialmente responsável e com um óptimo propósito” para três escolas que acabam convertidas em apartamentos de tipologia T2. “No caso de algumas escolas, até dá para fazer duas habitações distintas”, assegurou a vereadora terrabourense.
Na execução desta política, a autarquia tenta “evitar os bairros sociais”, como já existe na freguesia de Carvalheira. “Por outro lado, tentamos sempre dar resposta a uma família da freguesia onde é encerrada determinada escola, embora isso nos traga alguns condicionalismos. No entanto, temos sempre tentado respeitar a opinião das populações”, completou Liliana Machado.Pais com mais dificuldades
Quem parece sentir mais dificuldades, no arranque de mais um ano lectivo, são os pais e encarregados de educação do Vale do Homem, afectados pelo desemprego, pelas elevadas cargas fiscais e pela redução de apoios de ordem social.
Em média, um encarregado de educação poderá gastar, por cada filho que tenha em idade escolar, mais de 150 euros em material escolar, só no início de cada ano lectivo, dizendo este montante respeito a livros, uma mochila e material diverso como lápis, borracha, canetas, réguas ou compassos. Nesta conta, não entram materiais como roupa de ginástica, também obrigatória, e materiais para Educação Visual e Tecnológica, como pinturas, cadernos, entre outros.
De acordo com o presidente da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Vila Verde, Jose Raul Perez, “com os novos cortes que os agregados sofreram nos abonos de família e com o aumento do IVA, as coisas estão mais difíceis este ano”. Reconhecendo que “ainda é cedo para tomar o pulso às dificuldades que muitos pais possam vir a sentir”, este responsável garante que “os pais sentem cada vez maiores dificuldades para colocar os seus filhos a estudar”, uma vez que o “Estado comparticipa, cada vez menos, a compra livros ou outros materiais”. Os “livros muito caros”, que “não se podem passar”, a “falta de comparticipação” e o “IVA cada vez mais alto são, então, os principais problemas apontados. Que soluções? “Adoptarem-se políticas que já são seguidas noutros países e que passam pelo empréstimo de livros, por parte do estado, às crianças, fazendo os pais pagarem apenas os livros que fossem devolvidos com danos”, explica Jose Perez, da Associação de Pais do AE de Vila Verde. Por cá, esta instituição ajuda “famílias realmente carenciadas, recorrendo a um fundo” de que dispõe ou, como aconteceu recentemente, criando uma “cooperativa para adquirir material, de boa qualidade, que fica na escola e que é usado por todos os alunos”. “É apenas uma das formas que encontrámos para minorar as dificuldades dos pais e encarregados de educação”, rematou Jose Perez.
Fonte: Terras do Homem, em 15-09-2011

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