“No dia de S. Martinho, mata o teu porco, prova o teu vinho - diz o povinho, lambendo o beicinho”. (adágio popular).
Um elogio às terras do Gerês, às suas tradições e aos seus melhores produtos. Assim foi a Feira de S. Martinho em Terras de Bouro, que nos últimos dois dias atraiu milhares à vila, para degustar a castanha assada, a água-pé e o vinho novo, o mel, as compotas, os licores e uma grande variedade de produtos tipicamente regionais.
Foram dois dias de ‘festa rija’, garantida pela Câmara Municipal de Terras de Bouro, em parceria com as associações locais, para dar cumprimento a uma das suas mais ancestrais tradições: celebrar o São Martinho - um momento de partilha e de convívio que os terrabourenses fazem questão de perpetuar.
Um dos momentos altos da feira foi precisamente a prova e degustação dos melhores produtos produzidos na região do Gerês - que é também uma das sete maravilhas paisagísticas de Portugal.
O mel das terras do Gerês é um dos produtos que está em expansão e segundo um grupo de apicultores terrabourenses o objectivo é torná-lo na “imagem de marca” do concelho.
Manuel Leitão, da Carvalheira, é um dos apicultores do concelho, que juntamente com um grupo de outros produtores está a tentar legalizar a Associação de Apicultores das Serras Ama- rela e do Gerês.
“Esperamos produzir dentro de dois ou três anos entre quatro a cinco toneladas de mel anuais e já o teríamos conseguido, não fosse o incêndio de 2010 que nos destruiu uma parte importante da nossa produção”, sublinhou o apicultor.
“Com esta associação pretendemos fazer do mel o principal produto que caracterize o nosso concelho, mas pretendemos também obter formação para produzirmos o melhor mel do Gerês”, destacou Manuel Leitão, indicando que este é um produto “de grande qualidade, devido, sobretudo, à vegetação existente nas serras, onde consta a urze quiró, que é a base para tornar o nosso mel escuro e espesso, diferente dos demais e muito apreciado e procurado pelos turistas e visitantes”.
A “grande qualidade” dos produtos geresianos está também presente nas compotas da Casa de Emaús, de Chorense, sendo uma das apostas mais recentes desta casa de turismo rural e é já uma das predileções dos seus hóspedes.
Maria Rosalves esteve pela primeira vez na Feira de S. Martinho a promover a iguaria e garante que o balanço “é positivo”. “Todos gostaram das nossas compotas. A de castanha esgotou logo”.
Uma das mais-valias do certame deste ano foi a degustação dos produtos - o que agradou aos visitantes, que depois de provar, não resistiram a comprar.
Desfolhada atraiu muitos turistas
“A Feira de S. Martinho de Terras de Bouro serviu, sobretudo, de palco principal para a promoção dos nossos melhores produtos, que nós queremos valorizar e divulgar ainda mais e demonstrar que o mundo rural tem grandes potencialidades económicas, culturais e turísticas”.
Joaquim Cracel, presidente da Câmara Municipal de Terras de Bouro, traçou um balanço “extremamente positivo” do certame que é, antes de mais, uma tradição ancestral.
“Para além da divulgação e promoção dos nossos melhores produtos e ofertas turísticas, esta feira foi, também, um espaço de demonstração para muitos dos visitantes que a actividade neste sector primário, da agricultura, é, ainda nos dias de hoje, uma forma de subsistência para uma grande parte da nossa população”.
O autarca destaca, por outro lado, que a actividade agrícola, se bem explorada, pode vir a ser o futuro para as gerações mais novas e vindouras - que aqui podem encontrar formas alternativas de sustento e até de empreendedorismo, tirando partido de tudo aquilo que podemos oferecer, quer a nível de produtos endógenos, quer a nível paisagístico, de um ponto de vista turístico”.
A feira propriamente dita fez-se ao sabor das iguarias regionais típicas daquelas serras, mas a festa, essa, foi animada e ao som da tradição, com as rusgas, folclore, corridas de cavalos e, claro está, de um mega magusto e de uma desfolhada tradicional interpretada e recriada pelo Rancho Folclórico da Balança - à qual os presentes e convivas fizeram questão de se juntar, cantando à desgarrada, enquanto desfolhavam o milho no terreiro que enfrenta os paços do concelho.
Ao longo de toda a tarde, e de todo o dia, ao longo de dois dias, a castanha assada e a água-pé acaba de produzir aqueceram o ‘corpo e a alma’ das gentes daquelas paragens, que se garantiram “contentes” por ver que as suas tradições perduraram pelos tempos, até aos dias de hoje, e que para muitos são ainda o pão-nosso de cada dia.
Fonte: Correio do Minho, em 12-11-2012
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